Pesquisadora Valeska Zanello aponta plágio em post de João Marques: 'Podre'
Há 25 anos estudando a saúde mental das mulheres, a pesquisadora e psicóloga Valeska Zanello passou um ano dedicando 15 horas do seu tempo por dia, de domingo a domingo, para escrever o livro "Saúde Mental, Gênero e Dispositivos: Cultura e Processos de Subjetivação". Colocou nele três anos de material coletado. E, depois de todo o esforço, conta que viu sua obra plagiada pelo estudante de psicologia João Marques, que faz sucesso no Instagram falando sobre comportamentos masculinos.
A Universa, João disse que em breve fará uma retratação, e que está tentando contato com Valeska.
Plágio em trabalhos acadêmicos é crime. Segundo o Código Penal, a pessoa que copia a obra alheia está sujeita a multa e até a detenção de três meses a um ano.
Valeska é pós-doutora em psicologia clínica, graduada em psicologia e em filosofia, professora adjunta do Departamento de Psicologia da UnB (Universidade de Brasília), orientadora de mestrado e doutorado no Programa de pós-graduação em Psicologia e coordena o grupo de pesquisa de saúde mental e gênero do CNPq.
Em um post publicado em seu perfil no Instagram, nesta quinta-feira (3), ela conta que há um ano e meio foi surpreendida com "o plágio descarado de um estudante de psicologia que se apresenta como escritor, palestrante e pesquisador".
E segue descrevendo que na ocasião foi alertada por seguidoras de que João estava usando trechos de seu artigo "Masculinidades, Cumplicidade e Misoginia na Casa dos Homens: Um estudo sobre os grupos de WhatsApp masculinos no Brasil". Na obra, ela reuniu 634 posts com piadas misóginas e fotos íntimas em grupos masculinos de mensagem por aplicativo no Brasil.
Valeska aponta que algumas mulheres que conhecem o seu trabalho pediram para o estudante dar crédito a ela, mas afirma que, além de ele não ter atendido aos pedidos, bloqueou essas pessoas da sua conta no Instagram.
Na tarde de ontem, ela contabiliza, recebeu o terceiro alerta de plágio. Primeiro, Valeska disse que tentou entrar na página de João, no Instagram, e descobriu que estava bloqueada. Entrou então com a conta de um amigo, e viu ali trecho do seu livro postado, sem referência.
"Ele copiou uma frase super importante do meu livro e que já foi dita até no 'Fantástico', que é a de que homens aprendem a amar muitas coisas e mulheres aprendem a amar os homens. Fiquei muito revoltada. Isso é triste. Não custa fazer referência", disse ela a Universa após informar que está tomando medidas judiciais.
Valeska descobriu também que João usa outras frases do livro, como "Nas relações, mulher dá 90%, e homem, 10%".
"Isso tem muito a ver com a sociedade do espetáculo que quer resultado imediato. E parece que é comum. É para a gente pensar", ela observa.
"No final, nós, mulheres, temos que contar umas com as outras. E ter o pé atrás quando o homem se apresenta como desconstruidão. É podre", conclui.
João Marques se pronuncia: "reconheço que cometi um erro"
No fim da tarde de sexta-feira (4), João postou em seu perfil no Instagram o que chamou de "pronunciamento e retratação a Valeska Zanello, meus seguidores, seguidoras e demais pessoas". No texto, ele admite o plágio do material de Valeska e de outros pesquisadores.
O estudante também diz que irá conversar com Valeska e incluir a fonte de todos os seus posts anteriores e futuros. "Quero pedir desculpas pela inviabilização e silenciamento e vou aguardar o momento em que ela sentir que deve falar comigo", afirma.
João também afirma que sofreu uma onda de ataques racistas de ontem para hoje. "Isso me dói especialmente". Por fim, afirma que quer seguir com seu trabalho de forma mais responsável. "Não invisibilizando autoras e pesquisadoras mulheres mas trazendo assuntos importantes e conectando às suas fontes".
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