Caso Marotti: 'Elas tinham mais medo dele do que do fogo', diz testemunha
O julgamento que definirá a sentença de Rodrigo Marotti começou nesta terça-feira (8), em meio a pedidos de "justiça" vindos de familiares, amigos e mulheres que estavam presentes em frente ao Fórum de Nova Friburgo (RJ) para prestar apoio.
Os primeiros depoimentos foram de dois vizinhos e do proprietário da casa onde estavam Alessandra Vaz e Daniela Mousinho.
Um ex-vizinho de Marotti declarou que a imagem de Alessandra toda queimada sempre volta a sua memória quando olha para a casa onde os crimes aconteceram.
Uma outra vizinha, que encontrou Alessandra já na calçada, disse que ela enfatizou que Rodrigo teria feito o que fez porque não o queria mais. Já o proprietário do imóvel afirmou que tentou apagar o fogo com baldes d'água, mas as chamas pareciam estar alimentadas por gasolina.
Depoimentos do policial militar, do agente que estava de serviço na DPO do distrito de Lumiar e do policial civil que ajudou nas investigações também foram ouvidos. O PM declarou que Alessandra gritava muito, enquanto Daniela estava em choque, sem dizer nada. As duas agonizavam e exibiam a pele muito queimada.
Já o policial civil declarou que Marotti chegou a confessar que perdeu a cabeça e que havia colocado fogo em um colchão na porta do banheiro, impedindo a saída das vítimas da casa em chamas. Um dos vizinhos que depôs nesta terça chegou a afirmar que as vítimas pareciam ter mais medo de Marotti do que do próprio fogo.
Já o depoimento de Andresa Vaz trouxe detalhes da dor de ter perdido a irmã para um crime tão truculento. "Foi a pior notícia que recebi na vida. Se soubesse da gravidade, talvez não tivesse entrado na UTI, as únicas partes do corpo que não estavam enfaixadas eram o pescoço, os olhos e os dedos. Ele não deu 1% de chance dela viver", contou.
O sócio-investidor da empresa na qual o casal era sócio, afirmou em depoimento que só notava medo, pânico e preocupação com ameaças entre os dois. Embora mantivessem uma relação mais profissional, a testemunha relata que Rodrigo tinha um comportamento agitado e desorientado, chegando ao nível de ameaças, principalmente após o término do relacionamento.
Em um dos desabafos, Alessandra afirmou que Rodrigo a traía, e que após o rompimento, ela pediu ajuda para obter a parte maior da sociedade e retirar o ex-companheiro. Quando tomou conhecimento da situação, os sócios brigaram e o acusado ficou furioso. "Disse que não sairia barato a retirada dele da sociedade."
Relembre o caso
Em outubro de 2019, o engenheiro Rodrigo Marotti teria trancado a ex-namorada Alessandra Vaz e a amiga dela Daniela Mousinho, ambas com 47 anos anos na época do crime, no banheiro da casa da artista plástica, no bairro de Mury, e ateado fogo no imóvel. Ele teria, inclusive, bloqueado a saída com um colchão em chamas para impedir a fuga delas.
As duas mulheres chegaram a ser retiradas do local com vida por vizinhos e conseguiram apontar Rodrigo Marotti como autor do crime, mas não resistiram aos ferimentos. Daniela morreu no dia seguinte e Alessandra dois dias depois, ambas com 80% dos corpos queimados.
Marotti, portanto, se tornou réu por duplo feminicídio. O engenheiro tentou fugir do local do crime, mas foi preso logo depois, em flagrante, e aguarda julgamento em uma unidade prisional no Rio de Janeiro. Em razão dos crimes cometidos serem considerados dolosos, ou seja, com intenção de matar, ele está sendo submetido a júri popular na 1ª Vara Criminal de Nova Friburgo, presidido pela juíza Simone Dalila Nacif Lopes.
Número de feminicídios é alto no Brasil
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública relativos ao primeiro semestre de 2021 mostram que, por aqui, uma mulher é vítima de feminicídio a cada seis horas - isto é, em média quatro mulheres morrem todos os dias apenas por serem mulheres.
Assim como aconteceu com Alessandra e Daniela, 75% dos casos de feminicídio no Rio de Janeiro ocorrem dentro de casa e 78% das vezes quem comete o crime é o ex-companheiro da vítima - os dados fazem parte do Dossiê Mulher 2021, do Instituto de Segurança Pública.
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