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Após testar sex toy em viagem, casal transforma prazer em negócio lucrativo

Natali Gutierrez, 30, e Renan de Paula, 35, são donos da sex shop Dona Coelha - arquivo pessoal
Natali Gutierrez, 30, e Renan de Paula, 35, são donos da sex shop Dona Coelha Imagem: arquivo pessoal

Manuela Aquino

Colaboração para Universa

17/03/2022 04h00

O que poderia ser só uma viagem para a praia virou uma inspiração para a sex shop Dona Coelha, um negócio que em 2021 rendeu um faturamento de R$ 8 milhões para o casal Natali Gutierrez, 30, e Renan de Paula, 35. A história começou há 11 anos, quando os dois namoravam havia seis meses e foram passar um final de semana no litoral norte de São Paulo, na Ilhabela.

Natali, que na época tinha 19 anos e cursava faculdade de marketing, comprou de uma colega alguns itens cosméticos de sex shop, como gel e lubrificante com sabores e que esquentam. "A gente testou tudo logo no primeiro dia e, no café da manhã, todo mundo estava olhando pra gente. Acho que era porque os chalés tinham paredes finas", lembra Natali.

Renan, que trabalhava com tecnologia, achou engraçado que ao apresentar os produtos, a namorada fez como se estivesse vendendo algo. "Ela explicou de um jeito que só ela sabe, e eu compraria todos", fala.

Naquele final de semana, o casal aprovou alguns produtos, mas outros deixaram a desejar. "Alguns tinham gosto amargo, outros aqueciam demais e incomodavam". Eles resolveram continuar testando outros itens para achar seus preferidos. E também tiveram a ideia de fazer um blog para compartilhar testes e análises de itens de sex shop.

Natali Gutierrez, 30, e Renan de Paula, 35, donos da sex shop Dona Coelha - arquivo pessoal - arquivo pessoal
Negócio começou como blog de produtos testados pelo casal, depois virou um e-commerce com itens aprovados.
Imagem: arquivo pessoal

No começo, o conteúdo do blog era divulgado entre pessoas próximas. O pulo do gato aconteceu quando uma marca ofereceu para que o casal fizessem algo pago no site, caso gostassem. Deu certo e as pessoas passaram a perguntar nos comentários como fazia para comprar. "Eu fiz uma malinha e passei a vender cosméticos eróticos no banheiro da ONG onde eu trabalhava. Era um sucesso", fala Natali. "Eu fui convidada pelas colegas para fazer um encontro presencial. Levei os itens como vela, lubrificante, gel e vibrador. Aí percebi que essas conversas rendiam muito e passei a fazer isso no meu tempo livre e com o Renan me acompanhando", lembra.

"Ela vende pinto de todas as cores"

O sucesso desses encontros foi tanto que começou a ficar difícil equilibrar o trabalho "oficial" com o extra. "Tivemos a ideia de fazer um site de e-commerce, pois seria mais fácil de vender. Queríamos algo parecido com o que acontecia no encontro, mas online", fala. O site começou vendendo cinco tipo de produtos. Os dois se casaram na mesma época, em 2016.

O nome da "Dona Coelha" foi pensando para ser algo que fugisse do sensual, sexy e da luxúria. Eles queriam algo mais delicado. "E que não houvesse a vergonha de fechar correndo a aba do site quando alguém chegasse perto", diz Natali.

A empresa se formalizou no ano seguinte e Natali decidiu se dedicar somente a ela. "Tinha uma estante de estoque, fazia tudo, ia nos Correios todos os dias para despachar. Na época, minha remuneração era de 500 reais", lembra. Enquanto isso, Renan continuava em seu emprego para segurar as contas da casa.

Este foi o momento também em que Natali precisou contar ao pai o que fazia. "Quando morava com ele, tinha medo de ser expulsa de casa se ele soubesse. Ensaiei muito como daria a notícia. Mas, no dia, minha mãe me cortou e disse 'ela vende pinto de todos os tipos e cores'. Não sei se ele compreendeu muito bem, mas sempre foi discreto em relação a isso", conta.

Produtos bonitos e comunicação leve

Da casa, eles conseguiram alugar uma sala, onde estão até hoje. Atualmente, a empresa conta com uma equipe de quinze pessoas. Natali continuou tocando os encontros, que foram suspensos por causa da pandemia, e o canal no YouTube para que os clientes possam acessar, mesmo antes da compra, o review com dicas de como usar o produto.

"A gente sempre pensou em produtos bonitos, que gostaríamos de ter, que não teríamos vergonha de deixar exposto na cabeceira da cama. E também de trazer informação sobre eles de maneira simples, como se fosse uma conversa", fala Renan.

Com a comunicação leve e direta sobre sexualidade, a Dona Coelha foi criando uma rede grande de clientes e, em 2018, faturou R$ 1 milhão. Foi o momento em que perceberam que o negócio tinha futuro. Renan pediu demissão e se juntou a Natali de vez. No ano seguinte, o faturamento foi de R$ 2 milhões. Em 2021, em meio a pandemia da covid-19 e o boom na venda de brinquedos sexuais, o negócio faturou R$ 8 milhões.

Além dos produtos de outras empresas, eles também importam e comercializam dois vibradores da marca própria - um estilo rabbit e outro "varinha mágica". Este mês, lançam um novo lubrificante, chamado Escorrega.

"Seguimos trabalhando bastante, do mesmo jeito que antes. Falamos muito de trabalho em casa, não tem como separar. Mas, infelizmente, já não dá mais para testar tudo", confessa Natalie.