Galisteu diz que teve ajuda de ama de leite; termo remete à escravidão
Mãe de primeira viagem das gêmeas Kim e Tiê, de 4 meses, a atriz Nanda Costa foi ao Instagram há duas semanas perguntar o que foi mais difícil para as seguidoras que são mães —e até sugeriu uma live para falar do tema. Mas o que repercutiu mesmo foi a resposta da apresentadora Adriane Galisteu. No texto, ela disse que a amamentação não foi fácil para ela e que, quando se deu conta, "tinha ama de leite em casa me ajudando a lidar".
O termo é racista, porque refere-se à escrava que alimentava os filhos das mulheres brancas quando elas não podiam amamentar.
Após as críticas, a artista, que é mãe de Vittorio Iodice, 11, publicou um vídeo em sua página no Instagram pedindo desculpas pelo termo errado e inadequado que usou, nas palavras dela. Disse a artista:
"A quem eu magoei, me perdoem pela minha ignorância. E aproveitar para dizer que não adianta vestir um terno que não cabe em mim. Se tem um terno que não cabe em mim é o da racista e preconceituosa. Essa não sou eu e esse terno eu não visto de jeito nenhum."
"Fala é extremamente violenta"
No próprio perfil de Nanda Costa, muita gente apontou o erro. "Sou historiadora e não sabia que havíamos retrocedido tanto a ponto de voltar à escravidão. Lei Áurea foi revogada ou é só 'a força do hábito' de gente branca reforçando estereótipos?", questionou uma seguidora.
Outra concluiu que pouca coisa mudou. "Ler um comentário desse sangra meu coração e alma. Parece que não evoluímos muito não", ela escreveu.
Ao ser marcado no post, o arquiteto e ativista Antônio Isuperio escreveu um longo texto apontando que a fala é extremamente violenta. Ele diz:
"Muitos dos meus irmãos morreram por serem alimentados com farinha de mandioca quando o leite de nossas mães era utilizado para alimentar a casa grande. Os bebês de mulheres escravizadas tinham poucas chances de sobreviver".
E conclui: "A liberdade das mulheres brancas sempre foi à custa das mulheres negras".
Na avaliação da escritora Joice Berth, a ama de leite é uma figura que ainda não saiu do imaginário brasileiro. A Universa, ela pontua que a falta de discussão sobre o racismo no Brasil leva ao que a psicanálise freudiana chama de ato falho, como a frase dita por Galisteu.
"Acho que as mulheres brancas não têm senso crítico muito apurado para falar dessa questão, porque eu tenho visto muitas manifestações que não são explícitas, mas que deixam claro que o Brasil ainda deseja ter amas de leite", ela afirma.
Joice acrescenta ainda que não tem como discutir opressão maternal sem debater a questão racial:
"No passado, as mulheres negras assumiram a função que as mulheres brancas tanto reclamam. Tiveram que abandonar a possibilidade de ser mães. Então, a desvalorização da figura materna também passa por esses caminhos da desvalorização racial", explica.
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