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Aconteceu com Shantal: mulher pode ter a barriga empurrada durante o parto?

Shantal Verdelho  - Reprodução / Internet
Shantal Verdelho Imagem: Reprodução / Internet

Ana Bardella

De Universa

10/01/2022 14h37

Em entrevista ao "Fantástico" de ontem, a influenciadora Shantal Verdelho, 32 anos, deu mais detalhes sobre a denúncia que está movendo contra o ginecologista e obstetra Renato Kalil, responsável pelo parto da sua filha mais nova, Domênica, em setembro do ano passado. Em vídeos inéditos do parto, o médico faz xingamentos, é hostil quando ela se nega a fazer episiotomia e pede para que membros da equipe pressionem com força sua barriga.

"A minha barriga foi pressionada desde o momento em que ele chegou. Ele pede para uma médica da equipe dele fazer essa manobra de Kristeller. E depois, ele pede para o anestesista fazer, porque o anestesista era mais forte", disse a influenciadora. Nas imagens, é possível ver os braços do profissional tremendo, tamanha a força colocada durante o ato.

Médicos e outra pessoas da equipe podem pressionar a barriga durante o parto?

A Universa*, a ginecologista e obstetra Ana Carolina Lucia explica que o procedimento de empurrar a barriga para o bebê nascer é conhecido como "manobra de Kristeller", mas é contraindicado pelo Ministério da Saúde e desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde.

"Isso pode machucar os órgãos internos da mãe e gerar desconforto para ela. O bebê também pode ter fraturas e morrer. Quando é feito algo que precisa de força extrema, é sinal de que o parto não está dentro do que é previsto", afirma.

Nos casos em que a mãe está estafada pelo trabalho de parto, pode ser necessário um instrumento de alívio. "O fórceps, que um médico especializado saberá usar de forma correta, e o vácuo extrator na cabeça do bebê para descer podem ser métodos seguros. Mas a compressão da barriga causa prejuízos: pode ter ruptura do fígado do bebê, e complicações para a mãe. A mulher deve saber que essa é uma manobra não atualizada, que é errada", alerta.

Relembre o caso

Em dezembro do ano passado, Shantal enviou um áudio a um grupo de WhatsApp contando sobre violências obstétricas que aconteceram durante o seu parto, além de trechos gravados do momento, e o material foi vazado. Na época, ela confirmou à imprensa a veracidade do conteúdo e disse que tomaria providências jurídicas contra o médico. Uma semana depois, registrou um boletim de ocorrência e entrou com um requerimento de inquérito policial para apurar o caso.

Violência obstétrica: o que é e como denunciar

A violência obstétrica costuma acontecer quando a equipe que acompanha a gestante tenta abreviar o tempo de trabalho de parto, seja rompendo a bolsa sem a permissão da mulher, induzindo o processo com medicação ou realizando episiotomia sem necessidade.

Há também quadros de violência obstétrica psicológica, que acontecem quando os profissionais que estão na sala de parto desconsideram as necessidades da parturiente, ou a submetem a ameaças, gritos e comentários que a humilham no momento em que está fragilizada.

Seja no SUS ou em atendimento particular, toda mulher tem o direito de saber sobre os procedimentos que estão sendo realizados na hora do parto. Caso esse direito seja violado, há implicações nas esferas penal e cível. Apesar de não existir uma lei tipificando a violência obstétrica, os envolvidos podem ser responsabilizados por crimes como lesão corporal ou omissão de socorro.

Por isso, é importante a realização de um boletim de ocorrência para iniciar uma investigação. Na área cível, a medida é a responsabilização dos causadores dos danos materiais e morais, e a reparação destes, por meio, especialmente, de ação de indenização.

Médico nega acusações

Em nota enviada à reportagem, Renato Kalil nega as acusações, que diz serem baseadas em "pequenos trechos editados de um vídeo." Ele diz também que não praticou violência obstétrica e que as falas induzem a erro de interpretação do que verdadeiramente ocorreu. Por fim, se colocou à disposição do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo a fim de colaborar com as investigações.

* Com informações da matéria "Violência obstétrica em parto marca estreia de novela das 9; médica explica", publicada em novembro de 2021.