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Penna pede cassação de Do Val, mas prevê impunidade: 'Machismo prevalece'

José Antonio Teixeira/Alesp
Imagem: José Antonio Teixeira/Alesp

Rute Pina

De Universa, em São Paulo (SP)

05/03/2022 13h05

Na noite desta sexta-feira (4), a deputada estadual Isa Penna (PSOL) protocolou um pedido de cassação do colega Arthur do Val (Podemos), após o vazamento de áudios em que o parlamentar afirma que as mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres". Além do pedido na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), a deputada também vai enviar uma representação contra o deputado, conhecido como Mamãe Falei, ao Ministério Público de São Paulo.

Mesmo com a movimentação, a deputada afirmou em entrevista a Universa na manhã deste sábado (5) que a possibilidade de cassação de Do Val é baixa, já que nem o episódio de importunação sexual flagrante que ela viveu, quando o deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) apalpou seu seio no meio do plenário em dezembro de 2020, foi punido com a perda do mandato. Cury foi suspenso do exercício parlamentar por 180 dias.

"Os deputados não vão votar isso. Quem está preocupado realmente com as pautas das mulheres na Alesp são poucos", diz a deputada. "Esse caso será julgado pelas mesmas pessoas e pelo procedimento que foi o meu caso. A cumplicidade machista prevalece."

"Essa é uma demonstração, assim como o meu caso, do quanto as instituições são sujas para o machismo, para a violência política de gênero e institucional. Então, é difícil que ele seja cassado, o mais provável é que ele receba sanção ou suspensão."

O caso deve ser analisado pela Comissão de Ética da Alesp. O deputado já foi advertido duas vezes pelo colegiado. Em 2019, a comissão aplicou uma advertência verbal ao parlamentar por ter se referido a colegas de partidos de esquerda como "vagabundos". Em fevereiro deste, ele foi advertido por quebra de decoro parlamentar no processo em que um assessor parlamentar dele assinou o ponto sem trabalhar.

O parlamentar viajou à Ucrânia, no último dia 28, com a justificativa de que ajudaria a população do país em guerra. Mas, em áudios vazados enviados a um grupo de WhatsApp do MBL (Movimento Brasil Livre), o pré-candidato ao Governo de São Paulo afirma, entre outras coisas, que a fila de refugiados da guerra tem mais mulheres bonitas do que a "melhor balada do Brasil" e que "não pegou ninguém, mas já estava comprando passagem para o leste europeu no ano que vem".

"É muito simbólico o áudio dele, no momento que foi gravado. Acredito que até as entidades internacionais vão ficar chocadas com isso", disse a deputada. "No entendimento do nosso mandato, isso foi falta de decoro, para não dizer um crime quase confesso ou uma pretensão de turismo sexual. Isso é crime", diz Penna.

Do Val ligou da Ucrânia para Penna

Penna confirmou que Do Val ligou para deputada após o conteúdo dos áudios se tornar público para entender a gravidade do episódio.

"Eu não tenho relação pessoal com o Arthur. Nenhuma. O que existe é uma relação política porque ele é meu colega de parlamento. Ele me ligou da Ucrânia, minutos antes de entrar no voo, porque sabe que eu sou uma feminista e que as pessoas me respeitam. Ele queria sondar se era grave mesmo ou se era 'besteira de homem'. Eu fui muito sincera com ele: disse que os áudios eram chocantes, escrotos e que ele admitia que usava da vulnerabilidade das mulheres, como um objeto a ser consumido, no meio de uma guerra", relatou a deputada.

Na manhã deste sábado (5), Do Val desembarcou no Brasil e pediu desculpas. Ele classificou os áudios como um "erro em um momento de empolgação". "Foi errado o que eu falei, não é isso o que eu penso, o que eu falei foi um erro num momento de empolgação e pronto", disse do Val.

Mesmo com o pronunciamento do colega, a deputada vai manter o pedido para a cassação. "Pouco importa se foi em um grupo privado, o conteúdo é criminoso do mesmo jeito. Ele viajou para lá para fazer política. As responsabilidades do parlamentar se estendem para fora do plenário e da casa legislativa. Ele foi fazer política e estava no meio de uma guerra."

"Do ponto de vista político, não tem volta. Se vai haver uma compreensão por parte dos deputados, eu não sei. Mas eu não vou retirar o pedido de cassação", diz a deputada. "Espero que o ministério público investigue o Arthur e que este episódio sirva para todos os homens que mandam áudios deste tipo pensarem o quanto violento é essa forma de ver os corpos femininos."

Por causa do pedido de cassação, a deputada foi alvo de ataques no Twitter. "Eu passei a noite quase inteira acordada, articulando, pensando, junto com a minha equipe. Infelizmente, ainda tive que lidar com muitos haters, gente questionando minhas ações perante o MBL. É impressionante como eles sempre nos colocam em um lugar de ser questionada, mesmo quando o assunto só diz respeito a uma violência de um homem contra muitas outras mulheres."