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Mulheres acusam o médico Renato Kalil de assédio sexual e moral

Do UOL, São Paulo

19/12/2021 23h41Atualizada em 20/12/2021 13h27

Violência obstétrica, assédio moral e abuso sexual. Na última semana, surgiram novas denúncias de mulheres contra o ginecologista e obstetra Renato Kalil por violências no consultório ou durante partos.

Pessoas que trabalharam com o médico ou no mesmo ambiente que ele também falaram sobre o comportamento com pacientes. Os relatos foram feitos ao programa Fantástico, da TV Globo.

O nome de Renato Kalil foi primeiramente relacionado a um caso de violência obstétrica após vazarem áudios da influenciadora Shantal Verdelho narrando a conduta do médico no parto de sua segunda filha, Domênica. Ela deu à luz em setembro deste ano e só percebeu a situação quando viu filmagens do momento.

Por meio de nota, enviada ao programa da Globo por sua assessoria de imprensa, o ginecologista e obstetra disse que "jamais recebeu nenhum tipo de reclamação no CRM ou em qualquer hospital". Afirmou, também, que nunca teve a intenção de "ofender ou magoar qualquer pessoa, em especial suas pacientes". O médico também pediu desculpas "se alguém se sentiu ofendido".

Abusos sexuais e psicológicos

Uma mulher, que falou exclusivamente com o Fantástico, contou que foi a uma consulta com Kalil após indicações de uma pessoa próxima que fazia com o médico tratamento para engravidar. No consultório, o ginecologista disse que ela tinha "um corpo muito bonito" e fez perguntas sobre a vida sexual dela.

"[Perguntou] se eu tinha relação sexual com mulheres, e eu falei que sim e que eu sou bissexual. Aí ele começou num papo de falar de uma fantasia que ele tinha. E eu comecei a me sentir muito constrangida", relata.

Outra paciente, que preferiu não se identificar, o acusou de gordofobia e quebra de sigilo. Renato Kalil teria feito comentários sobre outras pacientes com ela, citando nomes inclusive de famosas. "Eu sei de histórias de artistas, de blogueiras. Ele é muito antiético", definiu.

Já uma ex-funcionária contou ter sofrido abusos dentro da casa dele. Segundo ela, Renato Kalil pedia que ela "tocasse nele", além de forçar relações sexuais. Esses momentos foram definidos por ela como "a coisa mais difícil da minha vida". "Para mim ele é um doente", disse.

Outras duas pacientes também fizeram relatos contra a conduta do médico na última semana. A jornalista britânica Samantha Pearson disse que Kalil a assediou moralmente ao sugerir que ela precisava emagrecer, caso contrário o marido a trairia. Após essa consulta, ela não voltou mais ao consultório dele.

O obstetra também foi denunciado por um abuso sexual que teria sido cometido em 1991, pela bancária Letícia Domingues, de 48 anos. A mulher tinha medo de denunciá-lo, até ver as acusações feitas por Shantal e Samantha.

Os relatos encorajaram Letícia a falar publicamente e prestar queixa dos abusos sofridos durante um procedimento ginecológico na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Segundo a paciente, ela acordava com o médico em cima dela, que não tinha forças para falar ou gritar.

"Desde o primeiro dia eu estava deitada, sonolenta. Eu acordei com ele em cima de mim, com o pênis dele na minha boca. A minha camisola estava aberta e com a outra mão ele passava no meu peito. Ele acabou ejaculando na minha cara", conta.

A fotógrafa de partos Fernanda Sophia disse que os partos com o médico Renato Kalil foram os mais violentos e agressivos que ela já presenciou. Segundo a profissional, o obstetra é "extremamente arrogante" e foi "extremamente agressivo" com as gestantes.

"Eu sentia como se eu tivesse compactuando com aquilo, porque a minha vontade era gritar e falar 'não, pelo amor de Deus'", disse.

Denúncias de Shantal

Em um áudio que circulou pela internet, Shantal relata não conseguir assistir ao vídeo do parto, realizado por Renato Kalil. Segundo ela, o médico a teria xingado por várias vezes.

"Ele me xinga o parto inteiro. Ele fala 'p*rra, faz força, p*rra, filha da mãe. Viadinha, ela não faz força direito, que ódio. Não se mexe, p*rra", relata.

Uma parte do vídeo, que também foi vazado, mostra o médico utiliza algumas das expressões citadas por ela. Ao que Shantal responde: "Eu tô fazendo [força]. Sou a maior interessada nisso".

Segundo a influenciadora, o ginecologista e obstetra a tratou assim porque ela se recusou a passar pela episiotomia - uma incisão na região do períneo para facilitar a passagem do bebê, que só é recomendada em casos de risco. Shantal afirmou que o médico a "rasgou com a mão" e disse ao marido dela, ao fim do parto, que a mulher estava "toda arrebentada" e teria precisaria de "um monte de pontos" na sua região íntima.

À Universa, a assessoria de imprensa do obstetra negou que tenha acontecido qualquer intercorrência durante o parto. Por meio de nota, afirmou também que o vídeo foi editado e está fora de contexto.

"A íntegra do vídeo mostra que não há irregularidade ou postura inapropriada durante o procedimento", diz a nota.

Alguns dias depois, Shantal registrou um boletim de ocorrência no 27º Distrito Policial, na Zona Sul de São Paulo, contra o ginecologista e obstetra. A influenciadora também explicou que solicitou sigilo na investigação "para que seja preservada sua vida pessoal e todo constrangimento que são consequentes destes fatos".