Delegado é afastado após ligar morte de mãe e filha à roupa que elas usavam
O delegado responsável pela investigação da morte de mãe e filha em Guanambi (BA), foi afastado do caso após dar declarações que insinuaram que elas tiveram culpa pelo duplo homicídio. Ele foi alvo de protestos de moradores e parentes de Alcione Malheiros Teixeira Ribeiro, de 42 anos, e Ana Júlia Teixeira Fernandes, de 16, cujos corpos foram encontrados em um riacho, ao afirmar que as roupas das vítimas acabaram "chamando a atenção" do suspeito.
Em uma entrevista para jornalistas locais, na terça-feira (14), o delegado Rhudson Barcelos afirmou que o crime não foi planejado com antecedência e que o suspeito preso as seguiu após vê-las em roupas de academia.
"Pelo que ficou subentendido e a gente apurou até o momento, não houve premeditação desse crime. Ele não tinha a intenção de praticar o estupro específico com as vítimas. Foi uma questão de coincidência, quando ele saiu do trabalho, por volta do meio-dia, ele, andando pela avenida Governador Nilo Coelho, se deparou com as duas, com aquelas roupas de malhação, de caminhada, obviamente chamando atenção", disse o delegado, aos jornalistas.
"Ele disse que daí começou a ter desejo sexual de as estuprar e as seguiu. Passou por elas, estacionou e ficou esperando", acrescentou Rhudson.
O delegado foi o responsável por coordenar a operação que resultou na prisão de Marco Aurélio da Silva, de 36 anos, suspeito de ter assassinado mãe e filha, encontradas mortas em um riacho. Segundo a polícia, ele confessou os crimes.
Alcione e a filha foram atacadas com um tijolo enquanto caminhavam até um sítio da família. As vítimas foram enterradas na terça-feira (14).
Procurado pelo UOL, o delegado Rhudson Barcelos afirmou preferir não comentar sobre o afastamento. Em nota, a Polícia Civil afirmou que se trata de uma decisão administrativa e que isso ocorre sempre que julgado pertinente.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, o inquérito passa a ser presidido pelo titular da Delegacia Territorial de Guanambi, Giancarlo Giovane Soares.
Além do protesto realizado por mulheres na frente da delegacia na noite de terça-feira (14), outra manifestação está marcada para ocorrer no sábado (18).
Procuradoria Especial da Mulher, Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados da Bahia e familiares das vítimas estão convocando a população para uma passeata em defesa das mulheres vítimas de violência e combate ao machismo.
A violência sexual contra a mulher no Brasil
No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.
Como denunciar violência sexual
Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.
Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.
Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.