Mina de HQ: revista reúne histórias em quadrinhos feitas só por mulheres
"Muita gente acha que HQ é só narrativa de super-herói ou gibis da Turma da Mônica", afirma a jornalista Gabriela Borges, de 38 anos. Mas as HQs não se resumem à função de entreter crianças e adolescentes: "É um gênero barato e acessível, que pode levar informação e conhecimento à grande parcela da população, incluindo a adulta". Por acreditar no potencial dos quadrinhos e se incomodar com a falta de diversidade no mercado editorial, Gabriela decidiu, há quase 7 anos, criar um projeto para divulgar histórias feitas somente por mulheres. No começo, a curadoria era divulgada apenas em um perfil do Instagram, mas em 2020 a jornalista lançou a primeira edição da revista "Mina de HQ".
Este ano, Gabriela prepara-se para lançar a segunda edição da revista no maior evento de cultura pop do planeta: a Comic Con Experience (CCXP) 2021. O evento acontece neste sábado (4) e domingo (5) em formato online. A seguir, a jornalista relata a história do projeto.
"O mercado de HQs ainda é dominado por homens"
Quando Gabriela precisa explicar o que é "Mina de HQ", ela se refere à revista como um "trabalho independente feminista". Em 2013, após retornar de um mestrado na Argentina, onde estudou temas relacionados ao universo das HQs, a comunicadora decidiu pesquisar sobre as artistas brasileiras que produzem histórias em quadrinhos.
No imaginário popular brasileiro ainda existe a ideia de que quem faz história em quadrinho é homem Gabriela Borges
"O trabalho nasceu da vontade de compartilhar com as pessoas quadrinhos e quadrinistas que eu conhecia. Estava incomodada com o machismo no mercado de HQ e, por isso, tive a ideia de fazer uma seleção através da perspectiva de gênero, para divulgar mais artistas mulheres", conta Gabriela.
Em 2015, ela transformou a pesquisa em projeto. Logo a ideia ganhou nome, espaço e foi chamando atenção não só de artistas, como também do público. No mês passado, na 33a edição do Troféu HQMIX, a maior premiação de quadrinhos do país, a revista "Mina de HQ" foi a grande homenageada especial da noite.
Hoje a revista é produzida com ajuda de um financiamento coletivo e toda a renda é distribuída entre as artistas que contribuem para o projeto. Além da revista e do perfil no Instagram, a "Mina" também distribui conteúdo através de uma newsletter quinzenal e conta com um clube de leituras feminista, o Historietas.
Mesmo assim, ainda há um longo caminho a ser trilhado. "Sim, o mercado está avançando e tem dado mais reconhecimento ao trabalho feito por mulheres, mas não acho que estamos em um nível ideal", comenta a curadora. "Para se ter ideia da disparidade de gênero no mercado, na última edição da Comic Con quase metade dos produtores eram mulheres. Agora eu te pergunto: quantas dessas artistas foram indicadas ao Prêmio Jabuti, por exemplo? Nenhuma!"
Diversidade - e representatividade - nas HQs
Apesar do estereótipo de que histórias em quadrinhos são lidas por crianças, a maior parte do público que consome HQs é formada por adultos. Foram duas novelas gráficas, inclusive, que fizeram Gabriela se apaixonar por este universo: "Persépolis", de Marjane Satrapi, e "Maus", de Art Spiegelman. O primeiro livro fala da Revolução Islâmica no Irã e o segundo, do Holocausto.
Fora isso, é uma área em expansão. De acordo com um estudo realizado pela ICv2 e pela Comichron, a venda de quadrinhos nos EUA e no Canadá aumentou em 6% em 2020 em relação ao resultado do ano anterior.
"Os quadrinhos são feitos para o público adulto. Quando a gente tem diversidade nestas histórias, a gente tem outros olhares para o mundo sendo criados", frisa a jornalista. "A Revista Mina, em especial, é uma forma de provocar o mercado: cadê as mulheres nas HQs, os negros, os trans?"
"Nós, mulheres, sempre existimos nas HQs enquanto personagens, é óbvio. Mas elas são legais? São protagonistas? Sexualizadas? Quando a gente levanta a bandeira da diversidade, no fundo, estamos buscamos representatividade", finaliza.
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