Mulheres trans são proibidas de cruzar a fronteira da Ucrânia para Polônia
De acordo com uma reportagem publicada nesta terça-feira (22) no jornal britânico "The Guardian", mulheres transexuais vêm enfrentando dificuldade para cruzar a fronteira da Ucrânia para a Polônia, porque oficiais não reconhecem a identidade de gênero das mesmas.
Em 24 de fevereiro, a Ucrânia instituiu uma lei determinando que homens de 18 a 60 anos estavam proibidos de deixar o país. Desde então, ativistas de direitos humanos relatam que mulheres trans, mesmo com certidões que comprovam a mudança de gênero, são proibidas de cruzar a fronteira.
O "The Guardian" conversou com Judis, uma mulher transgênero que tentou sair do país no dia 12 de março, mas foi detida por soldados. "Você é um homem, caia fora daqui", disse um dos guardas à ucraniana, que possui todos os documentos legais que a identificam como mulher. "Ele me disse que eu deveria ser grata por não chamarem a polícia, mesmo que eu tenha um documento legal que prove que sou mulher."
Judis é de Svatone, porém se mudou para a capital Kiev antes de as forças russas ocuparem sua cidade local. Para facilitar o processo de saída de civis, o próprio governo ucraniano instruiu as autoridades das fronteiras a reconhecerem os documentos de identidade de quem tentasse deixar o país, o que aumenta o poder de guardas e oficiais locais, deixando o processo ainda mais nebuloso.
"Os guardas te despem e tocam seu corpo inteiro. Dá para ver no rosto que eles ficam se perguntando 'quem é essa pessoa?' como se você fosse um animal ou algo do tipo", acrescentou Judis, referindo-se à experiência traumática.
Outra personagem ouvida pelo "The Guardian" também relatou momentos de tensão ao tentar cruzar a fronteira. Alice, de 24 anos, mora com sua companheira, Helen, em Brovary, cidade próxima a Kiev.
Eles levaram eu e minha mulher para um quarto e mandaram a gente tirar a jaqueta. Checaram nossos corpos e, depois de passarem a mão pelo meu peito, disseram que eu era um homem. Tentamos explicar a nossa situação, mas eles não ligaram.
Segundo a Rainbow Europe (Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexs), a Ucrânia ocupa a posição 39 em um ranking dos 49 países europeus com mais direitos LGBTQIA+. Casamento entre pessoas do mesmo sexo não é permitido no país e não existe uma legislação séria para proteger pessoas LGBTQIA+. O governo passou a reconhecer a identidade de pessoas transexuais somente em 2017, cinco anos atrás.
Segundo declarou ao "The Guardian", Judis ainda não desistiu de tentar sua saída do país. "Quero ser livre para fazer o que quiser", diz. "Vou tentar cruzar a fronteira novamente porque é um direito meu."
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