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'BBB': Naiara diz para Natália 'não sofrer por macho'. Como ajudar amiga?

Natália, Naiara Azevedo e Linn da Quebrada  - Reprodução
Natália, Naiara Azevedo e Linn da Quebrada Imagem: Reprodução

Luiza Souto

De Universa

27/01/2022 15h32

Incomodada por ver Lucas e Eslô aos beijos durante a festa do "BBB 22", Natália tentou apertar o botão de desistência. Prontamente, Naiara apareceu para demover a ideia da manicure, mas, ao aconselhar a mineira, a cantora disse que Natália "não deveria chorar por macho".

Apesar de ter falado isso para tentar ajuda a amiga, a cantora e atriz Linn da Quebrada sentiu-se incomodada e resolveu aconselhar Naiara a não julgar ou colocar mais pressão na cabeça da amiga. E as duas se estranharam.

A psicóloga Vanessa Gebrim afirma que Linn agiu certo. Para a especialista da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), a melhor forma de ajudar uma pessoa em sofrimento é respeitar o seu momento e deixar que ela expresse seus sentimentos, pois isso, na sua avaliação, faz com que se supere essa fase de maneira mais rápida.

"Minimizar a dor e o sofrimento do outro passa a impressão de que aquilo não é importante. Frases como 'sei que você está sofrendo, e que tudo isso é doloroso, mas vai passar' são mais positivas do que 'não se preocupe com isso', ou 'você não tem que sofrer por isso'", Vanessa lista.

A psicóloga e Neuropsicóloga da USP Elaine Di Sarno complementa:

"Cada um com sua história de vida sente de uma forma. Não temos como julgar se é demasiado ou não, e sim respeitar. Se a pessoa está se queixando, é porque está realmente sofrendo, muito embora seus sofrimentos possam parecer inexistentes para quem escuta. O diálogo e a transparência são elementos fundamentais."

Na avaliação da advogada especialista em Direitos Humanos pela Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha, na Espanha, e integrante da mentoria Feminismo e Inclusão, Mayra Cardozo, a ideia do "não podemos sofrer por macho" tem sido muito difundida junto com a de que devemos ser "um mulherão".

"Desde cedo os homens são ensinados pela sociedade patriarcal a suprimir seus sentimentos, a não se importar e assim objetificar corpos femininos. E como queremos tanto sair desse lugar subalterno, considerando que o caminho é 'pensar que nem homem', porque a sociedade patriarcal nos passa que o projeto masculino é bem sucedido, seja no campo profissional como no campo amoroso", resume Mayra.

A psicóloga e especialista em traumas Ediane Ribeiro, do Rio de Janeiro, orienta a se ter mais cuidado quando aconselhamos o próximo, já que o que se está enxergando naquela situação é apenas um pedaço da figura.

"Falando da Natália, sua manifestação emocional envolve muita coisa. Ela tem uma ferida de uma vida inteira em que teve a sensação de não pertencimento, de inadequação, dentro de uma cultura racista e preconceituosa. Quando você está fora desse padrão, você vai vivenciar a ferida de rejeição de forma muito mais intensa e, por essas e outras, não dá para querer determinar o que ela vai sentir", Ediane ensina.

Baseada nisso, a especialista aponta que o papel da amiga, nesse momento, é o do acolhimento.

"Não deixar a amiga 'sofrer por macho' é invalidar a dor do outro", diz.

"Mas nem sempre esse processo é consciente. O que acontece é que não temos uma cultura de educação emocional. A grande maioria de nós foi criada a engolir o choro e a pessoa vai crescendo com isso, mas isso impacta muito na autoestima e autoconfiança, e chegamos à vida adulta tendo dúvida se a gente pode sentir o que está sentindo."

E caso nós mesmas não estejamos preparadas para ouvir e lidar com a dor do outro, ela aconselha ainda a admitir que aquele não é o melhor momento de conversa. "O melhor a se fazer por si próprio e pelo outro é identificar se a minha energia está disponível o suficiente para que eu possa oferecer a minha escuta. E se eu sinto que não, a melhor forma é falar que não está bem."