Samara Felippo: 'Amigas perderam papéis ao negar sexo'. Houve assédio?
A atriz Samara Felippo, de 43 anos, fez um desabafo sobre casos de assédio sexual que viveu e presenciou nos bastidores da televisão. "Hoje eu olho para trás e vejo os abusos que passei. Machismo... Coisas que a gente nunca enxergou na época. Vejo amigas que perderam papéis porque não transarem com o diretor", disse ela, durante gravação do podcast "Mais Que 8 Minutos", comandado por Rafinha Bastos.
Samara já participou de novelas tanto na Globo quanto na Record. Na conversa, ela não revelou em que produções os assédios ocorreram. "Teve um lugar [emissora] em que eu tentei conseguir o papel da protagonista e me negaram dizendo que eu não tinha cara de virgem. E virgem tem cara?", questionou a artista.
Isabella Del Monde, advogada especialista em direitos das mulheres e colunista de Universa, explica que a legislação brasileira define como assédio sexual a situação em que se constrange a outra pessoa para obter algum tipo de "vantagem ou favorecimento sexual". Os casos são marcados, também, por uma relação de hierarquia, ou seja, o assediador está um cargo acima da vítima, justamente porque assim pode coagi-la.
Na opinião da especialista, nos casos descritos por Samara foi cometido esse crime, que ocorre com frequência contra mulheres de diversas outras áreas. Um estudo publicado em 2020 e feito pelo LinkedIn, em parceria com a consultoria Think Eva, mostrou que 47% das mulheres já sofreram assédio sexual no trabalho. E, entre as queixas mais frequentes, o primeiro lugar foi justamente para casos de "solicitação de favores sexuais" em troca de manutenção do emprego ou promoção: 92% das mulheres vítimas de assédio disseram ter passado por essa situação específica.
Assédio sexual não precisa ter contato físico
Denunciar agressor para a empresa empresa também é importante
A advogada Del Monde recomenda que, em episódios de assédio, a primeira atitude que a vítima deve tomar é procurar ajuda jurídica para receber orientações legais a respeito do assunto. "Denúncia ao canal de recursos humanos da empresa também é bem importante porque isso pode resultar na responsabilização do assediador, levando até a sua demissão", explica a advogada.
Por se tratar de um crime prescrito no Código Penal, as vítimas de assédio podem, inclusive, fazer boletim de ocorrência para que o episódio seja investigado. Se o crime for comprovado, a detenção para o abusador varia entre um a dois anos.
"Abusador dá a entender que domina, mas é manipulação", diz psicóloga
Para a psicóloga e psicanalista Lais Sellmer, o fato de Samara só ter feito as denúncias de assédio anos mais tarde pode ser explicado pelo "medo" de ser desacreditada.
"Sabemos que a gente vive em um cenário delicado economicamente e muitas mulheres precisam alimentar seus filhos; por isso, às vezes, elas não conseguem enxergar saída a uma situação", comenta a psicóloga, que faz uma orientação para casos como esse: "O abusador vai dar a entender que te domina, mas não é verdade. Ele só está te manipulando."
No nosso país, infelizmente, muitas mulheres ainda são desacreditadas quando fazem uma denúncia dessas - Lais Sellmer, psicóloga e psicanalista
Receber — e fornecer — apoio de amigas e de pessoas próximas também é importante para que a vítima saia de uma situação de abuso. "A cultura do assédio e da culpabilização da mulher está muito inserida no nosso inconsciente coletivo. A dinâmica permeia nossas relações, por isso as mulheres precisam se fortalecer umas às outras".
Fora isso, a profissional também orienta que a vítima de assédio busque ajuda psicológica após o trauma. "Ela precisa entender que a culpa não é dela", finaliza.
Como conseguir ajuda
Mulheres que estejam sofrendo violência de gênero ou conheçam uma vítima que passa por isso podem procurar ajuda por meio do Ligue 180, Central de Atendimento à Mulher, criado pelo governo federal, que dá orientação de especialistas e encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. Funciona em todo o país e no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. Também é possível acionar esse serviço pelo Whatsapp. Neste caso, o telefone é (61) 99656-5008.
Especialistas orientam que, se a violência for sofrida por um funcionário da empresa ou dentro do trabalho, é importante também denunciar o caso para o canla de recursos humanos.
Se a intenção for fazer uma denúncia de assédio sexual na delegacia, é possível registrar um boletim de ocorrência, pois se trata de um crime existente no Código Penal.
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