Topo

Jogador de Street Fighter 'confessa' estupro em live e pode ser investigado

O mundo dos eSports coleciona denúncias de assédio e estupro - Getty Images/iStockphoto
O mundo dos eSports coleciona denúncias de assédio e estupro Imagem: Getty Images/iStockphoto

Luiza Souto

De Universa

07/01/2022 15h12

Um vídeo que circula no Twitter mostra o jogador do game Street Fighter V, Robson Pereira, conhecido como Robinho FGC, contando que embebedou uma mulher com quem ficava para depois levá-la a um local onde ele e mais oito homens teriam abusado dela. O ato pode ser configurado como crime de estupro de vulnerável, com agravante para estupro coletivo, o que aumenta a pena caso comprovado o crime.

Nas imagens, feita no dia 27/12, Robson conta que estava saindo com a mulher, mas descobriu que ela ficava com outras pessoas. Ele fala ainda que um primo enviou vídeos íntimos dela, para provar a traição e, como vingança, a levou a um bar num fim de semana. Com a mulher alcoolizada, ele relata, os dois vão para um barraco, onde oito homens esperam pela dupla. "Ela se arrebentou toda", conta o jogador, rindo da situação. Após a repercussão negativa do caso, o jogador se pronunciou dizendo que a história era mentira e apenas uma "brincadeira".

Diante da repercussão, a equipe que Robinho representava, a Patoz Team, se pronunciou na tarde desta quinta-feira (6) sobre o caso. Num post no Twitter, o responsável pela conta diz que Robinho não faz mais parte do Patoz Team, que a empresa não compactua com sua atitude e ainda que não tolera que nenhum integrante siga o mesmo caminho.

Universa procurou Robson pelas redes, mas ele apagou seus acessos. Em entrevista ao ge, Robinho confirmou que namorou a mulher em questão há cerca de 25 anos, quando ele tinha 13 e ela 15. Ele afirma ter feito uma brincadeira e que sua fala foi retirada de contexto.

Ainda na entrevista, Robinho conta que a parte em que descobriu as traições através do primo é verdadeira, mas que a história a partir do "rolê" em que a mulher estaria bêbada foi criada pela própria cabeça durante a live.

Fala pode ser investigada

Indignados com a fala de Robinho, internautas chegaram a pedir a prisão dele nas redes, por estupro. Mas para um crime ser investigado ele depende da comunicação da vítima sobre a violência sofrida, de provas produzidas ou de testemunhas em casos em que não há exames, conforme explica a advogada criminalista Jacqueline Valles.

"Está muito claro que nesta situação o que pode acontecer: o jogador ser indiciado com base no artigo 287 do Código Penal, que prevê detenção de três a seis meses ou multa, por fazer apologia, propaganda e exaltar publicamente um ato criminoso cometido por ele ou por outras pessoas", afirma.

A delegada titular da Delegacia Municipal e da Delegacia de Defesa da Mulher de Capivari (SP), Maria Luísa Dalla Bernardina Rigolin, afirma, no entanto, que a polícia civil pode apurar a "confissão" baseada no vídeo.

"Qualquer pessoa, com base nesse vídeo, pode apresentar o que chamamos de notícia crime, e a partir daí o fato vai ser apurado. Eu mesma já registrei um boletim de ocorrência com uma notícia que foi veiculada em rede social", explica a delegada, após revoltar-se com a imagem.

"É um comportamento que ultrapassa tudo o que nós pressupomos como machismo. Temos claramente um possível crime de estupro de vulnerável e coletivo."

Os advogados Adriana D'urso e Leonardo Sica, vice-presidente da OAB/SP, atentam que, nesse caso, se comprovada a veracidade da história, Robinho era menor de idade à época dos fatos. Portanto, o caso seria tratado como ato infracional e não crime, mas equiparado a estupro de vulnerável. Como o estupro coletivo tornou-se causa de aumento de pena em 2018, não se aplicaria aqui.

"No caso em questão, por tratar-se de menor de idade, deve-se instaurar um auto de investigação de ato infracional", explica Adriana. "O relato é suficiente para instaurar inquérito, pois é muito grave", complementa Sica.

Denúncias de crimes sexuais abalaram mundo dos eSports

Há um ano, em janeiro de 2021, mulheres muito jovens —entre elas, menores de idade— foram às redes sociais para denunciar diversas violências de gênero, entre elas abusos sexuais e agressões, contra pelo menos cinco jogadores profissionais de videogame e conhecidos no mundo do esporte eletrônico —ou eSports. Há também homens relatando assédio sexual.

Os envolvidos são o treinador de League of Legends (LoL) Guilherme "Kake" Morais, o ex-gerente da KaBuM!ESports Célio de Oliveira, conhecido como Thurizão, o ex-treinador Gabriel "MiT" Souza e os jogadores Thiago "tinowns" Sartori e Filipe "pancc" Martins. Alguns deles foram afastados de suas equipes.