Shantal só percebeu violência obstétrica quando viu filmagem, diz advogado
Assim como acontece com vítimas de outros tipos de violência, quem sofre violência obstétrica pode levar um tempo para entender as agressões ocorridas na hora do parto. Foi o que aconteceu com a influenciadora Shantal Verdelho, de acordo com seu advogado, Sergei Cobra Arbex.
"O despertar dela [para a violência obstétrica] foi quando assistiu os vídeos que o marido gravou na hora do parto. Ela se sentiu muito mal, o marido também passou mal vendo aquela humilhação sem ter conseguido reagir", afirmou o advogado em entrevista a Universa.
Shantal deu à luz há três meses sua segunda filha, Domênica, por meio de um parto normal, realizado pelo ginecologista Renato Kalil. Em áudio vazado nas redes sociais, ela afirma que imagens gravadas pelo marido na hora do parto mostram o médico proferindo uma série de xingamentos, como "viadinha", "mimada" e "faz força, porra".
Pouco depois do parto, a influenciadora fez uma publicação dizendo que o momento foi "emocionante" e sem demonstrar qualquer tipo de desconforto em relação ao ginecologista. Entretanto, segundo o advogado dela, Shantal se deu conta de que tinha sido vítima de violência obstétrica pouco tempo depois, quando assistiu à filmagem do parto.
Médico nega
Procurado por Universa, o ginecologista Renato Kalil negou, por meio de sua assessoria de imprensa, que tenha acontecido qualquer intercorrência durante o parto de Shantal. Ele afirma, ainda, que o vídeo em questão foi editado e está fora de contexto: "A íntegra do vídeo mostra que não há irregularidade ou postura inapropriada durante o procedimento", diz a nota.
De acordo com a ginecologista e obstetra Gabriela Bezerra, que concedeu entrevista no domingo (12) a Universa, é bastante comum entre as vítimas de violência obstétrica sair do parto com uma sensação boa. Isso acontece porque "o ginecologista é visto como um médico da família, uma vez que participa da vida da mulher no longo prazo", explica. "Muitas mulheres depositam ampla confiança nos profissionais e nem consideram a possibilidade de serem traídas ou desrespeitadas por alguém tão íntimo".
Além disso, também existe a carga emocional da reta final da gravidez. "A pessoa está focada no nascimento, prestes a completar a linha de chegada. Quando finalmente atravessa esse desafio, pode chegar lá destruída, mas celebra o fato de ter conseguido", completa a médica.
"A violência que ela passou é aterrorizante", disse o advogado de Shatal Verdelho. "Ela está com o psicológico abalado e se resguardando. Ela quer retomar a vida normal, mas por hora ela está muito fragilizada", falou.
Novas denúncias
Desde o final de semana, quando o caso veio à tona, pelo menos outras cinco mulheres, entre elas, outras influenciadoras, vieram a público denunciar situações semelhantes que envolvem Renato Kalil. As acusações vão de descaso e afirmações machistas durante a consulta até violência psicológica e assédio sexual.
O advogado da influenciadora conta que ela não pretendia tornar o caso público — o que só aconteceu porque áudios seus, enviados como um alerta a um grupo de outras mães, vazaram e foram parar nas redes sociais.
"O primeiro sentimento foi de muita tristeza por conta da filha, medo que ela ficasse marcada por isso. Mas agora está vendo que não está sozinha e que, sem querer, está alertando para um problema de saúde pública", diz o advogado.
Boletim de ocorrência e investigação
Shantal então decidiu formalizar a denúncia e prestar boletim de ocorrência, para que o caso seja investigado pela polícia. "Ela se assustou com o número de pessoas que endossaram a denúncia contra o médico", conta o advogado.
"Esse caso chama atenção porque é um médico famoso e uma paciente conhecida, mas qualquer pessoa anônima tem direito de denunciar", alerta. "Quando as pessoas veem que uma pessoa como a Shantal fez a denúncia formal, se colocando perante a Justiça, isso pode despertar nelas a coragem de se pronunciar sobre casos semelhantes ou até mais graves."
Segundo a influenciadora, o ginecologista "fez birra" por ela ter negado se submeter a uma episiotomia — um corte entre o períneo e a vagina, cuja utilidade vem sendo questionada entre a comunidade médica. "Tem vídeo dele me rasgando com a mão", fala a influenciadora, nos áudios.
"Estamos diante de duas situações. A primeira são as ofensas, que estão muito claras no vídeo e assustam bastante, porque são muito ofensivas. A segunda é a lesão, que deve levar mais tempo para ser apurada, vai depender de laudos e exames. A Shantal quer que isso seja investigado da forma correta, para entender se ela foi de fato prejudicada com uma laceração na vagina", explica advogado da influenciadora.
A investigação corre sob sigilo e Shantal deve prestar seu primeiro depoimento na próxima semana.
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