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Marotti não recebe pena máxima: 'Perdi a fé na justiça', diz irmã de vítima

Em 2019, Marotti teria trancado a ex, Alessandra Vaz, e sua amiga Daniela Mousinho em um banheiro e ateado fogo na casa.  - reprodução/ internet
Em 2019, Marotti teria trancado a ex, Alessandra Vaz, e sua amiga Daniela Mousinho em um banheiro e ateado fogo na casa. Imagem: reprodução/ internet

Vitória Nogueira

Colaboração para Universa, de Nova Friburgo (RJ)

10/02/2022 04h00

A sensação de impunidade é o que mais prevalece entre as familiares de Alessandra Vaz e Daniela Mousinho, mortas em outubro de 2019, após o empresário atear fogo na residência onde ambas estavam. No julgamento, que encerrou na madrugada de quarta-feira (9), Rodrigo Alves Marotti, de 33 anos, foi condenado a 19 anos e 4 meses de prisão em regime fechado pelos crimes de incêndio qualificado com resultado em morte e furto praticado durante o repouso returno. No entanto, após mais de 12 horas de sessão, o júri popular desclassificou a conduta como homicídio doloso. Eles entenderam que o acusado não teve a intenção direta de matar.

Em entrevista a Universa, Andresa Vaz, irmã de Alessandra, demonstrou muita tristeza e, entre lágrimas, disse "não há nada de bom no dia de hoje. Estou completamente devastada, sem forças nenhuma. Perdi a fé nos homens e na justiça." Em seu perfil no Instagram, Andresa se declarou "sem forças". Ela vinha lutando abertamente em campanha nas redes sociais para tornar o caso ainda mais conhecido e expressou diversas vezes que o desejo da família por justiça e de penalidade máxima.

Luiza Mousinho, filha de Daniela, apesar de também estar vivendo um dia muito difícil e delicado, como relatou em áudio a Universa, disse que está se preparando para lutar por mudança. "A gente vai começar a cobrar e pressionar ainda mais. Se eles acham que a gente vai ficar calado, a gente não vai. Se eles acham que a gente vai aceitar isso, a gente não vai", afirmou, se referindo ao resultado do julgamento.

Em outubro 2019, ele teria trancado as duas amigas no banheiro e ateado fogo na casa. Ambas faleceram por causa das queimaduras. Os familiares das vítimas, que esperavam pena máxima, se dizem insatisfeitos e injustiçados.

A sentença foi dada durante a madrugada desta quarta-feira (9) pela juíza Simone Dalila Nacif Lopes, e causou clima de comoção no fórum. O MPRJ já recorreu para submeter o acusado a um novo júri, na intenção de reconhecer o duplo feminicídio. A defesa, por sua vez, interpôs recurso.

Famílias esperavam que pena fosse exemplo

Dias antes do julgamento, familiares das vítimas começaram uma campanha nas redes sociais para pedir que ele recebesse a pena máxima pelos crimes. Pouco antes do início da audiência, Andresa disse, em entrevista a Universa, que tinha certeza que o réu seria acusado, mas que na sua campanha e luta seria para conseguir pena máxima. "Mas a gente sabe que dentro da lei do nosso país existem brechas para que isso não aconteça."

Para a filha de Daniela, Luiza Mousinho, e a irmã de Alessandra, Andresa, uma sentença condenando Rodrigo Marotti à pena máxima faria justiça não só pelas vítimas dele, mas por outras mulheres vítimas de feminicídio no Brasil - o país é o quinto no ranking de morte de mulheres no mundo.

"A pena máxima será um recado para todos os homens de que as ações violentas que cometem contra as mulheres todos os dias não vão mais passar impunes. Não vamos mais ficar caladas", falou Andresa, irmã de Alessandra, em entrevista concedida a Universa na véspera do julgamento.

Alessandra Vaz e Daniela Mousinho teriam sido trancadas em uma casa em chamas; elas morreram dias depois - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Alessandra Vaz e Daniela Mousinho teriam sido trancadas em uma casa em chamas; elas morreram dias depois
Imagem: Arquivo pessoal

Relembre o caso

Em outubro de 2019, o empresário Rodrigo Marotti teria trancado a ex-namorada Alessandra Vaz e a amiga dela Daniela Mousinho, ambas com 47 anos anos na época do crime, no banheiro da casa da artista plástica, no bairro de Mury, e ateado fogo no imóvel. Ele teria, inclusive, bloqueado a saída com um colchão em chamas para impedir a fuga delas.

As duas mulheres chegaram a ser retiradas do local com vida por vizinhos e conseguiram apontar Rodrigo Marotti como autor do crime, mas não resistiram aos ferimentos. Daniela morreu no dia seguinte e Alessandra dois dias depois, ambas com 80% dos corpos queimados.

Marotti, portanto, se tornou réu por duplo feminicídio. O empresário tentou fugir do local do crime, mas foi preso logo depois, em flagrante, e aguarda julgamento em uma unidade prisional no Rio de Janeiro. Em razão dos crimes cometidos serem considerados dolosos, ou seja, com intenção de matar, ele está sendo submetido a júri popular na 1ª Vara Criminal de Nova Friburgo, presidido pela juíza Simone Dalila Nacif Lopes.

Número de feminicídios é alto no Brasil

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública relativos ao primeiro semestre de 2021 mostram que, por aqui, uma mulher é vítima de feminicídio a cada seis horas - isto é, em média quatro mulheres morrem todos os dias apenas por serem mulheres.

Assim como aconteceu com Alessandra e Daniela, 75% dos casos de feminicídio no Rio de Janeiro ocorrem dentro de casa e 78% das vezes quem comete o crime é o ex-companheiro da vítima - os dados fazem parte do Dossiê Mulher 2021, do Instituto de Segurança Pública.