Marina Sena: 'Com a fama eu lido bem, o que me abala são os haters'

A agenda de Marina Sena está lotada de shows e compromissos. A cantora de 25 anos não sabe o que é descansar desde que seu single "Por supuesto" viralizou no TikTok —"O tempo todo tem um 'trem' pra fazer", conta a mineira em entrevista exclusiva à reportagem de Universa, que a acompanhou em uma apresentação no festival de música brasileira Primavera, Te Amo, no último sábado (11) em São Paulo.

Sem dúvidas, ela é a sensação do momento. Na última semana, "Por supuesto" conquistou o título de Single de Platina —a faixa, só no Spotify, já tem mais de 30 milhões de reproduções. Ainda na semana passada, Marina foi a vencedora da categoria Artista Revelação de 2021 no Prêmio Multishow e também levou para casa os troféus de Capa do Ano e Experimente.

Relacionadas

Paula Lima quer inspirar pessoas a buscarem "o caminho do bem"

Tiê: 'Na pandemia, fiquei instável, mas precisava alimentar minhas filhas'

Day, de Casamento às Cegas: 'Levei o que aconteceu no reality pra terapia'

A vitória de Marina, contudo, não agradou aos fãs dos outros indicados ao Prêmio de Artista Revelação. No Twitter, uma série de críticas foram feitas à cantora, principalmente por seguidores de João Gomes, cantor de forró eletrônico que concorria à mesma categoria. "Não fico assustada com a fama, mas às vezes sinto que cacei muita sarna para coçar", pontua a cantora sobre as polêmicas.

No Twitter, ela escreveu um desabafo: "Ser mulher na música é foda". Nesta segunda (13), haters derrubaram o perfil da cantora no Instagram. No final do dia, a página, com mais de 300 mil seguidores, já tinha voltado ao ar. "O que estão fazendo comigo é bullying", posicionou-se, sobre os ataques.

Fora das redes, a artista sofre com a pressão. Durante a entrevista a Universa, ela compartilhou: "Antes daqui estava chorando com os comentários que escreveram sobre mim". Passamos algumas horas ao lado de Marina para entender por que a artista incomoda tanta gente.

'Com a fama eu lido bem; com hater, não'

O bate-papo com Marina aconteceu depois do show no Superlounge, na região do Brás. No camarim, queijo minas, requeijão em barra e pão de queijo esperavam a cantora. Do lado de fora, cerca de 2 mil fãs aguardavam a artista subir ao palco do festival.

No momento em que as luzes se apagaram, um coro chamando o nome da cantora ecoou pelo espaço. "Com a fama eu lido bem; o que me abala é hater", comenta quando questionada sobre a velocidade com que sua carreira avança.

Antes de lançar o EP "De primeira", em agosto de 2021, álbum que traz o hit "Por supuesto" e impulsionou a carreira solo da mineira, Marina foi vocalista da banda "Rosa Neon" e do grupo "Outra Banda da Lua". Decidiu seguir sozinha, porque "banda dá muito trabalho". Ser cantora, porém, nem sempre esteve nos seus planos.

"Comecei a cantar profissionalmente aos 18 anos, já mais velha. Foi só depois que passei pela primeira seletiva do programa 'The Voice' que achei que valia a pena me dedicar à música", diz. Antes de investir na carreira artística, trabalhava com a mãe em uma boutique de lingerie em Taiobeiras, município no norte de Minas Gerais com cerca de 30 mil habitantes onde a cantora nasceu.

Há 7 anos, pisou no palco pela primeira vez em Montes Claros, cidade vizinha a Taiobeiras. Quando fez o primeiro show, conta, percebeu que era aquilo que queria fazer pelo resto da vida. "Fora do palco eu era tímida, mas quando subi no palco fiquei desinibida, nem eu sabia que era tão expressiva."

De lá para cá, mudanças não faltaram na vida da artista. As críticas, porém, continuam as mesmas. "Minha carreira sempre foi assim; sou cercada de gente que me ama e de gente que me odeia."

Lá em Montes Claros já diziam que eu era muito sexualizada, que minha voz era chata, aguda —esses são os mesmos comentários que ouço até hoje. Às vezes, quando vejo a fama que conquistei, acho que devia ter ficado lá no interior vendendo calcinha. Penso que seria mais feliz.

'Nunca consegui nada por ser bonitinha'

Marina relaciona muito das críticas que recebe ao machismo. "Nunca consegui nada na vida por ser bonitinha, sempre foi por causa do meu talento. Se a pessoa diz que eu só consegui chegar aonde eu cheguei pela minha beleza, ela não tem ideia do que eu passei. Nunca recebi investimento, nunca ninguém apostou em mim. Eu mesma que construí a Marina Sena que vocês veem no palco hoje", desabafa.

Quem convive com a artista há muito tempo concorda. Sasá Ferreira, maquiador e amigo íntimo de Marina, acompanha a carreira da artista desde o início. "Ela sempre batalhou muito. Quando chegou em Montes Claros, não tinha grana para almoçar e a gente que levava comida para ela. Quem critica não sabe os perrengues que ela já passou para estar onde está", confidencia.

"Sasá levou marmita para mim um milhão de vezes. Quando olho para trás e vejo o que passei, acho essas críticas muito 'paias'. Dizem mais sobre os haters do que sobre mim", pontua Marina. No Twitter, depois do Prêmio Multishow, o nome de Marina Sena logo foi parar nos trending topics; o gênero, a classe e até a raça da cantora foram atacados.

"Eu tenho noção de que se você é branca é cercada de privilégios. Principalmente no Brasil. Mas não é meu caso. Eu acho que posso, sim, ter privilégios por ser branca, só que eu não acho que cheguei aonde cheguei só por causa da minha cor", defende-se.

Por causa de sua agenda lotada de compromissos, a artista parou a terapia, uma das únicas atividades que fazia em seu tempo livre —hoje aproveita a folga dormindo e fazendo aula de dança. "Eu parei a terapia, mas agora eu vou ter de voltar, né?", ironiza.

'Minha voz foi motivo de piada'

"Nunca foi fácil para mim, mas sempre agi como se fosse", comenta, quando o assunto são as críticas à sua voz, que já virou motivo de piadas e memes. "É claro que a voz do ao vivo não é a mesma do estúdio. Mas a música é minha, então eu canto do jeito que eu quiser e foda-se. Se você acha que não está bom, crie e componha a sua própria música. Eu vou fazer o que eu quiser. Eu que fiz, é meu projeto. Faço o que eu quiser, se eu quiser acabar com tudo, eu acabo."

Para dar conta de tamanha pressão, Marina recebe o apoio de amigos e do namorado, Iuri Rio Branco, que também é baixista e produtor musical da banda. Ao final do show, a artista atende fãs, conversa com a equipe e, em seguida, pula no colo do músico, com quem está há um ano. "Nossa relação é maravilhosa, melhor impossível. Ele me respeita muito, se eu falar que não, é não; se eu falar que sim, é sim. Ele não me contesta", conta a Universa.

'Meio Rosalía, meio Anitta'

A maior parte da equipe de Marina é formada por amigos. O próprio Sasá é exemplo disso. Ele, que está ao lado da amiga desde os tempos de Minas Gerais, relembra que a primeira vez em que tentou maquiá-la, a artista lavou o rosto logo em seguida. "Ela nunca usou muita make, o cabelo sempre foi natural. Estamos ainda entendendo o que ela gosta de vestir, o que fica confortável para a Marina artista."

"Ela gosta dessa aparência caliente, sabe? Uma pegada meio Rosalía, meio Anitta", fala Sasá. Para o beauty stylist da "gostosa do momento", o diferencial da amiga sempre esteve em sua naturalidade. "Lá em Montes Claros ela já era um sex symbol pra mim."

Se antes a artista recusava-se a usar maquiagem, hoje a mineira recebe patrocínio de uma marca nacional de cosméticos, a Quem disse, Berenice?. Foi também na semana passada, antes do Prêmio Multishow, que Marina resolveu comprar o primeiro perfume de sua vida. "Tomei vergonha na cara; antes não tinha dinheiro para comprar um perfume caro."

Esses dias encontrei o vídeo da minha primeira aparição em um programa de TV; foi em um emissora local, um canal de Montes Claros. Estava descalça, cabelo bagunçado e sem nenhuma base na cara. Muito diferente da Marina de hoje.

Com certeza a Marina de Taiobeiras não é a mesma mulher que hoje rebola sensualmente na frente de 2 mil pessoas enquanto canta uma letra sobre masturbação ("Me toca", faixa do álbum "De primeira"). "Antes minha autoestima era um lixo, me achava a pessoa mais feia do mundo. Depois que subi no palco, tudo mudou. Quando decidi ser artista, me posicionei de outra forma, como a mulher gata, gostosa e interessante que sou."

Para a mineira, essa mudança foi simples: "Ser sensual é ser natural, ficar confortável dentro do próprio corpo. Se você está confortável dentro do seu próprio corpo, você fica automaticamente gostosa. Se você está bem com quem você é, isso te deixa sensual".

Antes de deixar o camarim, uma amiga grita uma expressão para a artista: "Avisa que a Marina tá on!". Mesmo com perfil derrubado, ataque de haters e comentários de ódio, com sua sensualidade natural, inspirada em Gal Costa e Sônia Braga, Marina continua "ON".