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Sexo, menstruação, aborto: 'Um Lugar ao Sol' mostra o que é ser mulher

Felipe (Gabriel Leone) e Rebeca (Andréa Beltrão) vivem um romance na novela das 21h - Divulgação
Felipe (Gabriel Leone) e Rebeca (Andréa Beltrão) vivem um romance na novela das 21h Imagem: Divulgação

De Universa

30/01/2022 04h00

Em uma conversa entre a personagem Noca (Marieta Severo) e a neta Lara (Andréia Horta) no capítulo da quinta-feira (27) da novela "Um Lugar ao Sol", ambas falavam sobre a pressão estética socialmente imposta às mulheres. "Homem pode tudo. Mulher não, não pode ter pelos embaixo do braço, engordar, ter cabelo branco", diz Noca.

Esse tipo de cena, em que se trata de assuntos sobre mulheres com um tom de crítica, é recorrente na trama das nove da Globo. Escrita por Lícia Manzo e com um grupo de roteiristas em que a maioria é mulher, "Um Lugar ao Sol" traz diversas questões fundamentais do universo feminino de maneira verídica e delicada, como há muito tempo não se via nessa faixa de horário.

Veja abaixo alguns dos temas já abordados na novela:

Envelhecer é ficar feia?

Rebeca, vivida por Andrea Beltrão - Globo/Fabio Rocha - Globo/Fabio Rocha
Rebeca, personagem de Andréa Beltrão em "Um Lugar ao Sol"
Imagem: Globo/Fabio Rocha

Há uma personagem central que retrata bem o peso da passagem do tempo sobre as mulheres: Rebeca, vivida por Andréa Beltrão. Modelo, ela acabou de chegar aos 50 anos e viu os trabalhos sumirem por causa da idade.

Em várias cenas, ela fala sobre como sente a pressão estética nesse sentido, ainda mais por ter um marido que tem um caso com uma mulher na faixa dos 30 anos.

Desejo sexual feminino existe

Rebeca também protagoniza uma das tramas mais interessantes da novela, a da paixão por um rapaz mais novo, Felipe (Gabriel Leone). A diferença de idade é uma questão importante para ela, que se questiona a todo tempo se poderia ou não viver esse romance aos 50.

Ainda assim, não esconde a importância que o sexo e a atração sexual tem em sua vida, e até tenta retomar o desejo com o marido, Túlio (Daniel Dantas), mas fica frustrada por perceber que o parceiro já não a quer da mesma forma.

Também foi ela que esteve em uma das cenas mais comentadas do folhetim quando, em determinado capítulo, apareceu se masturbando.

Gordofobia

Nicole (Ana Baird)  - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
Nicole (Ana Baird)
Imagem: Reprodução / Internet

Ainda nas discussões sobre pressão estética, Nicole (Ana Baird) traz outra discussão para as telas: a exigência de a mulher ser magra.

A importância de emagrecer ocupa a cabeça da personagem a maior parte do tempo. Ela procura dietas milagrosas, vira chacota na própria família por gostar de comer, escuta o tempo todo da irmã que precisa parar de comer, e chega a terminar um namoro porque o parceiro é gordo, e ela não aceita.


Como lidar com a primeira menstruação?

Uma cena bastante delicada mostra Marie (Maju Lima) passeando com a madrasta, Lara, e se escondendo no banheiro porque começa a sangrar. Lara percebe o que está acontecendo e ajuda a menina a entender esse processo.

Foi uma cena didática em que ela dizia à garota, o que significa menstruar e que um dia, se quisesse, poderia ter um filho.


Violência doméstica

Stephany após uma briga com o marido, Roney - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
Stephany após uma briga com o marido, Roney
Imagem: Reprodução / Internet

A narrativa envolvendo Stephany (Renata Gaspar) mostra a violência doméstica em todas as suas fases: do aumento da tensão passando pela agressão em si à tentativa de separação o pedido de desculpas por parte do agressor.

Ela é casada com Roney (Danilo Grangheia), homem que a trai, humilha, ofende e agride fisicamente.

Apesar de ficar muito evidente pro espectador que ela precisa se separar dele, a novela mostra com cuidado e respeito como é difícil para a mulher sair de um relacionamento abusivo e se desvencilhar do ciclo da violência, mesmo percebendo que precisa dar um basta.


Maternidade compulsória

Lara é a típica mocinha: bonita, carinhosa, cheia de princípios e vive um romance com o protagonista da novela, Christian, que toma a identidade do irmão, Renato, para si e é interpretado por Cauã Reymond.

Mas tem um diferencial: apesar de adorar crianças, não quer ser mãe, e mesmo tendo formado uma família, seus desejos profissionais não são deixados de lado.

A novela inova ao retratar uma personagem feminina central da história dessa maneira, representando outras mulheres que, assim como ela, negam a maternidade compulsória, como se fosse uma obrigação, e focam em alcançar outros sonhos.


Aborto

O tema, um dos grandes tabus da sociedade, seja quando é espontâneo ou quando é uma escolha da mulher, já apareceu pelo menos três vezes na novela.

Uma delas envolve Joy (Lara Tremouroux), que engravida de Ravi (Juan Paiva) e decide abortar por não querer ter o filho. O rapaz a convence a manter a criança se comprometendo a cuidar da família que se forma, mas Joy com frequência citava o arrependimento de ter tido o filho, tanto que o deixa com o pai e sai de casa.

Também houve o caso do aborto espontâneo, bem diferente da interrupção consciente de gravidez, mas que trouxe uma narrativa bastante dramática à novela. Ilana (Mariana Lima) viveu uma gravidez de gêmeas considerada de risco, pois poderia sofrer um aborto espontâneo. Conviveu com o medo até o parto, quando perdeu uma das filhas.

Outra história dramática envolveu Cecília (Fernanda Marques), que foi de um estupro de vulnerável — a violência sexual ocorreu quando ela estava inconsciente após ter bebido. Na sequência, descobre uma gravidez ectópica ou tubária e precisa ser operada às pressas, já que esse tipo de gestação não evoluiu e apresenta sérios riscos à mulher.