Volta às aulas e alta da ômicron: quais cuidados ter com meu filho?
Na última segunda-feira (7/2), as redes de ensino de sete estados e sete capitais voltaram às aulas. Em Alagoas, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina, o ano letivo começou em formato 100% presencial, com as turmas completas, em todas as escolas da rede estadual. O mesmo aconteceu com a rede municipal de Vitória, Cuiabá, Boa Vista, Rio de Janeiro e São Paulo.
No entanto, ao mesmo tempo que para os pais e para as próprias crianças a sensação é de alívio, de retomada à vida normal, a situação preocupa, uma vez que os novos casos de covid-19 estão em alta na maior parte do país. Só na segunda, o primeiro dia de aula, foram registrados 3.585 novos casos. A alta está ligada à chegada da variante ômicron, que apesar de ser aparentemente mais leve, tem um alto índice de contágio. Mas é praticamente consenso entre os especialistas que a volta às aulas deve, sim, prosseguir.
"Lugar de criança é na escola. Elas já sofreram demais nesses dois anos e precisam voltar", afirma a médica infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em entrevista a Universa. Ela aproveita para reforçar que a vacinação infantil já está acontecendo: "Se a criança já estiver vacinada antes de voltar para a escola, excelente", reforça. Hoje temos duas vacinas disponíveis para as crianças acima de 5 anos. "A CoronaVac, inclusive, tem uma tecnologia já muito conhecida - por isso digo aos pais com receio, que não tem nada de novo ou diferente nessa vacina. O único questionamento que temos é por quanto tempo ela vai proteger. Mas do ponto de vista de segurança, eles podem ficar tranquilos", garante.
A médica acrescenta: "As próprias crianças se sentem mais aliviadas depois da vacina. Dependendo da idade, esse assunto já pode ser conversado, compartilhado. As crianças querem a vacina, conversam com os amigos já vacinados. Elas se sentem felizes sabendo que podem vacinar também".
E se um colega do meu filho testar positivo para covid?
Cada escola, em teoria, tem seus próprios protocolos no caso de um aluno positivar para covid - o que pode envolver, por exemplo, a suspensão das aulas de toda a classe daquele estudante. Isso é importante para avaliar se existirão casos secundários. "Quando há um caso positivo, os casos secundários podem aparecer após um período de 72 horas a cinco dias. É um prazo razoável para entender a disseminação que o vírus pode ter tido", explica Rosana.
A partir daí, se a criança estiver assintomática, não é necessário fazer um teste logo de cara. "Pode esperar essas 72 horas. O que não pode é mandar a criança que teve contato com esse aluno que se infectou de volta para a escola sem ela ter sido testada", afirma a infectologista. Se a criança passar sete dias sem sem sintomas, pode voltar para a escola. "A não ser que ela esteja com sintomas - nesse caso, faz o teste antes, assim que os sintomas aparecerem".
Uma situação assim aconteceu com a jornalista Leonor Costa, 45, de Brasília, mãe de Naomi, de dois anos e meio. No ano passado, sua filha estava frequentando a creche quando a escola fechou por duas vezes por conta de casos positivos entre as crianças - um delas justamente de um coleguinha próximo. "A escola nos avisou e suspendeu a aula da turma durante 15 dias, contando a partir de quando a criança começou a apresentar os sintomas", lembra. "Recentemente, nossa família teve covid e ficamos isolados em casa. Naomi toda hora pedia para descer, brincar, então tivemos que conversar bastante com ela. A gente precisou explicar a situação e, hoje, acho que ela já entende como essas coisas funcionam", conta.
Para Leonor, a decisão de mandar a filha de volta para a creche foi difícil. "Mas a situação começou a ficar inviável. Eu e meu marido estávamos trabalhando muito. Assim que a creche reabriu ficamos um tempo sem coragem de mandá-la. Mas chegou um momento que a decisão precisou ser tomada. Ao mesmo tempo que precisávamos trabalhar, ela não podia mais ficar trancada dentro de casa. Precisava conviver com outras crianças. Existe a preocupação de expô-la a outras crianças, funcionários e professores da escola", diz a Leonor. A mãe acredita que esse medo se estenderá ao longo desse ano letivo. "Afinal, ela terá contato com outras crianças que têm uma vida fora da escola, não sabemos a rotina dos pais, a realidade dos professores? Sei que eles se cuidam, mas todos estão sujeitos a pegar", reflete.
Por ser mãe de uma criança de pouco mais de dois anos - faixa etária que ainda não pode ser vacinada, Leonor considera que o alerta deve ser ainda maior em casos de sintomas. "Os protocolos precisam ser seguidos de forma rigorosa e o cuidado deve ser redobrado", diz.
E se o meu próprio filho estiver com suspeita de covid?
"A primeira coisa é deixar a criança em casa - isso é fundamental", alerta a médica. "Qualquer sintoma neste momento atual da pandemia já é motivo para afastar a criança da escola e testá-la para covid. É importante também avisar a escola, principalmente se o resultado der positivo. É responsabilidade dos pais", completa.
Além disso, é essencial não se atentar apenas aos sintomas gripais. "O quadro respiratório é o mais comum, mas as crianças muitas vezes podem começar apresentando enjoo, diarreia, e pode ser covid. Diante de um quadro assim, já vale observar a criança pelas próximas 24 horas. Normalmente, no caso do coronavírus, depois desse período começa a febre, o mal-estar", diz. A testagem e o rápido afastamento são bem importantes ao perceber esses sintomas.
Cuidados no ambiente escolar
Dentro da escola, professores podem ajudar a minimizar os riscos de contaminação por covid dentro do ambiente escolar com orientações amparadas nos protocolos sanitários, rodas de conversas com os alunos sobre a doença, sintomas e casos. "Lembrar as crianças da obrigatoriedade do uso correto das máscaras, principalmente para os alunos mais resistentes a elas; do uso de álcool gel; da higienização das mãos; do respeito, na medida do possível, ao distanciamento social; e da importância de não compartilharem seu material escolar", diz Kátia Lomonaco, professora da Rede Estadual de São Paulo.
No caso de notar um estudante com sintomas, a professora afirma que o procedimento em sua escola é isolar imediatamente o aluno, notificar os pais ou seu responsável e orientá-los a procurar a UBS mais próxima. "Mas cabe aos pais também ficarem atentos, conversando sempre com a criança sobre a importância de manter os protocolos sanitários não só na escola, mas também em qualquer outro ambiente que ela esteja frequentando, e levá-la para vacinar assim que for possível. E no caso dela começar a apresentar sintomas em casa, já afasta-la da escola e avisar a coordenação", acrescenta.
Kátia também é totalmente a favor da volta às aulas presencial: "Os alunos comentavam direto que não conseguiam se concentrar nas aulas online; era algo que os desmotivava especialmente pela falta de interação. Na sala de aula, o professor está mais próximo ao aluno, consegue perceber melhor quem está com dificuldade", diz.
Além disso, a professora lembra que nem todos os alunos têm acesso à tecnologia, para participar das aulas online e fazer as atividades geradas na plataforma digital, e que muitos dependem da alimentação oferecida na escola - muitos, ainda mais nesse momento de crise, não estão conseguindo se alimentar em quantidade e qualidade adequadas.
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