J.K. Rowling, de Harry Potter, é transfóbica? Por que usam termo com autora
A escritora J.K Rowling foi novamente acusada de ser transfóbica em comentários nas redes sociais. O nome da autora e da saga de Harry Potter voltou aos trending topics tanto por suas falas quanto pelo lançamento de "De Volta a Hogwarts", especial que comemora 20 anos da saga, disponível na HBO Max desde o começo da semana.
A britânica tem dado opiniões sobre pessoas transgêneros desde 2019. No Twitter, ela disse que o termo "pessoas que menstruam" usado em um texto deveria ser trocado por "mulheres" — sendo que há homens trans que menstruam e mulheres trans que não menstruam. Para ativistas LGBTQIA+ e pessoas aliadas, o momento é oportuno para ensinar: o que é transfobia e por que incomoda tanto que se use "pessoas que menstruam" e outras expressões de linguagem neutra em textos da internet?
É quente o debate sobre o quanto a postura da autora interfere na paixão dos fãs pela história do bruxo de Howgarts. Há quem diga que não é possível consumir mais o conteúdo de Potter em meio a tantas polêmicas causadas por J.K. Rowling. Outros acreditam que a memória afetiva ligada aos filmes e livros vale mais. Uma escola britânica decidiu tirar o nome da escritora que batizava um dos prédios usado pelos alunos depois dos enunciados da escritora.
O que é transfobia e quais são seus impactos
A transfobia promove a exclusão desse grupo de pessoas, e vai além do ataque físico e/ou com palavras direcionadas a elas. É o que explica a psicóloga Petra Grünheidt, mulher trans e especialista em terapia comportamental pela USP. "Assim como racismo, misoginia e homofobia não se tratam só de violências físicas, a transfobia se refere a todo comportamento que de alguma forma promove exclusão baseada em características de alguém", afirma.
"As formas mais pesadas são violências físicas. Pessoas trans também são expulsas de casa, somos muitas vezes excluídas de vagas de emprego, recebemos olhares de estranheza em lugares públicos. Por fim, somos extremamente sexualizadas e excluídas do lugar de afeto." Proibir uma pessoa trans de usar o banheiro masculino ou feminino, criticar as mudanças corporais e os procedimentos de afirmação de gênero feitos por ela, e atacá-la em sua área de atuação, como na política, também são atitudes transfóbicas.
Por que J.K Rowling é acusada de ser transfóbica?
Na declaração de J.K Rowling, no Twitter, ela rebateu o fato de uma mensagem de opinião do site de desenvolvimento global Devex, "Criando um mundo mais igualitário pós-covid-19 para pessoas que menstruam", não ter colocado a palavra "mulheres" no lugar.
O comentário foi interpretado como transfóbico por usuários da rede social. Aqui, cabe definição: transfobia é a conduta baseada em preconceito contra pessoas transgêneros que, por sua vez, são aquelas que se identificam com um gênero diferente daquele que lhe foi designado em consonância com seu sexo no nascimento.
J.K. Rowling se defendeu das acusações afirmando que conhece e ama pessoas trans. "Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo [masculino e feminino] remove a capacidade de muitos de discutir suas vidas de maneira significativa.", disse aos críticos.
O discurso da autora, diz Petra, é baseado em transfobia. Criticar o uso da linguagem neutra é ir contra a uma forma de escrever que evita constrangimentos de pessoas trans.
"O termo 'pessoas que menstruam', usado principalmente em contexto médico, visa incluir pessoas que, embora menstruem, não são mulheres, como homens trans e não binárias. Esse tipo de linguagem neutra quanto ao gênero evita que pessoas com identidades de gênero que não são a de cisgêneros [que se identificam inteiramente com o gênero que foi designado a elas em consonância com seu sexo ao nascer] sofram constrangimentos."
Falar sobre transfobia na internet e a importância da informação
Você pode, então, ser uma pessoa cisgênero. Ok. Mas é importante entender a experiência de pessoas trans para reduzir os próprios preconceitos e se munir de informação, já que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo (o dado se refere à comparação feita em relatório da Antra, Associação Nacional de Travestis e Transexuais. No Brasil foram 152 mortes, no México, 57, e 38 nos Estados Unidos, de outubro de 2019 a setembro de 2020. Os três países são os com mais casos reportados no mundo).
Elas estão aí, nas redes sociais, por exemplo, falando de transfobia: segundo pesquisa Universo Trans, lançada em outubro do ano passado, quase 89% das menções de pessoas trans no Twitter são sobre relatos de ataques transfóbicos que sofreram. O recorte se refere a um mapeamento feito em 164,93 mil tweets e 5,5 milhões de interações sobre o assunto, em cinco meses, pelas empresas Zygon, Nhaí! e Casé Fala.
"Cabe às pessoas que não são LGBTQIA+ estarem mais abertas a se informarem sobre questões sociais que outras pessoas vivem para impedir que elas reproduzam alguns preconceitos. Um dos mais comuns é sermos bombardeadas com questões do corpo, como se tudo que uma pessoa trans vive se resumisse a fazer uma 'cirurgia de troca de sexo' ou colocar silicone nos seios. Isso não chega a ser ofensivo, mas demonstra uma grande ignorância sobre o tema", analisa Petra que, ao lado da cientista social Alice Granada, lançou um site sobre disforia de gênero para ajudar outros homens e mulheres transgêneros pessoas não binárias.
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