'Pulei do carro em movimento': passageiras denunciam assédio em app
A denúncia sobre um suposto caso de assédio que teria acontecido dentro de um carro da Uber na última segunda-feira (6), às 22h, próximo ao Shopping Tatuapé, na zona leste de São Paulo, está ganhando repercussão nas redes sociais, assim como publicações semelhantes de outras vítimas.
Segundo a passageira Beatriz Bellinetti, ela e uma amiga estavam retornando para casa depois que o shopping encerrou suas atividades quando solicitaram um veículo no aplicativo de corridas Uber e não desconfiaram do motorista a princípio, mas ele teria feito comentários ameaçadores e ela acabou tendo de pular do veículo em movimento.
"Nós conferimos a placa, a foto, tudo estava igual às informações do app. Além disso o motorista era bem avaliado; não tivemos nenhuma suspeita", conta a passageira de 25 anos em entrevista a Universa.
"No caminho, ele ficou interrompendo a conversa entre mim e a minha amiga com perguntas estranhas, mas achávamos que ele era apenas uma pessoa brincalhona. Depois que ele fez a primeira parada, na casa dela, as coisas foram ficando piores", diz. De acordo com Beatriz, a partir dali o motorista passou a olhar para ela com um semblante estranho, "de desejo": "Ele começou a falar que dentro do carro só estávamos nós e que, se algo acontecesse, seria com os dois. Então pediu para eu fechar a janela".
Beatriz fala que demorou para demonstrar alguma reação, mas quando o motorista começou a acelerar o carro percebeu que algo estava estranho e decidiu ligar para o pai. "Quando liguei para o meu pai, o condutor disse que era para eu avisar a ele que tudo estava bem, 'que uma hora eu ia chegar em casa'. Me desesperei, ele alterou o caminho do GPS, pegou uma ponte estranha, passei a ter ataque de pânico e ameacei pular do carro."
Foi, então, o que Beatriz fez: pulou do veículo em movimento. "Tinha um posto de polícia perto do lugar em que saltei, na Marginal Tietê, mas o policial de plantão disse que eu não poderia fazer nada porque o motorista não tinha tocado em mim. Ele argumentou que violência psicológica não era crime".
A vítima não se machucou com o salto, teve apenas ferimentos leves na costela e no joelho. Ela apresentou uma denúncia formal à Uber, que respondeu por e-mail dizendo estar à disposição da passageira. Agora Beatriz planeja fazer um boletim de ocorrência do caso, que se tornou público depois que a mãe da jovem compartilhou o relato no Twitter.
Outras denúncias
Além da história de Beatriz, outras denúncias de casos de assédio em aplicativos de corrida foram publicadas nas redes sociais recentemente. Em um episódio compartilhado no Twitter, jovens afirmam terem sido dopadas com um veneno que sairia do ar-condicionado do carro, o popular "cheirinho":
Para a especialista em segurança feminina Dra. Maria Luísa Dalla, antes de entrar em um veículo de aplicativo de corrida é importante verificar se o nome do motorista e a placa do carro correspondem às informações fornecidas pelo app. "Muitas plataformas também oferecem a opção de compartilhar a corrida e a opção de ligar para a polícia", lembra.
Dados de uma pesquisa realizada pela agência Patrícia Galvão em 2019 revelaram que 97% das brasileiras já passaram por alguma situação de assédio, físico ou moral, em transporte público, em carros de aplicativos ou táxis. "Antes de tudo o que é mais importante é a informação e a não naturalização da violência", opina Maria Luísa, que é delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Capivari, no estado de São Paulo.
A especialista opina: "É importante que as vítimas saibam se defender em casos de assédio, mas também é importante que elas formalizem essas denúncias, façam boletim de ocorrência; só assim o Estado poderá punir o agressor".
Posicionamento da Uber
Em nota sobre o caso de Beatriz, a assessoria da Uber afirmou que segurança é uma prioridade da empresa e que oferece ferramentas como compartilhamento de localização, gravação de áudio, detecção de linguagem imprópria no chat, botão de ligar para a polícia, entre outras, para deixar "as viagens mais tranquilas". Confira a íntegra do comunicado:
"A Uber repudia qualquer tipo de comportamento abusivo contra mulheres e acredita na importância de combater e denunciar casos de assédio e violência. O motorista parceiro teve sua conta desativada da plataforma e a empresa se coloca à disposição para colaborar com as autoridades no curso das investigações.
A Uber defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro e desde 2018 tem um compromisso de participar ativamente do enfrentamento da violência contra a mulher, materializado em projetos elaborados em parceria com entidades que são referência no assunto, que inclui campanhas contra o assédio, podcast educativo para os parceiros e um canal de suporte psicológico para apoiar vítimas de violência de gênero na plataforma, desenvolvido em parceria com o Me Too, e que será disponibilizado para a usuária."
Quanto às denúncias sobre o "cheirinho", a empresa enviou outra nota:
"A Uber trata todas as denúncias com a máxima seriedade e avalia cada caso individualmente. No entanto, não foi possível apurar o caso relatado já que não há dados disponíveis para checagem e apoio à usuária. O Universa também não nos forneceu nenhuma informação sobre o veículo, a usuária ou o motorista parceiro que permitisse identificá-los para verificar se a ocorrência mencionada se deu em viagem com o aplicativo da Uber.
A empresa permanece com seu canal de ajuda sempre aberto para oferecer suporte e receber denúncias pelo aplicativo e também permanece à disposição das autoridades para colaborar com as investigações, na forma da lei."
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