Vereador manda colega 'fechar a boca' e 'ficar caladinha' em sessão no ES
A vereadora Camila Valadão (PSOL-ES) relata ter sofrido violência política de gênero —quando ofensas, ameaças ou comentários negativos estão relacionados ao gênero da vítima e acontecem em um ambiente parlamentar —durante sessão ordinária na última quarta-feira (09), no Plenário da Câmara de Vitória, capital do Espírito Santo.
No vídeo oficial da sessão é possível acompanhar o momento em que o vereador Gilvan da Federal (Patriota - ES) pede para Camila "calar a boca" e "ficar quietinha", depois que ela pede para o colega limpar os papéis que rasgou durante seu discurso. "Você não espera nada; você cala sua boca aí porque amanhã isso vai sair nos jornais", diz o parlamentar para a colega, alegando que Valadão estaria interrompendo sua fala.
Por nota, a vereadora se defendeu e explicou a situação: "A única coisa que falei foi 'espero que sim' em referência aos papéis que ele rasgou e disse que iria limpar. Eu disse isso fora do microfone, sem levantar a voz e sem o interromper".
Essa não é a primeira vez que Camila acusa o colega de violência política de gênero. Há exatamente um ano, em 2021, a vereadora sofreu um ataque de Gilvan durante sessão especial do Dia da Mulher. Desta vez, em 2022, o ataque aconteceu um dia depois da data comemorativa. Em entrevista a Universa, ela conta mais detalhes sobre o episódio:
Ataque foi feito no púlpito da Câmara
Para Camila, o ataque feito nesta quarta-feira é mais marcante do que o sofrido em 2021, porque aconteceu na Tribuna da Câmara. "Ele me mandou calar a boca do microfone do púlpito da Câmara. É chocante como ele se sente à vontade para fazer isso mesmo com câmeras filmando", argumenta a parlamentar.
No momento do confronto, o presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), interveio para pedir moderação ao vereador e exigiu que o mesmo se desculpasse. Dos demais presentes na Casa, apenas a vereadora Karla Coser (PT) criticou as atitudes de Gilvan e o não posicionamento dos demais parlamentares.
Segundo Camila, desde que denunciou a agressão verbal que sofreu no ano passado (em março de 2021 o parlamentar acusou a colega de não estar com "roupas apropriadas para a Câmara") o clima entre ela e Gilvan sofreu uma "escalada de violência". Além desses dois episódios relatados, a vereadora afirma que, em dezembro do ano passado, o colega já teria a mandado calar a boca, mas longe dos microfones e da Tribuna.
Em nota enviada para Universa, o vereador do Patriota criticou o comportamento de Camila acusando-a de "afrontar os Regimentos Internos da Casa de Leis" para chamar atenção. Além disso, também chamou a vereadora Karla Coser de "escudeira fiel": "As vereadoras do PSOL e PT, para criar narrativas inexistentes, interrompem o vereador de forma desrespeitosa e antirregimental para, tentar, posteriormente, levar à mídia de forma distorcida situações que verdadeiramente não se sustentam, querendo desvirtuar não só o parlamento, como a verdade dos fatos".
Lei contra violência de gênero
Camila pretende protocolar uma segunda denúncia contra o vereador na Corregedoria da Câmara de Vitória. "Meu caso não é isolado, o que estou passando atinge milhares de outras mulheres em vários locais do Brasil. É o meu corpo que incomoda. Violência política de gênero é um problema sistemático", pontua.
De acordo com um levantamento recente feito com exclusividade por Universa, a estimativa é de que Brasil levará 120 anos para ter um cenário equilibrado entre homens e mulheres na política. Atualmente, a taxa de representação feminina no Congresso é de apenas 15%, sendo que as mulheres constituem 52,8% do eleitorado brasileiro. A falta de representatividade é um dos fatores que colabora para que episódios de violência de gênero acontecem com frequência.
Outro ponto que colabora para este cenário é a falta de legislação a respeito. Contudo, no último dia 22 de fevereiro, foi aprovado na Câmara de Vitória um projeto de lei que institui 14 de março como o Dia Municipal de Enfrentamento à Violência Política contra as Mulheres. A data faz referência ao assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018.
O projeto ainda precisa ser sancionado pelo prefeito Lorenzo Pazolini, do Republicanos. Enquanto a lei não é sancionada, Camila Valadão pretende cobrar medidas de Instituições Públicas quanto ao último ataque: "A minha posição é a de denúncia e cobrança. Estou dando nome à violência, resistindo nesse espaço e resistindo à agressão que, ao meu ver, é uma perseguição às mulheres".
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