'Beijo entre mulheres na novela das 6h gera visibilidade', diz historiadora
O desfecho da história das personagens Clemência (Dani Barros) e Vitória (Maria Clara Gueiros) na reta final da novela "Nos tempos do Imperador" rendeu muitos comentários nas redes sociais.
No começo da trama, Clemência e Vitória eram inimigas. Com o desenrolar dos capítulos, as duas se envolveram amorosamente até que, no episódio que foi ao ar dia 28, as personagens selaram o romance com um beijo LGBTQIA+, pouco visto no horário das seis. Desde então, o público começou a "shippar" (expressão em inglês que significa torcer) o casal.
O último episódio de "Nos tempos do Imperador" aconteceu nessa sexta-feira (04) e a trama chegou ao fim com um novo beijo das personagens. Em entrevista à coluna de Patricia Kogut, no jornal "O Globo", a atriz Dani Barros falou sobre a importância de ter um casal lésbico se beijando na televisão aberta: "Poder fazer uma cena dessas num período tão retrógrado, mesquinho e careta do nosso país é algo incrível. Desde que o mundo é mundo todo mundo se beija. A caretice veio bem depois".
Vale lembrar que "Nos tempos do Imperador" era uma novela de época, ambientada no século 19 e o enredo contava a saga de Pedro II à frente da Corte brasileira. Para a historiadora Tamires Marinho, lésbica e militante LGBTQIA+, o beijo entre Clemência e Vitória gera visibilidade e é importante para o combate à homofobia.
Novela desconstrói padrões
Na opinião de Tamires, ter um casal lésbico na novela das 6 é fundamental. "Cenas como essas trazem visibilidade e precisam ser vistas com naturalidade, porque mulheres lésbicas até pouco tempo não eram representadas em novelas, romances. É importante até para desconstruir a ideia de que 'alguém se torna lésbica'. A novela pode ajudar nessa mudança de mentalidade."
A própria atriz Dani Barros (que é casada com uma mulher) reforça o que foi dito por Tamires. "Eu costumo dizer que cresci assistindo aos beijos héteros na televisão e nem por isso me tornei hétero. Sim, sou gay e tenho muito orgulho em ser, pois acho as mulheres admiráveis", falou em entrevista à Patrícia Kogut.
Tamires vai além na análise, e reforça que, no século 19, havia uma forte interferência da medicina e de outras ciências na análise da sexualidade da mulher. "A psicanálise via o conteúdo homossexual como algo patológico", comenta.
No entendimento da ativista, a repressão sexual sempre foi maior com mulheres do que com homens. "Homens gays sofriam opressão, mas sobre a mulher era sempre maior, porque a conduta moral é julgada por isso. As mulheres ainda se esforçavam para manter uma família."
Apesar dos avanços sociais, Tamires frisa que a repressão continuou ao longo do tempo. "Na ditadura, por exemplo, as mulheres eram presas por jogar futebol, era proibido para elas. Então, a questão não era só sobre sexualidade, mas também de não performar feminilidade."
Mesmo depois de ter recebido comentários negativos por causa do beijo, a atriz Dani Barros comemora que a maior parte das mensagens que chegaram a respeito do casal foram positivas: "Vi muita gente falando sobre a beleza e a delicadeza da cena e que foi uma prestação de serviço."
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