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Delegado é afastado após ligar morte de mãe e filha à roupa que elas usavam

Mattheus Miranda

Colaboração para Universa, em Salvador

16/12/2021 13h34Atualizada em 16/12/2021 15h39

O delegado responsável pela investigação da morte de mãe e filha em Guanambi (BA), foi afastado do caso após dar declarações que insinuaram que elas tiveram culpa pelo duplo homicídio. Ele foi alvo de protestos de moradores e parentes de Alcione Malheiros Teixeira Ribeiro, de 42 anos, e Ana Júlia Teixeira Fernandes, de 16, cujos corpos foram encontrados em um riacho, ao afirmar que as roupas das vítimas acabaram "chamando a atenção" do suspeito.

Em uma entrevista para jornalistas locais, na terça-feira (14), o delegado Rhudson Barcelos afirmou que o crime não foi planejado com antecedência e que o suspeito preso as seguiu após vê-las em roupas de academia.

"Pelo que ficou subentendido e a gente apurou até o momento, não houve premeditação desse crime. Ele não tinha a intenção de praticar o estupro específico com as vítimas. Foi uma questão de coincidência, quando ele saiu do trabalho, por volta do meio-dia, ele, andando pela avenida Governador Nilo Coelho, se deparou com as duas, com aquelas roupas de malhação, de caminhada, obviamente chamando atenção", disse o delegado, aos jornalistas.

bahia - Reprodução/Facebook e Reprodução de vídeo - Reprodução/Facebook e Reprodução de vídeo
Imagem: Reprodução/Facebook e Reprodução de vídeo

"Ele disse que daí começou a ter desejo sexual de as estuprar e as seguiu. Passou por elas, estacionou e ficou esperando", acrescentou Rhudson.

O delegado foi o responsável por coordenar a operação que resultou na prisão de Marco Aurélio da Silva, de 36 anos, suspeito de ter assassinado mãe e filha, encontradas mortas em um riacho. Segundo a polícia, ele confessou os crimes.

Alcione e a filha foram atacadas com um tijolo enquanto caminhavam até um sítio da família. As vítimas foram enterradas na terça-feira (14).

Procurado pelo UOL, o delegado Rhudson Barcelos afirmou preferir não comentar sobre o afastamento. Em nota, a Polícia Civil afirmou que se trata de uma decisão administrativa e que isso ocorre sempre que julgado pertinente.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, o inquérito passa a ser presidido pelo titular da Delegacia Territorial de Guanambi, Giancarlo Giovane Soares.

Além do protesto realizado por mulheres na frente da delegacia na noite de terça-feira (14), outra manifestação está marcada para ocorrer no sábado (18).

Procuradoria Especial da Mulher, Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados da Bahia e familiares das vítimas estão convocando a população para uma passeata em defesa das mulheres vítimas de violência e combate ao machismo.

A violência sexual contra a mulher no Brasil

No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.

Como denunciar violência sexual

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.