Fim de 'And Just Like That': Carrie se despediu de Big e me fez chorar
Tenho uma lista de críticas à série "And Just Like That", a continuação de "Sex and the City" exibida pela HBO Max, que terminou nesta quinta-feira (3). A principal foi ter forçado demais a barra da diversidade, apresentando personagens negras como uma cartilha a ser cumprida e para aliviar a culpa branca das protagonistas. Também me incomodaram algumas cenas constrangedoras, como Carrie (Sarah Jessica Parker) vomitando porque bebeu demais durante o primeiro encontro que teve desde que ficou viúva. Quem sou eu para julgar, mas precisava de uma cena tão explícita?
Confesso, porém, que esses dez episódios mexeram muito comigo. Primeiro, como fã, pela nostalgia de rever as personagens, agora com mais de 50 anos, e relembrar cenas que elas viveram no passado e que eu acompanhei. Como já contei aqui, assisti ao seriado original mais de uma dezena de vezes. Foi a trupe de Carrie, em um mundo onde não existiam grandes problemas e pés-na-bunda eram facilmente esquecidos com uma piada, que me consolou em momentos de tristeza e de coração partido.
Fiquei feliz quando vi, no primeiro capítulo, o casal que tanto odiei e amei, Carrie e Big (Cris Noth), finalmente feliz e sereno. Parecia legal envelhecer.
Dali em diante, vários momentos me emocionaram ou esquentaram o coração (teremos alguns spoilers). A começar pela morte dele e todo um processo de despedida, que durou a temporada inteira. Depois, no funeral, com as flores enviadas por Samantha cobrindo o caixão de Big, fazendo parecer que ela estava mesmo lá.
Vibrei com roupas antigas que apareceram, como o casaco azul Dolce & Gabanna que Carrie usou quando tropeçou na passarela de um desfile —no spin-off, pegou a peça para se cobrir em uma noite de frio. Ainda descobrimos que o nome da Carrie é Caroline e conhecemos o hall de entrada do prédio em que ela vive. Bobagens, né? Mas chorei, suspirei e me animei vendo isso.
Ainda que estivesse gostando de algumas cenas e histórias, lá pelo quinto episódio o roteiro me pareceu enfadonho, fraco. Continuei e, agora, terminada a série, sei por quê: mulheres envelhecendo juntas, se apoiando para que sejam felizes, é algo que quero para a minha vida. Segui assistindo porque nisso me reconheci.
Vale ressaltar de quais mulheres estamos falando: brancas, de classe alta e vivendo em Nova York. Daria para pensar que, desse jeito, até a gente seria feliz. Claro que ser privilegiada facilita tudo. Mas se você é mulher e já parou para pensar sobre envelhecimento, sabe a que me refiro.
Há dois anos, com 34, percebi que as linhas de expressão na minha testa estavam cada vez mais evidentes. Até então, idade não era um assunto que me importava, nem pensava nisso. Sabia que não eram só marcas na pele. Era um sinal estampado na minha cara de que o tempo estava passando. Com isso, vieram algumas questões: ainda não me casei, ainda não tenho filhos, será que experimento botox? Será que vão duvidar do meu potencial por estar envelhecendo? Será que não sentirão mais atração por mim?
Eu sei, tudo bobagem vinda das diversas mensagens machistas que recebemos diariamente. Mas não vou mentir que isso também está internalizado em mim. Apesar de ainda me considerar jovem, é impossível não me questionar sobre a passagem do tempo quando vejo apenas a juventude sendo exaltada a todo momento, em todo lugar.
Hoje, quando esse tipo de pensamento surge, já sei de onde vem e tento não alimentar. E ver a Carrie sendo amparada pelas amigas e as amparando, vivendo a vida com vontade e exibindo suas marcas profundas na testa, só me ajuda a entender que nenhuma de nós tem porque ser parada pela idade.
Vinte anos me separam das protagonistas de "And Just Like That", assim como aconteceu quando eu, adolescente, via "Sex and the City". Naquela época, comecei a entender, pela série, que havia muito mais possibilidades em ser mulher do que minha vida no interior do Paraná me mostrava até então. Além de reencontrar as personagens, me deparei, de novo, com esse sentimento: há muito mais possibilidades para nós, seja qual for a idade, do que insistem em nos fazer acreditar.
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