Topo

SP: Motorista faz sucesso ajudando mulheres, de mudança a flagras em motéis

Elizandra publicou anúncio oferecendo serviços e se surpreendeu com os compartilhamentos - Eli Laços/Facebook/Reprodução
Elizandra publicou anúncio oferecendo serviços e se surpreendeu com os compartilhamentos Imagem: Eli Laços/Facebook/Reprodução

Pietra Carvalho e Lorena Barros

De Universa, em São Paulo

02/03/2022 20h34Atualizada em 02/03/2022 20h34

Elizandra Regina de Cândido, 47, vem fazendo sucesso por oferecer seus serviços como motorista apenas para outras mulheres, mas com espaço para "pedidos personalizados" — que vão desde companhia num exame ou aquela força para fazer uma mudança até a flagrantes em namorados infiéis, mesmo em motéis.

A ideia veio de sua busca por uma atividade alternativa já que a artesã de São Vicente, no litoral de São Paulo, viu a renda cair durante a pandemia, mas foi impedida de se cadastrar em aplicativos de corrida, dado o ano de fabricação do seu carro, hoje à disposição de centenas de clientes.

Em tom cômico, uma das mensagens de divulgação do trabalho dela publicada nas redes sociais teve um alcance inesperado, com mais de 7 mil compartilhamentos em três dias. "Quer esperar o marido na frente do motel? Te levo e ainda espero o bonito sair. Não pode pagar um psicólogo? Sou toda ouvidos para desabafos", disse na publicação.

Em conversa com o UOL, a motorista explicou que viu as demandas do seu trabalho "supérfluo", com produção de laços e fantasias infantis, ficando escassas durante a pandemia. Ela tentou abrir um pequeno comércio para lanches com ajuda da filha, mas não obteve o sucesso desejado e tentou seguir um novo caminho.

"Falei para a minha filha: 'preciso procurar alguma coisa pra fazer pra mim'. Minha filha começou a fazer unha para fora, porque ela é manicure, e eu falei assim: 'O que eu vou fazer da minha vida agora? Vou querer ser Uber'. Mas o Uber não aceita o meu carro, porque ele é antigo, é de 2011, eles querem carro mais novo.", lembra.

Por fora dos aplicativos, o trabalho "involuntário" de motorista surgiu com um pedido da avó para que Elizandra fosse ao mercado por ela, em troca de gasolina e uma quantia em dinheiro. Logo, pequenos serviços do tipo foram feitos para o resto da família. Um dia, ao ouvir a conversa da filha com amigas, ofereceu os primeiros serviços para fora da esfera familiar.

"Elas queriam ir para a balada, mas falaram que tinham medo; não da balada, mas porque os motoristas viviam desistindo das corridas e porque elas vão arrumadinhas, com decote e tal, e eles (os motoristas) vinham mexendo no carro", recorda. Uma das amigas da filha perguntou se ela não poderia fazer o serviço em troca do valor da corrida.

"Levei as meninas para a balada, fui buscar, e aí uma foi falando para a outra, que foi falando pra vizinhas, pras amigas, pra pessoas que eu não conhecia, e assim a minha vida continuou; e eu comecei a fazer esse serviço de motorista particular", diz. Hoje, ela fornece as corridas apenas para mulheres e se comunica com suas clientes majoritariamente por ligação no WhatsApp.

Pedidos inusitados vão de motel a prostíbulo

Elizandra é conhecida na cidade e atribui parte do sucesso nas corridas aos contatos que fez como artesã e até mesmo como jurada de concursos de beleza. Por transportar apenas mulheres, ela já precisou recusar alguns pedidos inusitados.

"Uma amiga perguntou pra mim se eu poderia me fingir de motorista de aplicativo para ver se o marido dela me cantava. Só que aí eu falei que não pego homem. No meu carro só entra mulher", explica. Ela costuma trabalhar com hora marcada, seja para retirar documentos, buscar pessoas na balada, no motel, ou até mesmo levar garotas de programa que evitam fazer corridas com motoristas homens.

Apesar de engraçada, a mensagem sobre ajudar a flagrar traições tem um fundo de verdade em uma experiência anterior dela na cidade. "Uma amiga da minha filha pediu para que eu a levasse até um prostíbulo, para achar o namorado dela, de madrugada. E ela achou ele lá", lembra.

Agora, a motorista, que adora trabalhar com o público e faz "melhores amigas" a cada nova corrida, sonha em ter um carro cor de rosa.

"Eu adoro trabalhar com o público; eu adoro a mulherada no meu carro. Elas entram eu estou quieta, mas eu olho e já dou um sorriso e a gente começa a papear", pontua.