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Após perder tudo em enchente de 2011, mulher socorre mães em Petrópolis

Daniela Freitas recebe doações em sua casa e conta com ajuda de voluntários para distribuir material - Zô Guimarães/UOL
Daniela Freitas recebe doações em sua casa e conta com ajuda de voluntários para distribuir material Imagem: Zô Guimarães/UOL

Luiza Souto (texto) e Zô Guimarães (foto)

De Universa, em Petrópolis (RJ)

22/02/2022 10h48

Na sala de sua casa no bairro de Corrêas, em Petrópolis, a doula Daniela Freitas, 44, quase some em meio a sacos com alimentos, roupas para bebês e gestantes e kits de higiene pessoal: desde terça-feira (15), quando a cidade serrana do Rio de Janeiro foi atingida por um forte temporal que deixou a maior quantidade de vítimas da história do município ela está incansável na busca por doações para grávidas e puérperas. Entre elas a autônoma Adriana da Silva Ferreira, que entrou em trabalho de parto enquanto as casas eram soterradas a sua volta.

Dani mora em uma casa simples, de quatro cômodos, na comunidade da Glória, onde recebe a reportagem de Universa e conta que hoje precisa da solidariedade de motoqueiros e amigos para distribuir todas as sacolas por Petrópolis. Ela mesma foi vítima das enchentes de 2011 e sabe bem a importância de ajudar o outro. "Naquela época, fiquei embaixo d'água na casa onde morava e só saí quebrando um muro com uma marreta. Me reergui com muito apoio", lembra.

Cada kit que Dani monta com a ajuda do filho de 16 anos, do marido e de amigas, leva uma etiqueta com a descrição da mãe que irá receber a doação. Nelas, lê-se "Marilene do leite", "Camila da diabete" e por aí vai. "Conheço elas pela necessidade", explica.

A doula Daniela Freitas ajuda mães em Petrópolis - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Daniela Freitas ampara a autônoma Adriana Ferreira, que deu à luz em meio à tragédia de Petrópolis
Imagem: Zô Guimarães/UOL

Solidariedade começou com dor

Daniela conta que presenciou um caso de violência obstétrica na família, em 2017: a parente passou horas esperando pelo médico, sofreu manobra de Kristeller e episiotomia. "Quando colocaram o neném em seu peito, ele já estava morto. Sofreu muito", ela afirma.

Revoltada com a situação, organizou um protesto em frente à maternidade onde tudo aconteceu, e a partir dali entendeu que precisava dar suporte a mulheres em situação de vulnerabilidade.

Assim nasceu o Reage Mãe, que conta hoje com sete profissionais voluntárias, entre advogadas e psicólogas, para orientar desde o pré-natal ao puerpério.

Além disso, fora toda a questão da pobreza e falta de informação, Daniela conta que quando alguma mãe decide buscar seus direitos, é julgada por ter mais de um filho, como se uma mulher com menos recursos financeiros não tivesse o direito à maternidade.

Muitas vezes ela mesma quem faz a denúncia das violências que testemunha. "Muitas não sabem nem reconhecer o que é uma violência obstétrica, ou onde denunciar, ou mesmo não conseguem marcar uma ultrassonografia, então damos orientações, e ainda encaminhamos para o Cras (Centro de Referência da Assistência Social)", fala.

Recentemente, Daniela passou a contar com o apoio da Casa da Cidadania, que oferece assistência social, psicólogas e advogadas além de atividades como yoga. O espaço, aliás, também precisa de doações, principalmente para crianças, aponta a coordenadora da instituição, a assistente social Rosane Birsato.

Hoje o Reage Mãe tem 70 mulheres cadastradas para receber kits e apoio mensalmente. Tudo adquirido com doações. Desde terça-feira passada, quando as enchentes deixaram mais de 152 mortos, 191 desaparecidos e mais de 700 desabrigados na cidade, a demanda mais que dobrou. Dani segue firme e disponibiliza seu contato 24h por dia para mulheres que precisam de ajuda. "É tudo na garra e por amor", diz.