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Mulheres contam como dança se tornou 'válvula de escape' durante pandemia

A professora de dança Adriana Angelelli diz que pedidos por aulas online aumentaram no isolamento - Reprodução
A professora de dança Adriana Angelelli diz que pedidos por aulas online aumentaram no isolamento Imagem: Reprodução

Tainá Goulart

Colaboração para Universa

14/02/2022 04h00

Coreógrafa e sócio-fundadora da WA Danças, em São Paulo, Adriana Angelelli precisou repensar a forma de dar sua aula de Modern Jazz, uma vertente que mistura vários gêneros, por causa da pandemia. Apesar de o número de alunos presenciais ter diminuído muito, os pedidos para aulas online só aumentaram. "Os alunos precisavam dessa atividade para manter a sanidade mental", conta Adriana.

Se movimentar, mesmo que na sala de casa, foi uma das alternativas encontradas por muitas pessoas para apaziguar os medos e anseios da crise sanitária, e Cinthia Quadrado, 28, jornalista e moradora de Santo André, na região metropolitana de São Paulo, está nesse grupo. "Comecei a dançar em casa por causa do isolamento, e foi mais por diversão. Conseguia me sentir mais leve e tranquila com as aulas", recorda.

A dança como terapia

Alexandre Valverde, médico psiquiatra e escritor, aponta que a dança é uma grande aliada no tratamento de ansiedade e depressão, por exemplo, assim como o ioga e a meditação, que até estão entre as atividades complementares oferecidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

"O estado de vigilância, como a ansiedade, é algo natural para o nosso corpo, é um ato de defesa, como se a gente estivesse sendo ameaçado e se preparando para correr ou lutar. Porém, quando há um prolongamento disso, que é o que tem acontecido com muita gente na pandemia, há prejuízos, como o excesso do hormônio de cortisol, que pode afetar várias funções do corpo", explica o especialista.

Em seus atendimentos, Valverde costuma indicar a dança, em qualquer estilo, como parte do tratamento de algumas condições. "A dança atua como um recurso extra de autoconhecimento. Assim como nós cuidamos do nosso corpo com os exercícios físicos, deveríamos olhar para a saúde mental da mesma forma, procurando alternativas artísticas para nos expressarmos", reflete o médico. Segundo ele, quando dançamos, há liberação de endorfina e oxigenação dos tecidos e do cérebro, fazendo com que o corpo fique mais disposto e revigorado.

Com dificuldades de concentração e em tratamento com uma psicanalista, a consultora de imagem Tai Gomez, 35, tem utilizado a dança para se sentir melhor com ela mesmo. Com as aulas de "heels dance", feitas com salto alto, diz ter sentido melhora tanto na parte física quanto na psicológica. "É um combo: faço atividade aeróbia e cuido do equilíbrio da minha mente", diz. "Além disso, com o salto, me sinto mais sexy e poderosa, sem contar que estou ampliando meu conhecimento corporal.

"É gostoso poder dançar em casa, com as aulas online. Antigamente, eu tinha vergonha de ir até uma academia, mas, com esse recurso digital, fui ganhando confiança e vejo as danças urbanas como uma atividade libertadora", afirma Tai.

Ao dar aulas virtuais, Keila Fuke, coreógrafa e criadora do método Dança Integral, que mistura técnicas de dança, meditação e ioga, percebeu uma grande evolução de seus alunos.

"A maioria dessas pessoas estavam com ansiedade, depressão, corpos rígidos, sobrepeso e com medo da morte. Ao meu ver, o momento levou muitas pessoas para um despertar da consciência, a de olhar para si, para como estava a casa interna e externa, como estava seu corpo e mente."

Danças de redes sociais são incentivo extra

Adriana afirma que o TikTok, rede social lançada em 2016 e famosa por seus conteúdos de desafios das 'dancinhas', tem aumentado a procura das pessoas por aulas. "O aplicativo fez muita gente se despir de alguns preconceitos em relação a si. Então, dançar despretensiosamente na frente da câmera do celular virou algo normal e gostoso de se fazer", diz.

"Em conjunto, as danças urbanas, como o video dance [que ensina coreografias de videoclipes], hip hop e pole dance aumentaram sua popularidade", ressalta a coreógrafa.

O que preciso saber antes de começar a dançar?

Segundo o ortopedista Nemi Sabeh Jr., a dança é uma atividade física e, por isso, quem for praticá-la precisa ter cuidados como qualquer outro esportista amador. "É de extrema importância fazer exames antes e se atentar para as três divisões do corpo: flexibilidade, mobilidade e força. Se a pessoa conseguir, também indico fazer outras atividades em paralelo, como pilates, que são formas de ganhar ainda mais recursos para executar os movimentos com precisão e refinamento."

"É muito importante respeitar os limites de cada corpo e dar atenção a dores, por exemplo. Antes de iniciar a aula de dança, é importante que seja feito um bom aquecimento com foco no trabalho daquela aula. Seguir as orientações do seu professor é fundamental para que você tenha uma aula sem risco de lesão", pondera Karina Galasso, bailarina, fisioterapeuta e sócia-proprietária do StudioK Escola de Danças.