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Alunas e professoras acusam professor de assédio; Unirio afasta docente

O professor Leonardo Ávilla, da Unirio, acusado de assédio sexual e moral por estudantes e pesquisadoras. Ele nega as acusações - Reprodução/TV Globo
O professor Leonardo Ávilla, da Unirio, acusado de assédio sexual e moral por estudantes e pesquisadoras. Ele nega as acusações Imagem: Reprodução/TV Globo

De Universa, em São Paulo

13/12/2021 11h09Atualizada em 13/12/2021 14h25

Um professor de paleontologia da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio) está sendo acusado por dezenas de estudantes e pesquisadores de cometer abusos morais e sexuais contra alunas e professoras. Hoje, a universidade decidiu pelo afastamento do docente "até que o procedimento apuratório aberto e eventuais procedimentos derivados seja totalmente finalizados".

Os casos de assédio foram apresentados ontem no "Fantástico", da TV Globo, e teriam começado em 2007. Pelo menos 23 mulheres contaram ter sofrido abusos e perseguições por Leonardo Ávilla, atual coordenador do laboratório que estuda mamíferos extintos na Unirio.

Segundo as vítimas entrevistadas, Ávilla as assediou sexualmente e moralmente, ao cancelar pesquisas e omitir os nomes de pesquisadoras em artigos publicados como forma de retaliação e ameaçar retirar as bolsas concedidas às estudantes. O advogado do professor nega as acusações.

Em nota, a universidade explicou que o processo administrativo para apuração dos fatos foi aberto no último dia 7 de dezembro, a partir da formalização de denúncia por parte do Diretório Acadêmico Chico Mendes, que representa os alunos dos cursos da área de Ciências Biológicas da Universidade. Ao UOL, a assessoria da Unirio disse que não tinha conhecimento de denúncias antigas contra o professor.

Nos relatos, estudantes dizem ter sido abordadas pelo professor. Em diferentes ocasiões, ele teria pressionado uma aluna contra a parede dizendo estar excitado e colocado a mão de outra aluna em seu órgão genital.

Ao hospedar estudantes na casa em que vive com a companheira, ele também teria assediado uma aluna que, ao acordar, foi surpreendida pelo professor "passando a mão na blusa e nos peitos" dela. Há ainda troca de mensagens e pedidos de fotos íntimas do professor às vítimas.

Cristina Bertoni, ex-professora de paleontologia, que é do Rio Grande do Sul e foi convidada para ministrar aulas por uma semana na Unirio, relatou os assédios do professor em duas ocasiões. Ela é a única das vítimas que se identificou.

"Ele passou a mão na minha perna, na coxa, muito próximo da virilha. E perguntou se eu gostaria de fazer ménage com ele e a companheira", disse. Ela negou. Segundo a professora, a rejeição ao docente fez com que ele excluísse seu nome de um artigo que ela havia ajudado a escrever e que foi publicado depois.

A denúncia começou a ganhar força com ajuda do também paleontólogo Mário Dantas, da UFBA (Universidade Federal da Bahia), que reuniu e publicou os relatos que ouviu, sem citar o nome do professor.

O jornalista americano Michael Balter, que expõe casos de assédio no meio científico, leu os relatos e publicou o nome de Leonardo, pedindo que as vítimas se apresentassem.

O advogado de defesa de Ávilla, Alexsandr Silva, disse ao "Fantástico" que o professor nega todas as acusações.

"Ele nega com veemência as acusações. No decorrer da vida acadêmica dele ele se relacionou com pessoas, isso faz parte do comportamento humano, normal, e é por isso que a nossa espécie progrediu e etc. Mas ele nunca utilizou a posição dele para obter vantagem sexual contra qualquer tipo de aluno ou mesmo abuso ainda que moral contra qualquer aluno homem", disse Silva.

"Todo o relacionamento humano, desde que consensual e em comum acordo entre ambas as partes, é normal", acrescentou ele.

Outros pesquisadores estão ajudando as alunas na acusação contra o professor. A advogada Tathiana Costa, que representa as vítimas, disse que está reunindo as provas para apresentar uma denúncia ao Ministério Público.

A violência sexual contra a mulher no Brasil

No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.

Como denunciar violência sexual

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.