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'Não fazia dieta', diz prima sobre mulher que morreu por 'chá emagrecedor'

Edmara e a prima Márcia: "Não sabemos por que ela fez uso dessas cápsulas" - Arquivo pessoal
Edmara e a prima Márcia: "Não sabemos por que ela fez uso dessas cápsulas" Imagem: Arquivo pessoal

Júlia Flores

De Universa

05/02/2022 17h13

A enfermeira Edmara Silva de Abreu morreu na madrugada do dia 03 de fevereiro, em São Paulo, devido uma hepatite fulminante em função do uso recorrente de um composto emagrecedor. Em entrevista a Universa, a prima da vítima, Márcia Cristina Oliveira, disse que a família não sabia sobre o consumo da substância.

"Só descobrimos que ela estava fazendo uso do produto depois que a equipe médica pediu que procurássemos, entre os medicamentos, o que ela vinha ingerindo", conta Márcia.

O produto encontrado nos pertences de Edmara era o "50 ervas emagrecedor", um complexo no formato de cápsula que continha em sua composição ervas como chá verde, carqueja, mata verde, além de substâncias hepatotóxicas (que fazem mal ao fígado).

Segundo Márcia, Edmara começou a passar mal apenas dois dias antes de ser internada, às pressas, no Hospital Santa Joana, onde atuava como enfermeira obstetra. Ela reclamava de náusea e dores abdominais. Quando recebeu o diagnóstico de hepatite fulminante, ela foi transferida para o Hospital das Clínicas, onde precisou esperar oito dias para ser submetida a um transplante de fígado. A cirurgia aconteceu no sábado (29), mas o corpo da enfermeira rejeitou o novo órgão.

"Ela fazia academia todos os dias"

Ainda de acordo com Márcia, sua prima era uma pessoa muito vaidosa e fisicamente ativa. "Edmara adorava a academia, ia todos os dias, não era sedentária e nem fazia dietas; comia bem e em bons lugares", descreve.

Questionada sobre o fato da prima não ter se atentado aos riscos do complexo emagrecedor — mesmo sendo ela uma profissional da área da saúde — Márcia acredita que a própria Edmara não sabia dos riscos deste composto.

Ela não tinha problemas com a balança, não sabemos por que ela fez uso dessas cápsulas - Márcia, prima de Edmara

Monique Alves, outra prima da vítima, também falou ao UOL a respeito do assunto. Segundo Monique, a prima não estava tomando "mais nada" além dos comprimidos. "Ela confiava no medicamento, até porque achou que era natural, está escrito na embalagem que são apenas ervas. Não é nada de tarja preta, nenhum medicamento que aparenta ser perigoso."

"É importante falar disso para que outras famílias não passem pela dor que estamos passando hoje", acrescentou Monique. No site da Receita Federal, é possível verificar que o produto "50 ervas emagrecedor" está com CNPJ suspenso desde 2015. Até o momento, a reportagem do UOL não conseguiu contato com a empresa fabricante do composto.

A ditadura da beleza

Para Caroline Bartholo, nutricionista especializada em Transtornos Alimentares pelo Ambulim/IPq HCFMUSP, produtos como o "50 ervas emagrecedor" são procurados por pessoas que têm a expectativa de modificar o corpo de forma rápida. "A pressão estética faz com que o formato ou o tamanho do corpo sejam prioridade, acima. inclusive, de qualquer preocupação com a saúde. As empresas utilizam falas como 100% natural e saudável porque isso é vendável e traz a ilusão de cuidado, mesmo não o sendo", argumenta.

Segundo a nutricionista explicou em entrevista para Universa, esses medicamentos oferecem sequelas físicas, vômitos, enjoos, dores abdominais, disfunções renais e hepáticas, irritações intestinais, dificuldade respiratória e até levar a óbito, como aconteceu com Edmara.

Em nota, a Anvisa informou que o "50 ervas emagrecedor" está proibido no Brasil desde 2020. "O produto 50 ervas emagrecedor não pode ser classificado como alimento, ou mesmo como suplemento alimentar, pois contém ingredientes que não são autorizados para o uso em alimentos. Entre estes componentes, estão o chapéu de couro, cavalinha, douradinha, salsa parrilha, carobinha, sene, dente de leão, pau-ferro, centelha asiática. Essas espécies vegetais têm autorização para uso somente em medicamentos, como fitoterápicos, e não em suplementos alimentares", traz o comunicado.

Caroline frisa o impacto das pressões estéticas na vida das mulheres.

O desejo incessante por métodos que prometem emagrecimento rápido adoece tanto a nível físico como mental, pois é nítido o quanto essas pessoas se sentem tristes com a aparência, possuem baixa autoestima e muitas inseguranças

A nutricionista reforça que aqueles que buscam perder peso devem fazer isso com o acompanhamento de um profissional. "O emagrecimento saudável e realmente sustentável acontece por um conjunto de fatores, como: alimentação equilibrada, exercícios físicos, consumo de água, manejo de estresse, qualidade do sono e bom funcionamento intestinal."