O que 'feministas liberais' defendem e por que há críticas a elas?
O feminismo tem sido cada vez mais debatido entre as mulheres e vem ganhando força nos últimos anos. Embora pareça único, o movimento pode trazer diversas perspectivas que equiparam os direitos de homens e mulheres, mas com diferentes prioridades. Entre elas está a linha liberal, considerada uma das mais antigas e que surgiu com a britânica Mary Wollstonecraft.
Essa forma de pensar o feminismo busca abrir espaço para a mulher ocupar lugares de poder, como cadeiras em congressos, empresas e posições de CEO. "Era chamado de feminismo igualitário. Ele foi construído por mulheres de classe média e se originou a partir do que elas viviam", explica Isabela Del Monde, advogada, cofundadora da Rede Feminista de Juristas (deFEMDE) e também colunista de Universa.
Contudo, segundo Del Monde, ele não levou em consideração o papel das mulheres negras que trabalhavam há séculos. "Tinha legitimidade. Mas quando pensamos em direito ao voto, por exemplo, não estamos falando de todas as mulheres. Não está relacionado à posição de classe e raça", ressalta.
De acordo com Viviana Santiago, coordenadora de diversidade e inclusão do Instituto Moreira Salles, ele traz questões mais individuais do que coletivas. "Quando pensamos nesse tipo de feminismo, estamos falando de como inserir mulheres nos espaços de poder e como elas estão nesse lugar de liderança. Porém, sem questionar essas posições e não traduzindo questões da desigualdade de gênero."
Como pensam as liberais?
Considerado um "grupo de mulheres", o Lola (Ladies os Liberty Alliance, ou Aliança das Mulheres da Liberdade, em tradução livre) aborda o direito delas sem se denominar um coletivo feminista. A entidade é internacional e no Brasil está presente em 10 estados, com aproximadamente 300 integrantes.
Elas atuam pela formação de líderes femininas e os debates envolvem, principalmente, pautas voltadas a aspectos econômicos e com geração de renda para as mulheres.
Olivia Carneiro, economista e influenciadora digital, faz parte desse grupo e diz que hoje se considera uma liberal, mas não feminista, e sim, simpatizante às causas feministas.
Nem procuro me encaixar nesses padrões. Acho que se perderam no propósito. Não praticaria o aborto, mas defendo a liberdade de escolha, por exemplo. A limitação está no rótulo.
Por ter uma visão voltada a pautas econômicas, ela conta que sofre ataques nas redes sociais diariamente, inclusive de mulheres. Segundo a economista, essas vertentes só afastam ainda mais os movimentos feministas. "No fim das contas é uma briga política. As pessoas defendem agendas políticas."
Na opinião de Carneiro, o feminismo liberal é olhar para o mercado e promover a geração de renda para uma mulher conseguir sair de um relacionamento abusivo, por exemplo.
Feminismo liberal é excludente?
Essa é uma vertente que recebe muitas críticas, principalmente por não levar em conta todos os grupos étnico-raciais. Santiago explica que ele é pouco emancipatório e transformador das condições sociais. "Ele vai transformar a vida de uma mulher sem necessariamente mudar o contexto", afirma.
Nesse sentido, ainda há muitas lacunas nas mudanças em relação à mulher negra, indígena e deficiente. "Faz falta uma inclusão de uma totalidade de mulheres. Acaba priorizando apenas um determinado grupo", opina a especialista.
Mesmo se identificando com pautas liberais, Carneiro concorda que o feminismo liberal também exclui a maioria das mulheres negras e periféricas. "Eu concordo em relação a essa problemática. Não é só fazer campanha, mas acho que devemos pensar como eu, economista mulher, posso ser mais atuante na sociedade e abrir canal para que elas tenham o mesmo espaço que eu."
Já Del Monde pontua que essa linha afasta mulheres negras e pobres do debate, mas ao mesmo tempo pode servir para aproximar outros grupos. "Se a gente só tivesse uma perspectiva liberal do feminismo, mas existem vertentes populares e construídas por mulheres do povo, mulheres com deficiência e povos originários, o que pode ser enriquecedor", conclui.
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