Mulher tem úlcera nos olhos após alongar cílios: 'Cola parecia SuperBonder'
O que seria um procedimento estético simples acabou levando a autônoma Deusa Kannon a quase perder a visão. Segundo ela, um erro da profissional que a atendeu para um alongamento de cílios no salão de beleza Werner Coiffeur, localizado em Taipu, bairro do Rio de Janeiro, causou uma queimadura de segundo grau e uma úlcera desenvolvida no olho direito. O salão nega.
A autônoma ainda precisou realizar blefaroplastia, procedimento para remover parte das pálpebras. Segundo uma dermatologista consultada por Universa, isso pode ter ocorrido pelo uso de material de procedência duvidosa.
"Cheguei no horário marcado, mas a esteticista se atrasou. Estava nervosa por causa do tempo curto e disse que realizaria uma técnica nova, mais rápida. Me pediu para deitar na maca e fechar os olhos", lembra Deusa.
Ela diz ter sentido um cheiro forte de cola na hora do procedimento e afirmou que a cola "parecia SuperBonder". Mas foi tranquilizada pela esteticista. "De repente, ela se atrapalhou e esbarrou no pote de cola que estava apoiado na minha testa. O líquido caiu no meu rosto e, como ela não estava com o produto removedor por perto, decidiu passar acetona no local."
Do salão, que fica dentro de um shopping em Niterói, Deusa deveria que ter sido levada às pressas para o hospital, de acordo com especialistas ouvidos por Universa. Mas isso, segundo ela, não aconteceu.
Negligência na hora do socorro
"A esteticista se negou a chamar a ambulância, pois estava com medo de ser demitida", lembra Deusa. A cliente conseguiu, por meio do celular, entrar em contato com sua mulher, que foi até o local para resgatá-la. De acordo com Deusa, os bombeiros do shopping também não prestaram os primeiros socorros adequados.
Saí pelas portas do fundo do shopping, com uma toalha no rosto, como se fosse um fugitiva.
Ao chegar ao hospital, a autônoma teve que ser medicada para aguardar avaliação médica. Ela foi encaminhada do Hospital de Olhos para o Niterói-DOR e teve que passar por um procedimento de remoção total dos cílios (direito e esquerdo), com bisturi e anestesia local.
Como o local ficou inflamado, Deusa só pôde passar por uma cirurgia plástica cerca de 20 dias depois. Na ocasião, por causa de queimaduras de segundo grau e uma úlcera desenvolvida no olho direito, a autônoma precisou realizar blefaroplastia, procedimento para remover parte das pálpebras.
"Fiquei dias sem conseguir fechar os olhos por completo. Sou muito nova para passar por essa cirurgia, não tinha pele o suficiente. Não podia encostar na região, tive que cortar as unhas para não ter nenhum risco de ferir o local. Toda noite, para dormir, era preciso colar os olhos com um gel especial. Foi desesperador", compartilha.
Hoje, quase quatro meses depois da cirurgia, Deusa ainda lida com os traumas do procedimento. Ela começou a fazer terapia, foi proibida de tomar sol e deverá ficar sem maquiagem até recuperação total da região —o que levará, no mínimo, mais seis meses. "Pedi para a minha mulher tirar todos os espelhos de casa. Não consigo mais me ver. Me acho horrorosa."
Para ela, porém, o maior problema foi o descaso com que foi tratada: "Ninguém nunca se desculpou".
Por meio de nota, o salão de beleza em que Deusa fez o procedimento disse que as denúncias não procedem. "As acusações foram feitas com o intuito de desmoralizar não só a empresa, como também nossa funcionária —uma profissional altamente qualificada."
A vítima registrou boletim de ocorrência contra o salão.
Cuidados necessários com o procedimento
O procedimento realizado nos cílios de Deusa é chamado de "alongamento 3D" e é feito fio-a-fio, com custo médio de R$ 350.
A médica Danielle Aguiar, membro titular da sociedade brasileira de dermatologia, explica que o procedimento, quando realizado de maneira incorreta e com material de procedência duvidosa, pode causar irritação, alergia, inflamação intraocular, conjuntivite alérgica e até alopécia de tração (um tipo de perda de cabelos causada por tensão dos fios).
"É um procedimento sério, que deve ser feito com profissionais experientes e materiais de qualidade. Eu, inclusive, recomendo o uso de medicação natural para crescimento dos fios; acho mais seguro", finaliza a médica.
Em nota, a Werner Coiffeur se pronunciou sobre o assunto e diz que irá apurar os fatos com o franqueado da loja:
"Tomamos ciência da situação ocorrida e imediatamente acionamos o franqueado da loja, para apuração dos fatos. Em paralelo nossa área de pós atendimento, juntamente com o franqueado, fez contato com a cliente novamente para continuar oferecendo a assistência e apoio necessários.
A Empresa Werner Coiffeur lamenta profundamente o ocorrido e reforça que continua apurando os fatos. Nos colocamos à inteira disposição da cliente, para prestar todo o suporte e acolhimento."
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