Como Raissa Barbosa: por que é difícil falar sobre aborto espontâneo?
A modelo Raissa Barbosa, que participou do reality show "A Fazenda" em 2020, contou aos seguidores na madrugada deste domingo (2) que sofreu um aborto espontâneo. Em um texto de desabafo, escreveu que descobriu a gravidez no dia 10 de julho do ano passado e contou a novidade apenas para a mãe e para algumas amigas. No entanto, depois de passar por uma situação de estresse, ouviu dos médicos que o coração do feto não batia mais.
"Foi a pior sensação da minha vida saber que ele estava lá dentro de mim, mas sem vida. Sofri e sofro calada há meses, porque não podia contar para ninguém. Infelizmente nem todo mundo que está aqui [nas redes sociais] gosta de mim ou torce. Por isso não contei antes", escreveu. Ela ainda revelou que só compartilhou a notícia por que uma pessoa próxima tentou vazar a informação.
De acordo com psicólogas entrevistadas por Universa, a dificuldade em falar sobre a perda gestacional é comum entre as mulheres, mesmo entre aquelas que não trabalham com a imagem, como é o caso de Raissa. Entenda a seguir os motivos.
Aborto espontâneo gera sensação de culpa
A psicóloga perinatal Juliana Juliatti explica que, independentemente de a gestação ter sido programada ou não, as mulheres costumam sentir impotência, vazio e tristeza depois de sofrerem um aborto espontâneo. "Desde a confirmação do resultado positivo, são geradas expectativas com relação à chegada do bebê. Muitas não entendem exatamente por que a gravidez não evoluiu e se sentem culpadas", afirma.
Elisa Rosa Vieira Costa também é psicóloga e conta que já passou por duas perdas gestacionais. Além dos sentimentos listados acima, ela relembra que podem surgir também inveja de outras mulheres que estão à espera de um bebê, além de raiva. "Muitas pacientes sentem como se tivessem sido impossibilitadas de realizar um sonho por causa do corpo. Pensam que não capazes de gerar uma vida e que nunca irão conseguir", pontua.
Falar só é difícil porque a sociedade não quer escutar
Elisa afirma que a dificuldade em falar sobre a experiência vem do fato de o luto gestacional não ser reconhecido pela sociedade.
Principalmente nos casos em que a perda acontece no início da gestação, ninguém chega a ver o corpo. Então para muitos não existe o peso da morte e, consequentemente, do luto. Por causa disso, quem passou pela perda também pode não se permitir vivenciar a dor, passar pelo sofrimento". Elisa Rosa Vieira, psicóloga
A profissional diz que a maneira como vivenciamos nossas dores não deveria ser algo ditado socialmente. "Em caso de morte, por exemplo, o esperado é que a pessoa chore durante a despedida do ente querido, caso contrário é como se ela não tivesse sentido de verdade a perda", cita. Justamente por esse fato, as mulheres passam pela dificuldade de contar para os amigos e a família, pelo medo de não ser acolhida por eles.
O melhor consolo é a presença
Para Juliana, a falta de entendimento coletivo em lidar com o acontecimento é muito prejudicial para as mulheres. "O ideal seria que todos permitissem que elas expressassem suas dores por meio da fala ou do choro, quantas vezes quiserem. Para ajudar, não é preciso dizer nada, apenas se mostrar presente", afirma.
Ela ainda chama atenção para frases que devem ser evitadas ao tentar consolar uma mulher que passou pela experiência. "Não ajuda em nada dizer: 'Você é jovem, logo vai ter outro', 'Ainda bem que foi logo no início', 'Já pensou se nasce com algum problema?' ou outras frases do tipo", alerta.
Para Elisa, esse tipo de comentário é comum porque falar sobre o luto ainda é um tabu. "As pessoas não gostam e têm dificuldade em lidar com a dor do outro. Elas nunca vão amenizar a dor, só o desconforto delas próprias em lidar com a situação", diz.
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