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Caso Marotti: Chorando muito, mãe e filha de vítimas chegam a julgamento

Chorando muito, mãe de Alessandra abraça a filha de Daniela Mousinho em frente ao Fórum de Nova Friburgo (RJ) - Vitória Nogueira
Chorando muito, mãe de Alessandra abraça a filha de Daniela Mousinho em frente ao Fórum de Nova Friburgo (RJ) Imagem: Vitória Nogueira

Vitória Nogueira

Colaboração para Universa, de Nova Friburgo (RJ)

08/02/2022 11h02

Começou nesta terça-feira (8), às 10h30, no Fórum de Nova Friburgo (RJ), o julgamento que vai decidir o destino de Rodrigo Marotti, acusado de duplo feminicídio após atear fogo na ex-namorada Alessandra Vaz e na amiga dela Daniela Mousinho. O crime aconteceu em outubro de 2019.

O clima em torno do Fórum é de tensão e expectativa. Ao se encontrarem na entrada do julgamento, Sandra, mãe de Alessandra, abraçou Luiza, filha de Daniela. Ambas choraram muito. Apenas os familiares puderam entrar na audiência, seguindo ordens da juíza Simone Dalila Nacif Lopes, em razão da pandemia. A equipe de Universa está em frente no local. Imprensa, amigos e todas as mulheres que vieram apoiar o movimento pedindo justiça aguardam do lado de fora.

Andresa Vaz, irmã de Alessandra, diz esperar o "mínimo que a nossa lei pode fazer, já que é tão falha. Queremos pena máxima, não aceitamos menos que a pena máxima", disse sob aplausos de um grupo de mulheres presente, que entoava "justiça" em resposta. Ela também afirma que toda a família acredita muito no trabalho do promotor Rodrigo Nogueira Mendonça e na dedicação que ele terá para conseguir pena máxima.

Caso Marotti: manifestações e clima de ansiedade marca início de julgamento em Nova Friburgo (RJ) - Vitória Nogueira - Vitória Nogueira
Caso Marotti: manifestações e clima de ansiedade marca início de julgamento em Nova Friburgo (RJ)
Imagem: Vitória Nogueira

"Ontem completou 2 anos e 4 meses que ele ateou fogo nelas, então a gente está nessa expectativa há mais de 2 anos. A gente entende que é por conta da pandemia que tenha atrasado tudo isso, então realmente foi uma espera longa e sofrida", afirma.

Passou pelo local também a vereadora Maiara Felício (PT) que faz de um coletivo contra o feminicídio que criado há 2 anos, após o assassinato de Alessandra e Daniela. "A gente acompanhou muito todo esse processo; participamos de manifestações, ocupações das datas importantes e hoje finalmente o julgamento", afirmou. A vereadora ainda complementou dizendo que "o agressor é sempre associado a surtos e problemas de saúde mental. Eu costumo dizer que é sempre uma corrida contra o tempo para gente conseguir chegar nessas mulheres que são vítimas e salvá-las. A palavra é salvar", disse.

Relembre o caso

Em outubro de 2019, o engenheiro Rodrigo Marotti, hoje com 33 anos, teria trancado a ex-namorada Alessandra Vaz e a amiga dela Daniela Mousinho, ambas com 47 anos anos na época do crime, no banheiro da casa da artista plástica, no bairro de Mury, e ateado fogo no imóvel. Ele teria, inclusive, bloqueado a saída com um colchão em chamas para impedir a fuga delas.

As duas mulheres chegaram a ser retiradas do local com vida por vizinhos e conseguiram apontar Rodrigo Marotti como autor do crime, mas não resistiram aos ferimentos. Daniela morreu no dia seguinte e Alessandra dois dias depois, ambas com 80% dos corpos queimados.

Marotti, portanto, se tornou réu por duplo feminicídio. O engenheiro tentou fugir do local do crime, mas foi preso logo depois, em flagrante, e aguarda julgamento em uma unidade prisional no Rio de Janeiro.

Alessandra Vaz e Rodrigo Marotti passaram cerca de três anos juntos e estavam separados há pouco mais de um quando o crime aconteceu.

Andresa, irmã de Alessandra, disse a Universa que não acompanhou de perto a relação entre ela e Rodrigo porque viviam em cidades diferentes - Andresa em Poços de Caldas (MG) e Alessandra em Nova Friburgo (RJ). Mas conta que, pelo que a irmã dizia, ele era agressivo e nada carinhoso.

Número de feminicídios é alto no Brasil

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública relativos ao primeiro semestre de 2021 mostram que, por aqui, uma mulher é vítima de feminicídio a cada seis horas - isto é, em média quatro mulheres morrem todos os dias apenas por serem mulheres.

Assim como aconteceu com Alessandra e Daniela, 75% dos casos de feminicídio no Rio de Janeiro ocorrem dentro de casa e 78% das vezes quem comete o crime é o ex-companheiro da vítima - os dados fazem parte do Dossiê Mulher 2021, do Instituto de Segurança Pública.