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Femtech tem plano de fertilidade para mulher ganhar autonomia sobre o corpo

Stephanie von Sta, de 33 anos, CEO e fundadora da Oya Care - Divulgação
Stephanie von Sta, de 33 anos, CEO e fundadora da Oya Care Imagem: Divulgação

Júlia Flores

De Universa

03/02/2022 04h00

Que cada vez mais as mulheres estão postergando a maternidade, isso não é novidade. De acordo com dados do senso demográfico do IBGE de 2009, naquela época, 20 milhões de pessoas com útero tiveram o primeiro filho com mais de 30 anos. Em 2019, passou para 40 milhões.

"O número de mulheres que decidem ser mães acima dos 30 está crescendo; o problema é que muitas estão adiando a gestação sem saber as consequências disso", diz Stephanie von Sta, de 33 anos, CEO e fundadora da Oya Care, uma start up voltada para a saúde feminina; em especial, para o planejamento da vida fértil de quem tem ovário.

A Oya possui dois produtos principais. O primeiro é a criação de uma "jornada" de fertilidade da mulher e, o segundo, um serviço de atendimento emergencial de ginecologia. "As brasileiras vão ao gineco, sim, mas sentem vergonha de revelar o que estão sentido, de abrir o jogo sobre sua vida sexual. Elas tentam mostrar que têm uma vida mais saudável para o médico não julgá-las", comenta Sté.

Foi da tentativa de inverter essa lógica, e criar uma femtech que "empodere e democratize a saúde íntima para pessoas com ovários", que Sté tirou do papel um sonho de negócio antigo, mas que só foi concretizado em maio de 2021.

A saúde como empoderamento feminino

Stephanie nasceu em São Paulo, mudou-se para Miami quando bebê, mas passou a infância e adolescência em uma fazenda no interior do Paraná. A empresária gosta de citar esse momento de vida para justificar sua trajetória profissional: "Eu não tinha acesso à educação sexual de qualidade; ninguém nunca havia conversado comigo sobre meu corpo, gravidez, ISTs. Me sentia sozinha, não tinha com quem falar de um jeito que não fosse formal".

Ainda na adolescência e de volta a São Paulo, Stephanie cursou administração pública na Faculdade Getúlio Vargas e logo após a universidade ingressou no mercado de aquisições, trabalhou em uma start up do Grupo Rocket e decidiu sair do país para cursar um MBA nos EUA.

No final de 2019, porém, depois de duas crises de burnout, achou que era hora de voltar ao Brasil e criar seu próprio negócio. "Fiquei seis meses morando na fazenda onde tinha passado minha infância e, nesse período, senti que havia necessidade de me reconectar com meu próprio corpo."

"Comecei a pensar sobre o futuro. Quando cheguei perto dos 30, fiquei com dúvidas se estava perdendo a fertilidade; não queria ser mãe naquele momento, mas ninguém nunca havia conversado comigo sobre o que fazer. Eu sentia falta de um lugar que me ajudasse a entender meu corpo, meu ciclo, a minha vida fértil de uma maneira gentil e não-formal." Olhando ao redor, a empresária se deu conta que não era a única.

Falando a linguagem das mulheres

O teste de fertilidade, em si, que a Oya Care oferece não é novo. O exame de HAM (que mede a reserva de ovário que temos no corpo) é um procedimento que pode ser realizado em qualquer laboratório de sangue.

O que a Oya oferece de diferente é a criação de um "plano de fertilidade", que vai desde a coleta do sangue em casa, conversa virtual com ginecologista para avaliar os resultados e um "mapa" com gráficos, insights e dados sobre a vida fértil da paciente. O que a Oya faz é revender um serviço que não é novo com uma linguagem acessível e acolhedora.

"Nosso grande objetivo é fazer com que as mulheres tenham total autonomia sobre seus corpos. Acreditamos que quando uma pessoa com ovário conhece a sua fertilidade ela vai ter mais ferramentas para decidir sobre o próprio futuro; se vai querer ou não ter filhos, quando e como. Isso é empoderamento", pontua Stephanie.

A Oya é o primeiro ponto de encontro entre a mulher e uma saúde sexual saudável e responsável; oferecemos conhecimento e cuidado para que ela chegue em sua autonomia

Além do relatório de fertilidade, a Oya oferece o Oya SOS, um atendimento ginecológico emergencial. "A ideia é que não seja uma consulta, e sim um 'mini-curso' sobre o motivo que levou a mulher até ali; pode ser uma dúvida relacionada a sexo, à candidíase, ao uso de remédios. Além disso, pelo fato de ser online, a paciente poderá realizar o papo em até 48 horas, sem precisar se justificar para outros".

As dificuldades de criar uma femtech no Brasil

Stephanie conta que levou um tempo para "emplacar a ideia" e transformar o projeto em uma start up.Quando começou o negócio, ela lembra que o termo "femtech" — empresas de tecnologia voltadas para solucionar problemas do público feminino — não era conhecido no Brasil. "Ninguém nem sabia o que significava a expressão, era complicado apresentar um produto feminino para um monte de empreendedores homens. Lembro que uma vez quase desisti depois que um investidor resumiu o plano de fertilidade em'um argumento para convencer homens a se casar'. Saí da reunião querendo chorar".

Hoje, ela avalia que o cenário é diferente. Em dezembro de 2020, a Oya recebeu a primeira grande rodada de investimentos no valor de 790 mil doláres. Atendendo um público formado majoritariamente por mulheres entre 27 e 34 anos, agora a empreendedora quer expandir o serviço para novos públicos e democratizar o acesso a todas as classes sociais.

O momento, na opinião de Stephanie, é o ideal para que a empresa conquiste cada vez mais espaço no mercado: "A pandemia fez com que repensássemos a maneira como lidamos com a nossa saúde, nossa sexualidade, nossa vida íntima. Também nos fez que refletir sobre o futuro. Antes, muitas de nós estávamos desconectadas de nosso corpo; agora queremos restabelecer essa conexão".