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Paraplégica e praticante de rapel fala de esporte: 'Nada pode me limitar'

Thais Lopes é paraplégica e pratica rapel - Arquivo pessoal
Thais Lopes é paraplégica e pratica rapel Imagem: Arquivo pessoal

Thais Lopes, em depoimento a Ed Rodrigues

Colaboração para Universa, do Recife

23/03/2022 04h00

"No fim de 2018 descobri uma malformação arteriovenosa medular. Fui informada que era preciso fazer uma cirurgia de alto risco, da qual sair com vida não era certeza, e se saísse com vida ficaria paraplégica. Foi o que aconteceu, mas estou viva para contar essa história. Tive que me adaptar e agora sigo realizando meus sonhos mesmo nessa nova condição. Recentemente, pude realizar um desejo de infância de praticar rapel. Mas como se ela é paraplégica? Foi com cadeira de rodas e tudo, minha gente.

Passei por essa cirurgia em janeiro de 2019. Tudo começou com uma dor forte no joelho. No início, não dei muita importância, achei que era algo devido à correria do trabalho, por fica horas em pé... só que esse quadro de dores foi se agravando. Além das dores, na sequência eu comecei a mancar da perna direita. Nesse momento procurei um ortopedista, fiz exames e não deu nada.

As dores não paravam de me incomodar. Fiquei nessa rotina de dores durante três anos, sem os médicos apontarem um diagnóstico. Até que por fim procurei um neuro, o qual me pediu exames da coluna.

No momento que ele solicitou os exames até fui irônica por achar que minha dor no joelho não tinha nada relacionado à coluna. Ele me explicou que se na coluna não desse nada iríamos fazer outros exames. Fiz os exames e para minha surpresa os resultados não foram os melhores. Foi constatada uma malformação arteriovenosa medular, que é provocada por defeitos na comunicação entre veias e artérias intracranianas.

E com o resultado do diagnóstico, ele explicou o motivo das dores no joelho e o fato de estar mancando. E então, me falou que o caso era cirúrgico e explicou sobre todos os riscos que o procedimento oferecia. Operamos.

Rapel era sonho de adolescência

Thais Lopes é paraplégica e pratica rapel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Thais e seu instrutor na subida ao Morro do Moreno, no Espírito Santo.
Imagem: Arquivo pessoal

Quando me vi paraplégica, não vou mentir, achava que muita coisa era impossível, por não ter mais alguns movimentos. Eu cheguei a pensar que a vida não tinha mais sonhos. Quando olhei para mim, pensei em tudo que já tinha vivido no passado e que nunca desisti.

Foi aí que parei e pensei em muitas coisas que eram traumas e como tudo acontece com um propósito. Me permitir me aceitar e não me limitar por nada e nem por ninguém.

Sempre gostei de esportes e participei dos jogos escolares. O rapel, entre outros esportes radicais, surgiu ainda na minha adolescência só que nunca tive tempo para fazer. Depois que fiquei paraplégica achava que era impossível até me deparar com uma publicação através do Instagram da empresa vertical, com uma moça que também é cadeirante.

No momento que vi a publicação, fiz o contato e para minha surpresa o instrutor logo abraçou a minha vontade de fazer o rapel. A preparação foi toda organizada pelo instrutor, que se colocou à disposição para me locomover até a subida ao Morro do Moreno (Espírito Santo). É uma caminhada cheia de obstáculos.

A todo momento, ele mostrou cuidado com a minha transferência até a subida no morro. Ele mesmo que fez a minha locomoção nas costas, me orientou como seria o rapel na cadeira com segurança, me apresentou os equipamentos, como corda, capacete, e o gancho que prende na corda, equipamentos todos novos, e me deu instruções pessoais de como eu deveria fazer toda decida na hora do rapel.

Realizar essa adrenalina na minha atual condição foi uma sensação única. Tirando o caminho, que é sem acessibilidade, o restante foi um misto de emoções, liberdade, empoderamento, desejo realizado. Fiquei tão orgulhosa de mim mesma por me permitir viver o momento que demorou anos para ser acontecer.

Não tive medo nenhum. Era como se eu já tivesse feito inúmeras vezes. O instrutor até falou assim: 'Para primeira vez, você está muito tranquila'.

Thais Lopes é paraplégica e pratica rapel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
"Realizar esse sonho do rapel me faz acreditar que tudo é possível independentemente da idade ou das condições físicas", diz Thais
Imagem: Arquivo pessoal


Quanto mais esportes e desafios, melhor

Mas eu não parei pelo rapel. Também treino luta. O jiu-jitsu foi meu primeiro esporte sobre rodas. Graças a um convite, me permiti conhecer uma categoria da luta que é voltando para a pessoa com deficiência. Achei que não iria gostar, mas desde a primeira vez que fui nunca mais parei.

Eu tinha dado início no remo e no basquete, mas voltei a trabalhar integralmente como auxiliar administrativo. Então, abri mão desses esportes. No momento, prefiro só ficar com o jiu-jitsu e nos esportes radicais. Também quero conhecer a natação e o surf adaptado, só que ambos são feitos na semana e os horários, por enquanto, não são compatíveis com o meu trabalho.

Realizar esse sonho do rapel me faz acreditar que tudo é possível independentemente da idade ou das condições físicas. Me faz acredita mais naquilo que a minha imaginação achava impossível. A mente é algo que, se a gente acredita, nos fortalece com respostas positivas.

Nós, mulheres, devemos acreditar mais em nós mesmas. Somos fortalezas em inúmeras situações, somos empoderadas, temos o dom de transformar uma situação difícil em alívio, liberdade, somos movidas pela persistência. E desistir de qualquer situação tenho certeza de que nunca vai ser o limite de uma mulher se fortalecer." Thais Lopes tem 28 anos, auxiliar administrativo, é natural da Bahia e mora em Serra-ES