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Abuso, abandono e gravidez precoce: por que público celebra a morte de Joy?

Joy, personagem de Lara Tremouroux em "Um Lugar Ao Sol" - Reprodução/TV Globo
Joy, personagem de Lara Tremouroux em "Um Lugar Ao Sol" Imagem: Reprodução/TV Globo

De Universa

29/01/2022 16h23

Joy (Lara Tremouroux), uma das personagens mais odiadas pelo público na novela "Um Lugar Ao Sol" (Globo), morreu no capítulo de ontem, ao cair de um viaduto. Nas redes sociais, muitos celebraram o fim da jovem mãe, sem considerar que, na verdade, ela é uma das grandes vítimas da trama.

Apesar de se mostrar inconsequente, antipática e até aproveitadora, ela sofreu uma relação conturbada com a mãe e abusos do padrasto, engravidou na adolescência, de forma não planejada, e não conseguiu criar uma relação maternal com o filho, Francisco.

A própria autora da novela, Lícia Manzo, defendeu a personagem em entrevista recente a Universa:

"A Joy é um retrato da precariedade completa. Não poderia esperar dela outra coisa sendo fruto do lugar onde foi criada, por uma mãe que provavelmente foi criada nas mesmas condições. É uma menina extremamente desvalida".

"Como uma personagem para quem a delicadeza não foi apresentada pode ser sutil e amorosa?", questiona a autora da novela.

Joy arruma outro e abandona Ravi na novela 'Um Lugar ao Sol'   - Divulgação - Divulgação
Joy arruma outro e abandona Ravi na novela 'Um Lugar ao Sol'
Imagem: Divulgação

Dreads e axilas sem depilação

Lícia Manzo diz, ainda, que parte da rejeição do público em relação a Joy se deve à figura dela: dreads no cabelo, axilas sem depilação e atitudes pouco femininas —e elogiou a performance de Lara Tremouroux.

"A atriz não está ali para fazer caras e bocas, ser a bonitinha. Ela está entregue. Talvez, se estivesse mais pintadinha e depilada, as pessoas a tolerassem melhor."

"Maternidade não é conto de fadas"

Outras pessoas também lamentaram a trajetória e o fim da personagem, que gerou debate sobre maternidade compulsória e "negligência do mundo com as mulheres":

Para Manzo, apesar de errática, a personagem tem um discurso feminista, que aparece na forma como afirma não querer ser mãe: ela é convencida pelo namorado, Ravi (Juan Paiva), a não abortar. Quando o filho nasce, no entanto, não desenvolve com ele uma relação maternal e, por isso, deixa a criança sob os cuidados do pai.

"Ela está muito longe de ser uma vilã, mas acho que a crítica é porque é uma mulher. E qualquer discurso que questione o sacrossanto lugar da maternidade, ou a maternidade como vocação inata da mulher, ela é apedrejada. Fosse um homem achariam natural."

"Convido as pessoas que vejam documentários sobre gravidez na adolescência em comunidade. Não é um conto de fadas em que a mulher fica feliz com um bebê. Para você estar feliz com um bebê você precisa estar constituída como mulher."