Topo

Após golpe em app de namoro, ela ficou sem dinheiro para pagar faculdade

Fernanda Nunes foi vítima de estelionato emocional - arquivo pessoal
Fernanda Nunes foi vítima de estelionato emocional Imagem: arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Universa, do Recife

18/03/2022 04h00

A pernambucana Fernanda Nunes, 41, que trabalha como faxineira, havia juntado cerca de R$ 6 mil e guardado em sua casa. O objetivo era pagar a faculdade de direito, um sonho que ela vinha realizando com seu trabalho. Mas foi furtada por um homem que conheceu no Tinder e, até sofrer o golpe, dizia-se interessado nela.

Após ter sido lesada, descobriu que o rapaz usava aplicativos de paquera para aplicar golpes em outras mulheres, fez uma investigação própria e conseguiu fazer com que a polícia o prendesse, na semana passada. Ele ainda deixou dívida com agiotas no nome dela. Fernanda foi vítima do chamado estelionato sentimental.

O envolvimento com o "golpista do amor", embora não tenha chegado a um relacionamento sério, prejudicou a estudante de várias maneiras. "Precisava do meu dinheiro, e ele ainda pegou dinheiro com agiotas e usou minha conta para receber", disse. "Fiz uma investigação paralela à da polícia. Busquei informações nas redes sociais e pessoas me procuraram por mensagens. Fui juntando as peças e ajudei a Delegacia de Apipucos (PE) a encontrar o endereço dele", contou a Universa.

O dinheiro de Fernanda foi levado da casa dela em uma das vezes que o golpista a visitou, em São Lourenço da Mata, no Grande Recife. Quando percebeu que havia sido furtada, ela o denunciou à polícia, mas, como na ocasião não havia prova, o homem foi liberado.

"Era uma quantia que eu juntava entre moedas e cédulas a fim de pagar cada período da faculdade. O dinheiro vinha de faxinas. Ele tirou cerca de R$ 6 mil dos meus cofres. Quando desconfiei e abri os cofres, só tinha pedras e areia. Eu me desesperei porque só pensava em como iria pagar meu curso", continuou ela, que explicou ainda que as idas à polícia para prestar depoimentos e a investigação paralela a afastaram das faxinas, sua única fonte de renda.

A estudante disse que levou o problema até a coordenação da faculdade onde cursa direito e solicitou uma bolsa integral para concluir o sonho de se tornar advogada. Ela alega que o golpe a deixou sem recursos e ferida psicologicamente. No entanto, segundo ela, a instituição de ensino superior não aprovou seu pedido.

"Perdi oportunidades de trabalho e me senti muito humilhada por comentários maldosos de pessoas que não me conhecem. Fazia faxinas de segunda a sábado. Quase todo o dinheiro era revertido para o curso, aluguel e alimentação. Agora, sem uma bolsa integral, estou vendo meu sonho ir embora", lamentou Fernanda Nunes.

Universa procurou a faculdade Ipesu (Instituto Pernambucano de Ensino Superior) para obter informações sobre a situação da estudante de direito. Questionada, a instituição disse que, antes de um posicionamento oficial, iria analisar o caso de Fernanda.

Fernanda Nunes explicou que ser advogada é um sonho de infância e que lutou muito nos últimos anos para torná-lo realidade. "Saio de casa às 7h e volto quase meia-noite. Ainda tiro duas horas da minha madrugada para estudar. Essa é minha semana. Meus domingos passo na minha casa estudando assuntos futuros para me preparar para a prova da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]", disse.

"O que me deu mais força e impulso nesse sonho foi ter sido vítima de violência doméstica. É um pouco da minha história de vida. Como existem males que vem para o bem, resolvi investir no meu sonho e me dedicar aos direitos de todas as mulheres. Quero contribuir futuramente como ativista para evitar que outras mulheres sofram as humilhações e traumas das quais até hoje estou me recuperando", acrescentou.