Andréia Horta: 'Peitinho pra cima? Pra mim, a beleza está na maturidade'
Andréia Horta rompe padrões no horário nobre da televisão brasileira. No papel de Lara, na novela "Um Lugar ao Sol", da TV Globo, a atriz mineira dá vida à "mocinha que não quer ser mãe".
"Meu desejo com a Lara é que as mulheres possam passear pelo campo da não-maternidade, que elas vejam que não ser mãe também é uma escolha", declarou Andréia em entrevista a Universa. "Por que não perguntam para o homem se ele quer ser pai? E quando? E como? Só o corpo feminino é de interesse público?", questiona a atriz, que também não é mãe e detesta responder perguntas a respeito do tema.
Além de participar da novela das 9, Andréia grava uma série sobre a vida dos cantores sertanejos Chitãozinho e Xororó para a Globoplay e finaliza episódios de seu programa "O País do Cinema", no Canal Brasil.
"No Natal e no Réveillon, eu vou dar uma respirada, pelo amor de Deus", brinca a artista que, aos 38 anos de idade, está em paz com o espelho ("Cada uma tem a cara e o corpo que tem") e com o tempo ("Linda é a novinha de peito pra cima? Sério, gente?!").
Na entrevista a seguir, a atriz fala sobre carreira, etarismo, beleza e amor.
UNIVERSA — Lara é a mocinha que não quer ser mãe. Que impacto a personagem pode ter numa sociedade que prega a obrigação da maternidade?
Andréia Horta — Não consigo dizer qual é o impacto, mas meu desejo é que as mulheres possam passear pelo campo da não-maternidade. A maternidade é um assunto que, se você não parar para pensar, você trata como algo compulsório, obrigatório. A ideia de não ter um filho não surge como possibilidade. A Lara nem defende isso como um tema, como uma bandeira. Ela apenas não deseja ser mãe biológica, mas ela já é mãe. Ela tem uma natureza materna forte, possui uma relação de cuidado com a avó e com a enteada.
É raro que perguntem ao homem artista se ele quer ser pai, mas para a mulher famosa essa é uma questão recorrente. Você já se cansou de responder à pergunta?
Sim, eu cansei. Muitas vezes eu falo sobre o meu trabalho e desviam o caminho do bate-papo para questões intimas. Com os homens, isso não acontece. Só com as mulheres, como se nosso corpo fosse de interesse público. Não perguntam para um homem se ele quer ou não ter filho, quando ou como.
Além da mocinha que não quer ser mãe, "Um Lugar ao Sol" está quebrando vários estereótipos femininos, entre eles o de que a mulher não se masturba. Como exibir cenas de uma mulher se tocando em horário nobre pode ajudar a romper tabus em torno da sexualidade feminina?
Tomara, né, gente? Estamos em 2021. Acho que a novela faz um trabalho muito importante na nossa sociedade. Nós, brasileiros, somos os maiores produtores e consumidores de novela do mundo. Ela representa várias questões da nossa sociedade que precisam ser discutidas. A novela traz consigo espelhos da sociedade. A Lícia Manzo (autora de 'Um Lugar ao Sol') estrutura as personagens femininas com uma profundidade e uma delicadeza importantes. Todas elas, cada uma a seu modo, estão sentindo coisas diferentes, mas são sempre questões pertinentes à mulher contemporânea.
Você está fazendo uma série na Globoplay em que interpreta a mãe do Chitãozinho e Xororó. Pode nos contar mais sobre esse papel?
É uma série sobre a vida e o início da carreira do Chitãozinho e Xororó. Eu interpreto a mãe deles, a Dona Araci. Uma mulher que enfrentou muitas dificuldades financeiras para criar essas crianças, que gostava muito de cantar, teve muitos filhos e uma vida muito dura. Uma personagem muito bonita. Assim que acabou a gravação da novela, eu emendei direto com o meu programa no Canal Brasil, "O País do Cinema". Então acabou a novela, eu comecei a nova temporada do programa, acabou a nova temporada do programa, eu comecei a série. Agora vou tirar um tempinho para descansar no Natal e no Réveillon, pelo amor de Deus.
Você se separou recentemente do ator Marco Gonçalves. Como foi segurar a barra do fim de um casamento em plena pandemia, num período tão corrido profissionalmente?
Foi muito difícil. A gente tem que se cuidar muito por causa do trabalho, atuar é trabalhar com emoções e sentimentos o tempo todo. Essa é minha vida, esse é meu ganha-pão. Quando você está em cena, coloca o seu emocional, o seu corpo, o seu racional inteiro ali e é com esse corpo e essa cabeça que você também vive sua vida íntima.
Como fez para não ter uma crise de burnout em meio a tantas mudanças?
Você precisa ficar firme, se cuidar muito bem. Como eu sou uma pessoa pública, o tempo todo revisitam este tema [do fim do casamento], só que, para mim, existe uma fronteira clara entre o público e o privado e essas fronteiras precisam ser respeitadas. Tem coisas que vamos falar publicamente. Outras, não.
Quando você e Marco terminaram, você publicou uma foto com ele dizendo que seriam amigos dali pra frente. Essa amizade é verdadeira?
[Risadas] É verdadeira, sim. Amor é um elo e tanto. A relação amorosa tomou outro rumo, mas nossa amizade super se mantém. Nem sempre dá para ser amigo do ex, há casos e casos. Por exemplo, algumas vezes as pessoas demoram tanto para sair de um relacionamento que, quando saem, já não é possível construir uma amizade. Elas estão muito machucadas. Se você perceber a hora de sair, faça isso com a intenção de preservar o que há de bonito ali.
Existe a ideia de que não é possível que você continue amigo do ex, tanto é que vira uma surpresa quando isso acontece. Para mim não faz sentido romper a amizade. A gente aprende tanto amando.
Você tem medo de envelhecer?
Ainda não tenho medo, não. Aliás, não troco a Andréia de 38 anos pela de 20 nem a pau. É tão sem fundamento essa pressão, né? Porque uma mulher mais vivida, mais sábia e mais inteligente deveria ser valorizada. O lindo é só a novinha, bonitinha, de peitinho pra cima? Gente... sério?
Uma mulher que está em plena condição profissional, que está madura com seus sentimentos, com suas decisões, que é dona da própria vida, independente e feliz não precisa ter medo de nada
Essa pressão para que a mulher não envelheça parece mais um medo de que a gente evolua. Querem diminuir o poder da gente. Não gosto dessa pressão, não me interesso por ela.
Em algum momento duvidaram da sua capacidade profissional por causa da sua aparência? Já disseram que você só chegou aonde está porque é bonita?
Nunca sofri essas críticas até porque não acho que eu seja bonita. Aliás, já perdi trabalhos por não ser a bonita. No começo de carreira, inclusive, tinha muita acne, tenho dentinho torto. Sempre ganhei teste na raça, a beleza nunca me ajudou em nada. Eu atuo desde muito nova e "fazer cena" sempre me garantiu trabalho. Foram os personagens que eu fui fazendo, do jeito que eu fui fazendo, que me trouxeram até aqui, construíram o meu caminho.
Você está satisfeita com a sua aparência?
Eu me acho bonitinha. Não me olho no espelho e digo: "Caralho, que linda". É uma chatice essa cobrança de que as pessoas têm que ser lindas. Cada uma tem a cara que tem, o corpo que tem. Eu mesma nunca fiz dieta. Uma vez uma jornalista me perguntou se eu pensava em emagrecer. Falei: "Não, você acha que eu preciso?". Para mim, os padrões estão aí para serem quebrados. Ser artista é também sobre causar dissenso. Minha vontade enquanto atriz é questionar padrões, é fazer com que as pessoas se emocionem com meus personagens, que elas escutem o que falamos em cena.
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