Ela transforma resíduos em negócio voltado para mulheres de baixa renda
Durante muitos anos, a curitibana Ariane Santos, 43, trabalhou em grandes empresas. Formada em administração e design, ela sempre se considerou uma pessoa ativa, que vive em um ritmo acelerado. Até que um problema de saúde fez tudo mudar. "Minha família sempre foi meu porto seguro e, quando minha avó ficou doente, parei tudo para cuidar dela. Depois de dois anos, ela partiu. Entrei em depressão profunda", conta. Com suporte familiar e muita vontade de melhorar, ela se recuperou disposta a recomeçar sua vida.
Foi durante essa mudança que nasceu, em 2014, a Badu Design, negócio social que tem como propósito ajudar pessoas por meio da arte, do design sustentável e do empreendedorismo.
"Sou uma mulher preta nascida no sul e queria me reconectar com a minha história e minha ancestralidade. Como sempre gostei de fazer trabalhos manuais e cresci vendo meus familiares fazendo, decidi transformar isso em negócio", ressalta a empreendedora, que criou a empresa com apenas R$ 30. "Era tudo o que eu tinha naquele momento. Costurei alguns cadernos e levei para uma papelaria. Foi um sucesso", conta.
Mais do que um recomeço, a história da Badu se mistura com a de Ariane. "A empresa nasceu depois de um período pessoal de muita reflexão. Nossa ideia é usar o design e reconhecer a potência das mulheres. Nesse tempo, entendi a força do coletivo, da sororidade", afirma.
Segundo a empreendedora, a empresa vai além de vender materiais de papelaria, acessórios e artigos de decoração. "Trabalhamos com a economia circular e nossa causa é o empoderamento feminino", diz.
"Desenvolvemos nossos produtos usando resíduos têxteis, a matéria-prima que já está no mundo e seria descartada", explica Ariane. A empresa tem parceria com algumas companhias da área, que fornecem os materiais que seriam desprezados e compram os produtos feitos a partir deles.
A produção fica por conta de uma rede de mulheres em vulnerabilidade social que é capacitada pela própria Badu Design. "Elas aprendem sobre design, empreendedorismo e produção para que possam ser donas do próprio negócio. Além de vender em nossa loja online, fazemos a ponte entre essas mulheres e as empresas que descartam tecidos", diz. Assim, é possível garantir que elas terão uma renda a mais.
Conciliar lucro e impacto social é possível
Ao longo desses anos, a Badu Design já impactou cerca de 1.700 mulheres no Paraná e ganhou reconhecimentos de iniciativas de incentivo a empreendimentos sociais, como o Prêmio Acolher, da Natura, e o concurso Hora de Brilhar, da Unilever. Agora, a empresa se prepara para expandir para São Paulo, Salvador e Rio Grande do Sul. Além da venda dos produtos e a parceria com organizações, a Badu leva o tema economia circular para dentro das empresas, por meio de cursos de capacitação e workshops.
"Tive que olhar para esse negócio, que é social, também com um viés de negócio, para que ele fosse financeiramente sustentável. Hoje, as empresas são muito cobradas pelo consumidor sobre como descartam seus resíduos. E é aí que geramos valor: entregamos um produto com qualidade e design, quebrando a falsa ideia de que material reutilizado é malfeito ou mal-acabado. É bom para todo mundo, mas ainda é um desafio fazer com que as empresas percebam isso", ressalta Ariane.
Segundo ela, a ideia levar o empreendimento para outros lugares do Brasil e, também, para fora do país. "Vamos construir uma nova sede do zero, toda feita com resíduos e com ajuda da comunidade", completa.
O objetivo é levar a economia circular para o dia a dia das pessoas. "Estamos sempre pensando em como podemos transformar nossa comunidade. A Badu deu certo porque acreditei em mim mesma e tive coragem de colocar meus sonhos no mundo. É sobre saber que não estou sozinha, que posso contar com outras pessoas. Esse é o segredo: compartilhar, criar redes. Construímos muito mais quando estamos em conjunto".
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