Única brasileira em 'Rebelde': 'Rebeldia é olhar no espelho e gostar de si'
Giovanna Grigio é a única brasileira no remake feito pela Netflix de "Rebelde", que estreia na quarta-feira (5). Entre 2004 e 2006, "Rebelde" foi um verdadeiro fenômeno internacional de sucesso entre crianças e adolescentes. No Brasil, exibida pelo SBT, não foi diferente: os atores e integrantes da trama eram idolatrados pelo público brasileiro.
Na nova versão, Giovanna interpretará Emília, uma personagem de destaque dentro da trama que se passa nos corredores do "Elite Way School". Na produção, jovens tentam se tornar novos fenômenos musicais enquanto lidam com os dramas e dilemas da adolescência. "Estou mais do que animada, estou anestesiada de ansiedade", conta a artista em entrevista concedida a Universa um mês antes do lançamento da série.
Apesar de não ter acompanhado o auge do sucesso da novela, já que a mãe não deixava a filha de 6 anos assistir ao programa por ser muito pequena, Giovanna espera que o remake ganhe tanta repercussão quanto o original, mas diz ainda não estar pronta para ser "mega famosa".
"Mesmo tendo seis milhões de seguidores no Instagram, eu não sei lidar muito bem com a fama", comenta a artista, que já atuou em atrações como Chiquititas (SBT) e Malhação (Globo) — ela interpretou Samantha, personagem LGBTQIA+ na edição "Viva a Diferença" da novela global.
Para ela, ser rebelde, principalmente quando se trata dos padrões de beleza que a sociedade exige da mulher, dá trabalho e requer ousadia. É por isso que, no Instagram, a jovem usa seu perfil para falar sobre aceitação e autoestima, publicando fotos sem filtro onde exibe a pele sem maquiagem e com acnes.
Confira a íntegra da entrevista com a nova "RBD".
UNIVERSA - Você já fez uma personagem que questionava padrões ao interpretar Samantha em "Malhação". Emília, de Rebelde, tem algo parecido com ela?
Giovana Grigio - Não podemos esperar a mesma coisa, porque elas não são a mesma pessoa. Elas têm algumas coisas em comum, como a relação com a música, mas eu acho que a gente pode esperar da Emília uma personagem muito determinada, focada e com sonhos. Não quero dar spoilers sobre a série, mas dá para esperar uma história de bastante intensidade.
Na sua opinião, o que é ser rebelde para uma mulher na sociedade atual?
É ter a ousadia de ser bonita para você mesma. Não existe regras do tipo 'não pode usar isso', 'meninas gordas não podem usar listra', 'meninas baixas não podem usar colorblock'. Se você gosta de algo, use.
É uma rebeldia danada se olhar no espelho e gostar de você independente do que a sociedade diz que é certo ou errado.
É difícil ser rebelde, dá trabalho. Eu me considero rebelde quando eu coloco uma roupinha que eu me sinta muito gata — mesmo que minha roupinha seja um pouco esquisita — e não presto atenção nos comentários dos outros.
A Emília é feminista?
Acho que sim. Na verdade, todas as mulheres da série são alinhadas com os pensamentos do feminismo. A série toca no assunto de uma maneira orgânica, tem personagens mais machistas do que outros, mas nós do elenco tomamos o cuidado para deixar toda a história menos sexista. Se nos deparávamos com uma fala machista, trocávamos a abordagem, porque a gente acredita que hoje em dia isso não cabe mais, a não ser que traga um debate que enriqueça a história.
Além de estudar espanhol, como você se preparou para o papel?
Tive bastante tempo de aula de canto, e para mim isso foi essencial porque eu não me considero uma cantora, preciso de ajuda profissional nesse sentido. Tive aula de piano também. Para construir a personalidade dela, me preparei tentando imaginar o que a Emília gosta, os artistas que ela escuta etc. Minha vivência no México me ajudou bastante, minhas experiências pessoais e referências artísticas foram o que mais me ajudaram.
"Rebelde" foi uma verdadeira febre no Brasil. As crianças tinham roupas dos personagens, brincavam de ser integrantes da banda RBD. Você assistiu à novela original? Fez parte dessa febre?
Assisti a pouca coisa porque minha mãe não deixava. Ela achava a trama inapropriada para minha idade, porque em 2004 eu tinha 6 anos. Sempre que assistia a "Rebelde", era escondida, na casa da minha prima. Minha personagem favorita era a Lupita [vivida pela atriz Maite Perroni]. Normalmente as pessoas gostam mais da Mia e da Roberta. Mas se fosse para eu escolher a personagem que gostaria de interpretar na produção original, escolheria a Mia. Imagino que ela seja uma personagem legal de ser construída.
Qual é sua expectativa para o remake da novela? Acha que fará tanto sucesso quanto a versão original?
Acompanhei o sucesso deles, foi realmente uma febre. O que aconteceu com eles naquele momento foi muito especial, porém algo particular daquele momento. O sucesso, as turnês, acho que se for acontecer algo com a gente do novo elenco, não vai ser igual.
Caso o remake faça sucesso, não acho que viveremos a mesma experiência que o elenco original — pode ser um sucesso diferente, que ainda não conhecemos, estamos em outra fase, agora tem as redes sociais. Não faço ideia do que será isso.
Já conseguiu se imaginar fazendo tanto sucesso quanto os integrantes da primeira versão de "Rebelde" fizeram?
Não sei se estou preparada para uma mega fama, sabia? Às vezes, acho que vou fazer muito sucesso e logo em seguida penso 'mas será que eu vou?'. Mesmo tendo seis milhões de seguidores no Instagram eu não sei desenvolver muito bem essa questão. Foi muito interessante o período que passei no México porque me reconectei com um anonimato que eu não tinha há quase dez anos. Foi interessante saber o que é isso. De verdade, só espero que as pessoas amem a série, porque eu amo a Emília e amo "Rebelde". Se as pessoas se conectaram de coração com ela, já fico feliz.
Qual a mensagem principal da nova versão de "Rebelde"?
'Rebelde' fala sobre a liberdade de ser quem você é, sobre amor nas mais diversas formas — de amigo, de paixão, pela arte. A música é o fio condutor da história, traz questionamento sobre a humanidade e a imperfeição das pessoas, acho que é mais ou menos isso. Coisas que podem tocar o coração do público e fazer com que as pessoas se identifiquem.
Séries famosas como "Sex and the City" lançaram, recentemente, spin offs e remakes com o cuidado de incluir personagens LGBTQIA+ e negros no elenco, uma vez que as versões antigas dessas produções foram criticadas pela falta de diversidade. Com "Rebelde" aconteceu a mesma coisa?
Hoje em dia não faz mais sentido falar sobre juventude se não falar sobre esses assuntos, sem falar sobre LGBTQIA+. Se a gente está tentando falar sobre a realidade das pessoas, tocar na vida delas, tem que abordar o tema.
Os tempos são outros, são outros desafios. Legal que a gente use esse universo amado que é o de "Rebelde" para mostrar o que os jovens e adolescentes estão fazendo, o que eles querem, com o que eles sonham.
No Instagram, você publica fotos e selfies sem maquiagem, mostrando a pele natural. Como você lida com essa questão da pressão estética?
Ainda me sinto pressionada por padrões estéticos. Acho que não tem muita escapatória, principalmente hoje em dia com a internet, com as redes sociais. Tem dias que me olho no espelho, vejo as espinhas que tenho na cara e me sinto horrível. A gente acaba criando um padrão de beleza que não existe. O que me ajuda a lidar com isso, no Instagram, por exemplo, é seguir pessoas que se parecem comigo de alguma maneira.
Tenho problema de acne, gosto de seguir meninas que também têm, que me inspiram, que eu acho lindas, afinal de contas, se elas são lindas com acne, por que eu não posso ser? Falta bastante coisa para eu estar 100% bem, mas dá pra ficar 100% bem? Acho que essa é uma luta constante.
Não tem um dia que eu não me critique de alguma maneira — e olha que eu tenho uma relação bem trabalhada com meu corpo
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