Divulgadora científica sofre ataque machista no Twitter por indicar máscara
Na quinta-feira (17), a divulgadora científica Letícia Sarturi sofreu ataque com comentários machistas e misóginos (que contêm ódio contra mulheres) pelo Twitter, depois de ter indicado aos mais de 18 mil seguidores o uso de uma máscara específica para sair às ruas. No mesmo dia, o Governo do Estado de São Paulo desobrigou a colocação do acessório em locais fechados.
O que era para ser apenas mais uma informação compartilhada sobre proteção durante a pandemia, no entanto, se tornou motivo de respostas com ofensas de cunho sexual direcionadas a ela. Também foram colocadas em xeque sua formação acadêmica e até a aparência.
Letícia é mestre em Imunologia pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em Biociências e Fisiopatologia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), além de ser professora universitária e apresentar o podcast "Escuta A Ciência" ao lado de um colega divulgador científico.
Para Universa, ela atribui a reação à misoginia e à cultura de que "Ciência é lugar de homem". O fato de ter falado sobre máscara contra o coronavírus também contribuiu para que os usuários que não concordavam com a dica dela passassem a agredi-la.
"Meu papel como divulgadora científica é orientar que a desobrigação [do uso da máscara] não significa uma não recomendação. Mas aí vieram esses ataques, de cunho sexual, apelando para a misoginia. Homens que atuam na mesma área não recebem comentários assim".
"Querem invalidar porque sou mulher"
Na publicação do Twitter, Letícia indicou aos seguidores que usa uma máscara valvulada, de silicone, no transporte público. Por ter publicado a imagem, vários usuários a responderam considerando que ela estava sendo "exagerada". "A maioria me atacou achando que sou exagerada de continuar usando máscara de alta proteção no transporte público, como se a pandemia realmente tivesse acabado e eu estivesse aterrorizando as pessoas com a minha máscara".
Letícia diz que recebeu publicações de homens questionando a recomendação, mas "levando para o pessoal".
"Gerou uma raiva como se eu fosse uma louca por usar máscara para me proteger; e, essa ideia de 'mulher é louca' é algo do machismo. Zombaram da minha formação, e falaram até de que eu não devo transar, que ninguém quereria transar comigo", relata. "Me chamaram de burra".
Tudo isso para me invalidar porque sou mulher. Tenho contato com outros divulgadores científicos, homens, e eles dizem que até questionam a informação, mas não eles diretamente.
Letícia conta que não é a primeira vez que foi alvo de falas machistas por defender as informações científicas. Dessa vez, no entanto, vai levar os registros das mensagens para a instância judicial. "Internet não é terra sem lei. Vou fazer boletim de ocorrência e entrar com processo contra mais de um perfil".
Para ela, é inaceitável que mulheres continuem sendo vítimas do machismo nas redes sociais "por simplesmente existirem e terem alguma voz". "Foram praticamente só homens, e as mulheres é que acabaram se solidarizando comigo, porque quando uma mulher é agredida, todas se sentem assim".
Letícia lamenta que sua função, em que prevalecem as orientações baseadas em estudos científicos, seja ponto de tentativa de desqualificação. "Meu perfil é um serviço voluntário para a sociedade", explica, destacando que sua atuação também é uma forma de popularizar a presença feminina na área.
"A Ciência, por muito tempo, foi frequentada apenas por homens, porque há o estereótipo de que mulher é intelectualmente incapaz para estar na Academia, falar sobre o tema. O Brasil tem muitas mulheres cientistas, mas, enquanto não ocuparmos mais, não vai acabar esse machismo, não."
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