Ela é a mulher mais forte do país: 'peso 22kg e levanto dobro do meu peso'
"Sou natural de Aracaju, Sergipe. Tenho 35 anos e 73 cm de altura. Nasci com nanismo e com uma doença ocular degenerativa chamada retinose pigmentar. Os nomes impressionam e me impuseram dificuldades ao longo da minha vida, mas, mesmo assim, não me intimidei. Realizei o sonho de ser atleta e me tornei a mulher mais forte do Brasil na minha categoria. Agora, sigo em busca de novos títulos nas competições que estão se aproximando.
Minha história com o esporte está dentro de um passado recente, mas bem intenso. Meu primeiro contato com o esporte foi em março de 2018. Meu amigo José Renato Machado Freitas me pediu para acompanhá-lo e incentivá-lo a praticar exercícios físicos porque naquele ano ele estava com problemas de saúde. Outra amiga nossa indicou essa atividade para ele.
Comecei junto para dar aquela força, mas fui me encantando pelos pesos. Não tinha um exemplo na minha casa, ninguém na família pratica esportes, e aquele universo me fascinou. Quando contei para minha mãe que estava curtindo fazer esporte, ela me deu força.
Minha mãe, Maria Jeane, é minha grande inspiração, uma mulher de fibra, batalhadora, determinada que sempre nos ensina a buscar fazer o nosso melhor em tudo o que nos propomos a fazer.
Desde muito cedo, ela me falou sobre as dificuldades que eu teria que enfrentar e me preparou para isso. Como ela precisava trabalhar para sustentar eu e meus cinco irmãos, éramos nós que cuidávamos uns dos outros. Daí, ela deixava todas as orientações e nós fazíamos.
Na época, não tínhamos condições financeiras de fazer adaptações em nossa casa. Improvisamos com cadeiras pequenas para que eu tivesse como alcançar a cama etc.
Quando o esporte entrou na minha, foi ótimo porque amo tudo isso, mas passei a enfrentar mais perigos para minha condição. Passei a andar de ônibus sozinha, a caminhar nas ruas e a fazer muitas outras coisas que até então só faria acompanhada de algum familiar ou amigo.
A primeira pessoa a me estimulou foi o meu treinador professor, doutor José Felipe Aidar, minha mãe, meus familiares e todos os colegas de equipe. Me incentivando e se revezando para me colocar no ônibus, pois no início eu não me sentia segura de ir sozinha.
Decidir ser paratleta não foi tão difícil, o mais difícil foi permanecer paratleta, porque no início eu ia para os treinos de carro com meu amigo Renato (aquele havia que me pedido para acompanhá-lo), mas cerca de três meses depois que eu entrei para equipe, ele não pôde mais ir aos treinos e eu tive que decidir desistir ou enfrentar todas as barreiras do preconceito e falta de acessibilidade.
Em nenhum momento senti preconceito com relação a não acreditarem na minha capacidade. Tive sim que enfrentar a mim mesma, pois no primeiro semestre, eu que duvidei de mim mesma. Mas venci essa dívida em pouco tempo.
Minha primeira competição foi em abril de 2018. De lá para cá, já são sete medalhas, e em novembro de 2019 os títulos de vice-campeã brasileira e de mulher mais forte do Brasil, por pesar 21,8 kg e ter levantado 53 kg no supino.
As dificuldades para competir são muitas. Para conseguir treinar tenho que pegar três ônibus para ir e mais três para voltar. Falta uma alimentação adequada, falta de dinheiro para comprar as passagens para ir para as competições, por exemplo.
Através dos títulos conquistados, passei a receber um auxílio chamado bolsa atleta, que tem o valor menor que o salário-mínimo e, pelo fato de eu morar de aluguel, ainda não dá para suprir todas as necessidades que tenho. Então, vou seguindo com esforço, aguardando patrocinadores e fazendo meu melhor.
No nosso esporte, todos precisam de algum tipo de adaptação. No caso, utilizo uma faixa de punho e na hora de subir no banco de supino tenho que subir em meu banquinho ou preciso da ajuda de alguém para colocar e me tirar do banco.
Meus planos para o futuro são levar a mensagem que Deus colocou em coração para milhares de pessoas, abrir o meu próprio negócio e no esporte conquistar títulos mundiais e o título de mulher mais forte do mundo.
Estou fazendo uma vaquinha solidária para arrecadar fundos e pagar as passagens de ida e volta das próximas competições que terei, e o Campeonato Circuito Loterias Caixa de Halterofilismo.
Sei que vou conseguir porque acredito. Eu digo que, através da minha história de vida, as pessoas podem parar para refletir um pouco e ver que realmente nada é impossível para aquele acredita em si mesmo." Camilla Feitosa, 35 anos, paratleta, de Aracaju (SE)
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