'Sou soldadora profissional e realizei o sonho de trabalhar na indústria'
"Meu nome é Karen Suzany de Affonso Arruda, tenho 32 anos, sou casada e moro em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo. Desde muito nova, quando via alguma reportagem nos jornais mostrando alguma indústria, ficava encantada. Na adolescência, com 16 ou 17 anos, fui procurar o Senai da minha cidade para fazer algum curso. Chegando lá, descobri a minha paixão: ser soldadora.
A gente tinha um vizinho que fabricava portões. Fui conversar com ele para me ensinar a soldar. Ele me falou que não poderia me pagar, mesmo assim aceitei o trabalho para poder aprender. Aquela primeira experiência só aumentou a minha curiosidade e o desejo de ingressar na área. Então, corri atrás de outros treinamentos.
No Senai, fiz cursos de solda, mecânica industrial, desenho técnico industrial, serralheria e até montagem de andaime. Embora a gente saiba o quanto esse universo é machista, não tive problemas enquanto fiz os cursos técnicos. Sempre fui tratada igual a todos os alunos da classe e, graças a Deus, nunca sofri preconceito lá, tanto por parte da escola e dos professores quanto dos alunos.
Quando entrei na empresa de montagem e manutenção de parques industriais Irmãos Passaúra, descobri a soldagem industrial. Fui aprender a fazer um cordão de solda e vi que realmente levava jeito, tinha a mão firme e trabalhava sem tremer.
Infelizmente, para uma mulher, ingressar na área industrial é muito difícil. Desde os meus 17 anos, sempre tentei. Levei vários currículos e a resposta era sempre a mesma: que não contratam mulher por ser um ambiente com muitos homens. Saía dos lugares muitas vezes chorando.
Finalmente, com 30 anos, fui trabalhar como auxiliar de serviços gerais em uma empresa.
Eu lavava banheiro, fazia a limpeza do barracão e ficava olhando os soldadores. Era a minha oportunidade. Fui perguntar se eles me ensinariam a fazer o serviço e, para minha surpresa, todos começaram a me ajudar. E não me ajudaram só com a técnica, foram muitas palavras de incentivo. Isso me fortaleceu e me ajuda muito até hoje.
Apesar disso, ainda tenho que ouvir certos comentários machistas de outros operários. São brincadeiras sem graça, do tipo: 'Para mulher é fácil, pois tem a vantagem de conseguir as coisas'.
Já ouvi que recebi ajuda por ser mulher. Hoje em dia acontece bem menos, mas ainda ouço e tiro de letra. Respondo com meu trabalho e competência.
'Deixava de almoçar para ficar treinando'
Uma competência que adquiri com muito esforço. Deixava de almoçar para ficar treinando, sempre com algum soldador ali comigo me auxiliando. Dois deles, inclusive, também deixavam de almoçar para me ajudar: o Humberto e o Pinga. Eles são soldadores espetaculares.
Hoje, trabalho com parte de tubulação, chaparia. Sou eu, um caldeireiro, um encanador industrial e um auxiliar. Eles produzem as peças e eu vou soldando.
Ainda estou no primeiro degrau da minha carreira profissional. Pretendo subir mais. Meu sonho é, quem sabe, um dia, ser encarregada de solda. É um objetivo. Estou no começo ainda, mas já penso lá na frente.
Eu acredito que devemos projetar nossas metas, desejos e sonhos. E, a partir daí, planejar. Pensar em como podemos chegar até lá. É bolar um plano mesmo. Principalmente nós, mulheres. Que ouvimos cada absurdo por aí.
Nosso lugar é a onde a gente quiser. Independentemente da profissão, é fazer o que gosta e com amor. Quando chegarem aqueles comentários machistas, erguer a cabeça e acreditar no nosso potencial. Com força, humildade e caráter, a gente chega aonde quiser."
Karen Suzany de Affonso Arruda, 32 anos, soldadora, de Lençóis Paulista (SP)
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