Em 2016, Do Val foi denunciado por assediar estudante: 'Tocou meu seio'
Dias depois que vieram a tona áudios do deputado Arthur Do Val (Podemos-SP) dizendo que mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres", a advogada Tânia Mandarino, de Curitiba, decidiu tornar público um outro episódio de machismo protagonizado por Do Val: em 2016, durante as manifestações dos estudantes secundaristas, ele teria assediado sexualmente adolescentes alunas de uma escola pública no Paraná.
Segundo Tânia, que publicou um longo relato sobre o ocorrido há seis anos, ele teria apalpado o seio de uma das adolescentes, Ana*, à época com 17 anos. O deputado, que então era apenas um youtuber ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre), foi denunciado por importunação ofensiva.
Em entrevista a Universa, Tânia, que integra o Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia e representou a adolescente, disse que decidiu relembrar o caso para mostrar que as ofensas de Do Val às mulheres "não são um caso isolado".
"O caso veio à memória assim que ouvi o áudio vazado dele em relação às mulheres ucranianas. Foi inevitável ligar uma prática à outra e quis contar essa história para que as pessoas saibam que esses áudios não são um episódio isolado. O que ele diz faz parte de sua conduta há anos", conta.
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"Passou a mão no meu seio. Me senti suja"
Tudo teria começado em outubro de 2016, quando Arthur Do Val foi até o Colégio Estadual do Paraná, onde estudantes secundaristas estavam reunidos em protesto, e começou a filmar um grupo de meninas. As jovens pediram que ele parasse a gravação e se retirasse, mas ele passou a assediá-las: segundo Tânia, na ocasião ele se referiu a elas como "gostosas" e disse que beijaria todas.
Nesse momento, Arthur, então com 30 anos, teria passado a mão pela lateral do seio e pela cintura da adolescente, que na época tinha 17 anos. A jovem foi até a Delegacia da Mulher para prestar queixa, acompanhada da mãe e da irmã.
Na época, em entrevista aos Jornalistas Livres, a adolescente contou que foi ofendida e que "se sentiu suja" depois de ser assediada:
"Ele estava se filmando com essa mão [direita] e com a outra livre. Nisso ele passou a mão do meu seio até minha cintura. Eu fiquei horrorizada. Ele ficava falando 'vocês são muito gostosas', chamou a gente de vagabunda", contou. "Em casa, tomei cinco banhos. Parece que ainda sentia (?) Eu me senti suja, sabe?".
Na mesma reportagem, outra estudante contou que Ana* não foi a única estudante assediada por Do Val: "No cordão de isolamento, quando ele empurrava as meninas, empurrava pelos seios".
Processo foi arquivado e vítima processada
Universa teve acesso ao boletim de ocorrência registrado por Ana*. O fato foi registrado como importunação ofensiva, já que a lei de importunação sexual ainda não existia.
Tânia Mandarino foi procurada por Ana* e outras estudantes, que estavam sofrendo uma série de ataques e ameaças nas redes sociais, e enviou o caso para a Promotoria da Vara de Infrações Penais contra Crianças e Adolescentes de Curitiba.
"Na época o caso repercutiu muito nas redes sociais de direita, porque ele continuou fazendo lives se dizendo falsamente acusado de estupro. Por isso, a estudante sofreu bullying no próprio colégio. Há relatos de testemunhas, à época dos fatos, de que ela recebia xingamentos de cunho sexual e ameaças", lembra a advogada.
Arthur Do Val chegou a participar de uma audiência preliminar em Curitiba, mas o caso acabou sendo arquivado por insuficiência de provas. Segundo Tânia, Ana* tinha acabado de perder o pai, "estava exausta, constrangida e bastante deprimida à época", por isso "não teve animo para colacionar as provas necessárias à condenação".
Dois anos depois, Arthur moveu contra Ana* uma ação de danos morais, e pediu indenização de R$ 15 mil pelas denúncias.
"Quando recebeu a citação, ela me telefonou angustiada, disse que precisava de ajuda, mas não gostaria de reviver a situação. Esse assunto a constrangia demais. Ela queria era colocar um ponto final no assunto, mas sem ser condenada a indenizar o sujeito que a assediou", lembra a advogada.
"Sempre soubemos quem ele é"
Além de defender Ana* no processo de danos morais, Tânia pediu o desarquivamento do caso de assédio de 2016 e também que a jovem fosse indenizada por Do Val.
A advogada conseguiu que fosse assegurado a Ana* o direito de não permanecer na mesma sala que Do Val. Ele, portanto, teve que se retirar quando ela entrou para prestar depoimento.
A juíza não aceitou o pedido de indenização de Do Val, mas também não aceitou o contraposto de Ana*, e nenhuma das partes foi condenada ou indenizada.
"Para ela, bastou que nossa defesa tivesse sido acatada. Ela não estava interessada em dinheiro, só queria não ser importunada", lembra Tânia.
A advogada conta, ainda, que Ana* hoje é casada e deixou os estudos em Engenharia Ambiental para cuidar de seu filho.
As duas - Tânia e Ana* - ainda mantêm contato, e quando ouviu os áudios em que Arthus Do Val ofende mulheres ucranianas em meio à guerra, a advogada enviou uma mensagem para a jovem, que respondeu:
"Oi, Tânia. Sempre soubemos quem ele é, obrigada por compartilhar comigo pra lembrar que nenhuma luta é em vão".
Procurado por Universa, o deputado estadual Arthur do Val não se manifestou. A reportagem será atualizada caso ele responda.
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