Ex-top model brasileira: "Mudei de vida e não sinto saudades da fama"
Aos 73 anos, a ex-top model Maria Stella Splendore vive há mais de 18 anos na Fazenda Nova Gokula, a maior comunidade Hare Krishna da América Latina, na cidade de Pindamonhangaba, cerca de 150 km da capital paulista.
Celebridade na década de 60, a então modelo alcançou a fama brilhando nas passarelas com as roupas de um dos costureiros mais famosos do Brasil e que depois virou o seu marido: Dener. Hoje, longe dos holofotes e afastada da moda, ela leva uma vida bem mais simples no campo.
Em sua autobiografia "Sri Splendore", lançada em 2008, ela relata ter tido um breve romance com o cantor Roberto Carlos enquanto ainda era casada com Dener. Os dois teriam se conhecido nos bastidores do programa da Hebe Camargo.
Em seu livro, a ex-modelo afirma ter dúvidas sobre a paternidade de sua segunda filha, Maria Leopoldina. A relação com Roberto Carlos teria começado quando estava grávida do primeiro filho, e há rumores que a música "Namoradinha de um amigo meu", gravada em 1966, foi feita em homenagem a ela. A Universa, ela não quis comentar o assunto. "Tudo que precisa ser dito eu já disse no meu livro."
Na entrevista a seguir, a ex-modelo conta como foi alçada à fama aos 16 anos de idade, o casamento precoce com Dener, a vida de celebridade nos anos 60 e o encontro com a religião a partir da década de 80.
UNIVERSA - Como você se tornou a primeira top model brasileira?
Maria Stella Splendore - Passei a minha infância em São Paulo. Nasci em uma família privilegiada, muito religiosa, rica e simples. Estudei em colégios de freira e fazia um curso na época chamado de "Espera Marido". A gente aprendia a bordar e outras coisas desse tipo. Nessa fase, já com 15 para 16 anos, eu conheci uma amiga cuja mãe trabalhava com o costureiro Dener. E o estilista havia comentado com ela que estava para fazer um grande desfile, mas sentia falta de uma modelo diferente e mais jovem. Foi quando ela lembrou de mim e disse que eu era o perfil que ele precisava. Eu falei: " Ah, mas meus pais não vão deixar eu desfilar". Até porque naquela época eu tinha 16 anos, mas foi quando eu o conheci e logo me casei.
Você pediu autorização para os seus pais para fazer seu primeiro desfile?
Não, não. Naquela época as coisas eram muito mais difíceis do que hoje em dia, né? Logicamente uma carreira de modelo também, e como minha mãe me levava para todos os lugares, ela quis ir conhecer o ateliê do Dener primeiro para depois falar com meu pai. Então fomos até o ateliê dele na Avenida Paulista, em São Paulo. Me lembro daquela rua enorme, aquelas propriedades grandes e chovia muito. Minha mãe ia estacionar o carro e fui correndo entrar no ateliê toda molhada. Quando eu entrei, ele estava agachado me esperando, mas eu nunca o tinha visto pessoalmente. Ele apenas disse: "Você é perfeita". Em alguns segundos nós trocamos olhares, e parecia que já nos conhecíamos de outra vida. Eu não imaginava ele tão bonito, tão jovem, porque eu o conheci por foto, por revistas, ele já era bem famoso nessa época. O desfile aconteceu e eu fui a modelo principal, com um vestido de noiva. Foi a sensação de toda a imprensa. Esse desfile foi poucos meses depois de termos nos conhecido. Ao final dele, naquela parte que o estilista entra com as modelos, ele beijou a minha mão e perguntou: " Quer casar comigo"? . Foi aí que começou a história da minha vida, bem intensa e rápida demais.
Como seus pais ficaram sabendo da notícia?
Me lembro que, quando o desfile acabou, logo pensei que meu pai iria descobrir tudo no dia seguinte. Liguei pro Dener e disse que meu pai iria ler a notícia no jornal logo cedo e que eu não iria segurar isso sozinha. Era um acontecimento grande em São Paulo, e no dia do desfile eu me lembro do Dener me pegar no braço, por a mão atrás de mim e todo mundo queria saber quem eu era. Ele apenas respondeu: "É a minha noiva". Isso foi em abril de 1965, e pouco tempo depois, em agosto, no dia do meu aniversário, eu me casei com ele.
Como foi se casar tão jovem e já se tornando a primeira top model brasileira?
Papai ficou muito magoado com amigos e parentes que achavam uma loucura aquele casamento. Mas cumpriu sua palavra, e me levou ao altar. Em 9 de agosto de 1965, no dia do meu aniversário, entrei na Igreja do Carmo de véu e grinalda, cercada de uma multidão de mais de cinco mil pessoas, entre convidados de todo o país, fãs, seguranças e imprensa. Era tanta gente, que eu não conseguia nem ao menos descer do carro, porque o povo queria me ver e estar perto de mim. As pessoas chegaram a invadir o meu casamento de tanta gente que tinha lá querendo presenciar um dos eventos mais famosos na época. Estava toda a imprensa lá. O casamento foi transmitido na época pela TV Record, que era a rede de TV mais importante na época, passou no Brasil inteiro, ao vivo e em preto e branco.
Como você lidou com a fama repentina?
Eu perdi completamente a minha privacidade e não estava preparada pra ter a minha vida invadida. A vida social era muito intensa e isso afetava o meu relacionamento com o Dener. Afetava a minha própria natureza porque eu era muito reservada e nessa época da fama eu não tinha amigas. Eu não era uma pessoa social, entende? Não tinha traquejo social e aquilo me cansava porque não era uma vez por semana, nem duas. Era todos os dias, todas as noites porque o Dener era o personagem principal no palco, a vida dele era o próprio palco, entendeu? E ele tinha as clientes, ele fazia as roupas, ele ia nas recepções, nós íamos dormir às oito da manhã. Então minha vida virou do avesso e, junto com isso, eu fiquei grávida. Eu acompanhava, mas não bebia, nunca bebi. Então chegava uma hora que eu queria ir embora pra casa e aquilo já não tinha mais graça. Ele já era inserido nesse ambiente, mas eu não. Então aquilo foi desgastando o meu relacionamento com ele, e ele não ia mudar. Foi bastante difícil, eu era muito menina.
Como lidou com a maternidade sendo tão jovem e tendo conciliar com a vida de modelo?
Fui empurrada para a profissão de modelo. Eu tinha que conciliar a carreira de modelo, maternidade e ser a esposa de um estilista famoso. Acabou que, durante muito tempo, eu não tinha tanta convivência com meus filhos, porque eu tinha três babás, viajava muito, ia dormir muito tarde, acordava muito tarde. Eu sempre acompanhava o Dener. Não deveríamos ter tido filhos tão cedo. Porque nós tínhamos toda uma agenda, tanto que o Dener ficou sabendo que o seu primeiro filho tinha nascido em um alto-falante do aeroporto.
Você se arrepende de ter entrado nessa vida glamourosa, cercada de famosos?
Hoje não. Há quarenta anos faço parte do movimento Hare Khrisna, eu segui um caminho bem diferente de toda essa história. Mas estou te contando como foi porque eu acho importante, faz parte da história do Brasil, da televisão e da imprensa.
Como você conheceu o cantor Roberto Carlos?
Esse assunto eu não quero falar mais, porque já saiu muito na mídia, tudo que precisa ser dito eu já disse no meu livro autobiográfico "Sri Splendore", que lancei em 2008.
Você chegou a se separar de Dener para morar fora do Brasil. Como foi a experiência e por que voltou ao Brasil?
Foram os meses mais sofridos e difíceis que vivi. Dener sentia minha tristeza no ar e eu estava bastante confusa. Então, depois do terceiro aniversário do Frederico Augusto, e do segundo de Maria Leopoldina, resolvi me separar. Tivemos uma separação amigável e, como eu queria ir embora do país, Dener só disse que colocaria uma cláusula que eu não poderia tirar as crianças do Brasil. Fui buscar uma nova vida, me lembro que fiz 21 em Paris, então eu estava no auge. Paris foi muito legal, frequentei lugares maravilhosos, foi tudo muito bonito. Foram muitas viagens pela Europa inteira, muitas festas e encontros incríveis que marcaram a minha vida. Enquanto isso eu ainda estampava capas de revistas no Brasil e desfilava lá fora. Foram quase 20 anos fora do país. Eu voltei por causa da família e logo depois me casei novamente. No total, tive quatro casamentos. Tenho dois filhos e cinco netos.
Como você entrou em contato com o movimento Krishna?
Conheci o movimento da consciência de Krishna em 1981, em São Paulo, através de um amigo meu radialista. Fui ao templo e vi que as respostas que eu procurava sobre a existência de Deus eu poderia encontrar ali. Em 1982, aos 33 anos de idade, fui iniciada na vida espiritual. Entre os anos de 1985 e 1999, vivi no exterior como missionária. Desde 6 de abril de 2004, tenho vivido em um lugar muito especial, considero sagrado. A fazenda onde eu moro é um local de peregrinação espiritual e turismo ecológico. Temos um templo onde, há 27 anos, Deus tem sido servido. Considerada um dos lugares mais bonitos deste planeta. A fazenda Nova Gokula é uma pequena aldeia védica e uma das reservas da Mata Atlântica, onde existem 24 nascentes. Moro à beira de um rio de água cristalina, numa belíssima mansão cor-de-rosa de quatro andares.
Você sente falta de alguma coisa?
Tenho tudo que preciso. Minha filha mora perto, em Taubaté, tenho netos e estou no meio da mata atlântica. Vou dormir umas 19h e sempre acordo às 2h00 para fazer o meu ritual de meditação, depois começo a arrumar a casa. Tenho a companhia de amigos aqui da comunidade, seguidores da religião e visitantes. Tudo aconteceu muito cedo na minha vida: casei cedo, tive filhos cedo, fiquei viúva e perdi meu filho cedo. Hoje sou uma pessoa feliz pelo que tenho.
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