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Thais Braz e cirurgia na testa: pressão estética afeta até mulher 'padrão'

Thais braz ex-bbb frontoplastia - Reprodução/Instagram
Thais braz ex-bbb frontoplastia Imagem: Reprodução/Instagram

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

12/03/2022 04h00

Thais Braz, participante do "BBB 21", é um exemplo de como mesmo uma mulher dentro do padrão - branca, magra, jovem - pode ser vítima de pressão estética. Durante o programa, a ortodontista foi alvo de comentários depreciativos, especialmente por conta do tamanho de sua testa que quase sempre aparecia coberta por uma franja. Na época, muitos memes surgiram comentando o formato do rosto dela e, nesta semana, um ano depois, Thais se submeteu a uma frontoplastia - cirurgia plástica que reduziu sua testa em 2 centímetros.

"Era uma coisa que me incomodava muito mesmo, desde criança. Não vou ser hipócrita de dizer que os comentários ruins sobre minha testa [durante o BBB] não me incomodavam, eu chorei várias vezes, já fiquei muito triste", disse, ao anunciar o procedimento nas redes sociais. A ex-BBB contou ainda, que passará uma semana com uma faixa protetora e que sente a cabeça latejar de dor.

No Twitter, muitas mulheres saíram em defesa de Thais, alertando para o impacto que a pressão estética que ela sofreu, especialmente durante o BBB, fez com que ela se submetesse a um procedimento médico bastante invasivo.

Para entender os impactos da pressão estética sobre a autoestima das mulheres, Universa ouviu duas especialistas: a psicóloga Laís Sellmer e a socióloga e psicanalista Ingrid Gerolimich, que sofreu da doença do silicone, realizou um explante e produziu um documentário sobre sua história.

Os impactos da pressão estética sobre as mulheres

O Brasil lidera o ranking global em cirurgias plásticas - por aqui, 1,5 milhão de mulheres se submetem todos os anos a diferentes procedimentos, que vão dos tradicionais implante de silicone e lipoaspiração até os que mudam o formato dos pés.

Mas afinal, o que leva tantas mulheres a passar por operações invasivas - que podem até ser letais - para adequar seus corpos ao padrão?

Para as duas especialistas ouvidas nesta reportagem, isso é resultado de uma pressão estética tamanha que transforma corpos femininos em "vitrine", ou algo para ser "vigiado e punido" - inclusive em forma de memes, como aconteceu com a Thais.

"O Brasil é um país extremamente machista e o corpo das mulheres reflete isso: deixa de ser um copo sensorial, que permite que a gente experimente a vida e suas sensações, para ser uma vitrine. O corpo, inclusive, determina as relações sociais, afetivas, sexuais e até profissionais da mulher - o que leva muitas de nós a expor esse corpo a toda sorte de cirurgias, que são sempre um risco e podem ser prejudiciais à saúde", explica Ingrid Gerolimich.

Laís Sellmer concorda, e completa: "Nós somos pessoas sociais e o que a sociedade fala interfere muito na nossa autoestima, é inevitável. Desde o começo da vida, a mulher é vigiada, punida e objetificada, vista como algo para ser controlado e moldado. Somos punidas pelo nosso corpo, rosto, cabelo e comportamentos".

"Falando especificamente sobre o caso da Thais, o meme é também uma forma disfarçada de agredir alguém, porque existe uma ideia de que brincando se pode falar tudo".

Indústria da beleza e fotos com filtro

Thais Braz é um exemplo de como mesmo uma mulher dentro do padrão - branca, magra, jovem - pode ser vítima de pressão estética.

Gerolimich afirma que a cobrança estética atinge todas as mulheres, em maior ou menor grau, e que isso se deve a pelo menos dois grandes fatores: uma indústria que. desde sempre. lucra muito com as inseguranças femininas e aos filtros das redes sociais, que apesar de recente. estão diretamente ligados à procura por procedimentos estéticos.

"Movimentos contrários à pressão estética, como o body positive, ainda nadam contra a correnteza do lucro de uma indústria extremamente rentável, que não deixou de crescer nem durante a pandemia. O mercado vai continuar vendendo esse tipo de demanda, falando: 'Agora é bonito testa assim' ou 'agora a moda é esse nariz', e oferecendo todo tipo de intervenção diferente, para nosso rosto ser modificado o tempo todo", percebe a socióloga.

"E isso também tem muita relação com os filtros de celular, que modificam o formato do rosto. É cada vez mais difícil ver uma pessoa, principalmente uma mulher, postar uma foto sem filtro. Isso gera dismorfia corporal - a gente vê tanto uma realidade imaginária na tela que começa a olhar para a nossa aparência e encontrar defeitos que sequer existem".

Ingrid continua: "Assim, é como se, a cada estação do ano, lançassem a moda de uma cirurgia plástica diferente. Mas a gente não está falando de uma roupa. É o nosso corpo que vai sendo moldado para seguir o que é dito bonito. Isso não tem como não afetar a saúde mental de muitas mulheres".