Falta de sexo e discussões feministas marcam nova temporada de Bridgerton
*Esse texto contém spoilers
Chegou a hora que todos as fãs de Bridgerton estavam esperando: o retorno a Londres para mais uma temporada de debutante, bailes e casamentos. Mas é preciso calibrar expectativas: diferentemente do que vimos na primeira temporada, quando a série já começava de forma quentíssima, desta vez, não há sexo, homens sem camisa e nem cenas quentes: o enredo é focado no romance e na luta feminista. Universa assistiu antecipadamente há 6 episódios da nova temporada da série que estreia essa sexta-feira (25) na Netflix.
Sem a presença do crush ator Regé-Jean Page, que viveu Simon na primeira temporada, o protagonismo masculino fica todo com Jonathan Bailey, que interpreta Anthony Bridgerton - que é uma graça, mas não tem o charme do Duque de Hastings. O visconde decide que é hora de arrumar uma esposa após uma grande decepção amorosa que vimos no fim da última temporada. Entre as mulheres, Eloise Bridgerton (Claudia Jessie) tenta fugir de todas as maneiras de um casamento arranjado. E temos novos personagens: as irmãs Sheffield, Kate e Edwina, que vieram da Índia para Londres especialmente para a época de matrimônios arranjados.
As apaixonadas por histórias que se passam em séculos passados vão sentir um toque de outros dois clássicos ao assistir esta temporada, que é inspirada no livro "O Visconde que me Amava", de Julia Quinn. Um deles é "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen. Enquanto Elizabeth Bennet cuidava para que a irmã se apaixonasse por alguém que a realmente merecesse, acabou envolvida com Mr. Darcy, que a julgava tão inconveniente e desagradável como ela o julgava. Neste caso, Kate, irmã mais velha de Lady Edwina, não aprovava o cortejo do visconde a irmã por achar que ele não era um homem íntegro o suficiente. Quando, na verdade, o problema mesmo é a tensão sexual - e os quase beijos - que o casal vive pelas costas da jovem em busca de casamento.
Já "Hamilton", famoso musical da Broadway escrito por Lin-Manuel Miranda, pode ser lembrado por dois motivos: o amor que uma irmã sente pelo pretendente da outra - já que Angélica era apaixonada por Hamilton, mas abriu mão desse amor para que Eliza pudesse se casar com ele, e pela luta das mulheres por seus direitos.
Em diversas partes da peça, as irmãs Schuyler demonstram querer ter direito de participar das decisões da época. Na passagem musical The Schuyler Sisters, Angélica diz estar lendo o livro "Senso Comum", de Thomas Paine, onde o autor diz que todos os homens são criados iguais e que ela vai pedir a Thomas Jefferson, quando o conhecer, para colocar as mulheres na sequência.
Esse comportamento feminista é visto em muitas personagens bem abertamente na primeira temporada de "Bridgerton", mas é bastante reforçado nesta. Eloise sempre se sentiu horrorizada por ser obrigada a se casar, e essa ser sua única obrigação. Logo na primeira temporada ela já demonstrava seu descontentamento por não ser autorizada a ir a universidade. Agora, ela é uma das debutantes, deixa um de seus pretendentes na pista de dança quando ele ofende o gênero feminino com observações machistas.
Poder feminino é reforço nesta temporada
Kate Sheffield é o oposto de uma donzela indefesa tão defendida na época. Ela monta, ela atira, ela caça. Quando acaba no meio de um passeio para caçar com os homens da alta sociedade, fica irritada com Anthony por achar que ela não consegue exercer a função por ser mulher e por não seguirem seus conselhos sobre as melhores rotas.
Já Penélope, que secretamente é Lady Whistledown, se mostra uma grande negociadora e defensora de seus negócios. Ela, inclusive, está com altos lucros com seus panfletos cheios de fofocas da alta sociedade.
Em contrapartida, ela é bem mais morna que a primeira quando pensamos em romance. Não há cenas quentes, não há muitos momentos de suspiros para pensarmos: "Olha esse homem" e há muito menos bailes, o que nos faz sentir falta da trilha sonora que foi um diferencial na primeira temporada: músicas atuais tocadas em arranjos de coral. E já que a gente está louco para conhecer o bebê da Rihanna, fica uma dica: uma das adaptações desta temporada é "Diamonds", famoso hit da cantora.
Diversidade na frente e atrás das câmeras
Produzido pela Shondaland, a produtora da roteirista e cineasta Shonda Rhimes, mais uma vez Bridgerton traz uma clara crítica social e ao mercado audiovisual com um elenco extremamente diverso e protagonistas negros, quando a história se passa em uma época onde o racismo era ainda maior do que hoje e pessoas não brancas não ocupariam cargo de poder.
Em uma entrevista oficial a Netflix, Shonda falou da importância desta diversidade. "Na Shondaland, a gente garante que a equipe e as pessoas nos bastidores sejam tão multiculturais quanto as pessoas que você vê na frente da câmera: diferentes em idade, habilidades e gostamos de ter certeza que nossos elencos, equipes e roteiristas representam o mundo real. Acho que isso contribui para uma melhor narrativa, mais autêntica e complexa", afirma a produtora.
"Não há nada de errado com o ponto de vista de um homem branco, mas certamente há muitas coisas certas sobre o ponto de vista de mulheres, diretores, artistas ou escritores de diferentes cores. Isso nos parece importante incluir em nosso mundo" Shonda Rhimes, produtora da série
Sobre a nova temporada da série, a roteirista se mostrou animada em mostrar o outro lado dos personagens. "Melhoramos um pouco nosso jogo em termos de como estamos contando essa história. Na primeira, tivemos que apresentar todo mundo - e agora as pessoas sabem o que é esse mundo. Nosso objetivo é apenas trazê-los ainda mais fundo, dar a eles uma noção do que está acontecendo e deixá-los realmente ver como esse mundo funciona", conta Shonda. Já apresentados, os personagens aparecem de forma mais fluída no decorrer da história, e cada um carrega o seu enredo particular.
Bridgerton estreia dia 25 de março na Netflix e terá 8 episódios.
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