Com tom feminista, ato de mulheres em SP faz crítica a Do Val e Bolsonaro
Dominado por partidos de esquerda, centrais sindicais e coletivos feministas universitários, o ato de São Paulo pelo Dia Internacional da Mulher, nesta terça-feira (8), reuniu manifestantes em dois quarteirões da Avenida Paulista.
De bandeiras de pautas feministas — como legalização do aborto e combate à pobreza menstrual — a uma espécie de "ensaio geral" para o período eleitoral, os grupos se concentravam na frente do Museu de arte de São Paulo, o MASP, com cartazes e gritos de guerra contra o atual governo de Jair Bolsonaro (PL).
Presidente da União da Juventude Socialista (UJS) de São Paulo, Naiara Souza, 26 anos, analisa o 8 de março deste ano como a primeira das grandes manifestações esperadas por causa das eleições. "Este ato abre as manifestações de rua. As mulheres, mais uma vez, assumem uma responsabilidade muito grande, que é inaugurar um palco de luta".
Coordenadora da campanha "16 dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra a Mulher", Leila de Almeida, 58 anos, considera que os últimos anos atravancaram a progressão das pautas feministas no país.
Precisamos considerar que tivemos um retrocesso devido ao golpe misógino. Perdemos uma presidente principalmente pelo fato de ser mulher.
'Mamãe Falei' e Bolsonaro foram alvo de protestos
O pedido de cassação do mandato do deputado estadual Arthur do Val, o 'Mamãe Falei', e a condição feminina na guerra da Ucrânia também apareceram como pautas no protesto; a representatividade feminina na política também foi problematizada pelas manifestantes.
"A política de cotas para os partidos acaba por colocar na eleição muitas mulheres sem compromisso com a pauta feminista. Precisamos ser vigilantes", afirma Leila.
Sem intercorrências
Durante o protesto, um mediador da Polícia Militar esteve à disposição para colaborar na interlocução entre manifestantes e tropas da instituição.
Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB - SP, Priscilla Beltrane, que integra o Núcleo de Ações Emergenciais da entidade, ressaltou a tranquilidade da manifestação. "A função é observar como a polícia atua, avaliando também as reuniões preparatórias e os policiais de trânsito", declara.
Como é ser mulher hoje no Brasil
A manifestação "8M" deste ano ocorre em um contexto em que a condição feminina no Brasil passa por um processo de degradação. De acordo com o Global Gender Gap Report, relatório anual sobre desigualdade de gênero organizado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), o Brasil figura na 93º posição entre 156 nações em relação ao progresso pelo fim das disparidades entre mulheres e homens em áreas como economia, educação, saúde e resultados políticos. Considerando somente a América Latina, o país é vice-lanterna, superando apenas a Guatemala. Em relação ao primeiro relatório, em 2006, o Brasil despencou 26 posições.
O índice geral é uma média das quatro áreas analisadas pelo estudo: acesso à educação, participação política, igualdade econômica e expectativa de vida. O Brasil só pontua bem nesse último quesito. No índice de participação política, o pior resultado: ficamos em 108º lugar entre os países pesquisados, patamar ligado ao baixo número de mulheres em ministérios e no Congresso do país.
Para Naiara Souza, da USJ, isso é vivenciado no cotidiano de quem atua na luta pela igualdade das mulheres. "Se conseguirmos eleger um candidato progressista e inaugurar um novo ciclo no Brasil, espero que as mulheres ocupem, em 10 anos, mais espaços de poder, posições no mercado de trabalho e protagonismo no desenvolvimento político nacional".
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