'Grávidos': trisal que começou como amizade celebra família crescendo
A história desta família de seis integrantes começa com a realização do sonho de um casal. O gerente financeiro Marcel Mira, 38 anos, e a dona de casa Priscila Machado Correa de Mira, 37, se conheceram quando trabalhavam em um supermercado. Namoraram e, em 2002, se casaram. Criada na Congregação Cristã no Brasil, igreja pentecostal, ela se unia a seu primeiro e único amor. Ele entrou para a rotina religiosa depois do casamento.
Em Pinhalzinho, interior de São Paulo, os dois tiveram duas filhas, hoje com 14 e 9 anos. O tamanho da família era o desejado, tanto que ele fez uma vasectomia para que a companheira não engravidasse mais.
Mas os planos mudaram depois. O amor, dizem, fez caber mais gente na configuração quando a então amiga de trabalho de Priscila, Regiane Gabarra, de 32 anos, se apaixonou por ela e vice-versa. Assim como se apaixonou por Marcel. E ele por... Bom, você entendeu: eles têm um relacionamento a três.
Grávida de cinco meses, Regiane, que hoje trabalha como perita de serviço social do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, está à espera de Pierre. O bebê será registrado com o nome dos três na certidão de nascimento. Um irmão dela, de 17 anos, completa o núcleo familiar.
Entre preconceitos da própria família, tabus e sessões de terapia, o trio divide suas experiências como trisal nas redes sociais e contou, para Universa, como uma amizade se transformou em paixão.
'Tem uma menina gente boa lá no trabalho'
"Marcel foi meu único namorado e estamos juntos desde 2002. Tivemos duas filhas, construímos sonhos e planos juntos. Uma família tradicional. Depois da segunda gestação, conversamos e ele fez uma vasectomia porque eu não queria mais engravidar. Vida que segue.
Em 2017, a Regiane entrou na entidade filantrópica em que eu era coordenadora. Ela tinha uma história de vida de perdas, cuidava do irmão menor, e eu vi que ela precisava de ajuda emocional e de companheirismo. Foi quando viramos uma família: ela, eu, Marcel, as crianças.
Depois de um ano de amizade, comecei a perceber um sentimento por ela. Nunca tinha sentido vontade de beijar nenhuma das minhas amigas e me questionava por que com ela era diferente
Não falava nada para ninguém, orei muito, porque, pela minha criação religiosa, aquilo era coisa do capeta. Pedia uma resposta para Deus e não vinha.
No final de 2018, quando completávamos 13 anos de casados, sugeri para o Marcel um programa diferente. Em vez de jantar e ir para um motel, queria ir numa balada liberal. E comentei que, se lá tivesse uma menina a fim de ficar com a gente, ficaríamos."
'Uma mulher no meio de um casal é perigoso'
"Fomos pedir sugestões de lugares para a Regiane, que era solteira. Ela falou que seria perigoso uma mulher no nosso casamento, que poderia destruí-lo. Então desistimos da ideia. Mas eu comentei que aquilo seria uma aventura... Foi quando comecei a dar indiretas para ela.
Um dia, decidimos ir os três para a balada. No banheiro, ela me beijou. Falou para eu contar para o Marcel e ele me perguntou se eu tinha gostado. Se eu gostei? Estamos há três anos com ela. Naquele dia, ficamos juntos."
Confusão e dificuldade para aceitar: 'Nunca fiquei com outra mulher'
"Assim como a Priscila, nunca tinha ficado com outra mulher", conta Regiane. "Tinha aquele sonho da Disney, de casar de vestido branco, ter a família com um príncipe. Tive que fazer muita terapia para desconstruir isso, porque me apaixonei por ela e pelo Marcel."
No começo, o preconceito com a situação era meu. Contava para algumas pessoas esperando ouvir que estava errada. Só que minhas amigas me apoiavam, diziam que nunca tinham me visto tão feliz com eles. Eu amo os dois.
Priscila conta que sofreu para se adaptar ao amor a três. Ela também não teve apoio da família para a nova configuração de relacionamento. "Foi uma confusão muito grande na minha cabeça, mas já estava completamente apaixonada por Regiane, e Marcel por ela, e ela por nós. Então, passamos a pesquisar e vimos que não era só fetiche. Vimos o que era poliamor, que não somos os únicos no mundo."
'Ninguém é casado no papel. O que nos une é o respeito'
"Sou mais reservado que elas, mas as pessoas do meu círculo de convívio sempre trataram com respeito nosso relacionamento e dizem que eu não mudei: sou o mesmo casado com uma ou com duas. Sei que há um condicionamento social e, para nós, homens, tudo é mais fácil.
O que tem entre nós é respeito. Somos um pai e duas mães. Quando Regiane chegou, eu e Priscila nos divorciamos para que ela não se sentisse uma 'terceira'. Isso a incomodava, mas não é um documento que vai medir o que a gente sente.
As pessoas veem quinze segundos da nossa vida e querem determinar se a gente é feliz ou não. Além do Instagram, temos o TikTok. No vídeo em que revelamos que o bebê é um menino, li muitos comentários de que 'Uma tá sobrando' ou 'Ele gosta mais de uma'. Não fomento essas mensagens, mas me abalam."
Gravidez de Regiane: 'Sonho dela virou nosso também'
Priscila não queria ter outra gravidez. Marcel fez uma vasectomia. E como ficava o plano de Regiane de ter um bebê? Ela decidiu abrir o jogo com os parceiros.
"A afinidade que tenho com eles é de outras vidas. Mas queria ter um filho e achava estranho ser por fertilização in vitro. Até que fui desfazendo os tabus sobre isso e, depois de conseguirem coletar os espermatozoides do Marcel, engravidei. Estou no quinto mês de gestação e os dois que escolheram o nome do bebê. Será Pierre porque o pai chamava a Priscila de 'Pi' e eu tenho o 'Re', de Regiane."
O trio e as crianças estão ansiosos pela vinda do menino. "Conversamos para não programar tanto as coisas, se não fico muito ansiosa. Talvez marque uma cesárea e deixe para Deus decidir que horas ele vai vir ao mundo." O trisal criou um perfil no Instagram (@trisal_amoraocubo) para compartilhar a experiência de relacionamento e a gravidez a três: "Nosso lema é: por mais amor no mundo!".
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