Aos 25, jornalista decide lutar na guerra da Ucrânia: 'Sem tempo para medo'
Três dias antes de a Rússia invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro, a jornalista Margarita Rivchachenk comemorou os seus 25 anos durante uma viagem para Budapeste, na Hungria. Ao retornar para Kharkiv, uma das cidades mais bombardeadas pelas tropas russas, viu no Exército uma alternativa para sobreviver em meio à guerra, mesmo sem nunca ter segurado uma arma de fogo na vida.
A Universa, Margarita, que é ucraniana, conta que retornou de Budapeste para Kharkiv no dia anterior ao início da guerra. Ao amanhecer, após os primeiros bombardeios, não hesitou em deixar tudo para trás e seguir para a capital ucrianiana e se alistar como militar no Ministério da Defesa. "Não quis fugir. Precisava fazer alguma coisa", relata.
De lá para cá, tudo mudou em sua vida, assim como para mais de 40 milhões de ucranianos, sendo que 10% da população já está na condição de refugiados em outros países.
[O dia anterior invasão] foi minha última boa noite. Na minha vida havia prática de esportes, aprendia espanhol, encontrava amigos e viajava. Tudo acabou em um dia. Realmente, não havia alternativa. Minha família ficou em Kharkiv, estou sozinha em Kiev. Não queria correr, eu queria fazer algo. Então decidi ir para o Ministério da Defesa. Minha família ficou chocada, mas me apoiou. Margarita Rivchachenk.
Sirenes, fuzil e cuidados com feridos
Margarita atuava em três empregos paralelos antes de a guerra começar. Com um mês de conflito, sua rotina não se assemelha em nada com o antigo ofício.
Militar, agora ela cuida dos feridos durante os embates, em Kiev, já que tem curso de primeiros socorros. Além disso, auxilia na logística de suprimentos para as batalhas.
"A nova realidade é dormir e acordar ao som das sirenes. Estou aprendendo algo novo todo dia. Fiz um curso de primeiros socorros, então consegui auxiliar no atendimento médico. Também estou envolvida na compra de medicamentos, além do tratamento de pacientes", frisa.
No quartel, ganhou o apelido de "glamourosa", o que para ela, não é um desmerecimento em razão do gênero, mas uma característica, já que costuma manter a vaidade. Apesar disso, destaca que "guerra não tem sexo".
Nas redes sociais que Margarita compartilha parte da rotina. São cerca de quase 20 horas fardada por dia, com poucas horas para descanso. Ela também não pode ficar sozinha enquanto está em serviço. Apenas durante o uso do banheiro, por três minutos, é que não tem companhia. "Trabalhamos em equipe", resume.
Aqui não somos mulheres. Aqui você é soldado, é médico. Guerra não tem sexo. (...) Maçãs do rosto e rugas na testa revelam idade e fadiga. Eu quase não sorrio. Essa é a minha maneira de lidar com o estresse. Carrego muitas coisas pesadas, mas não sinto. Meus músculos ficaram mais fortes. Tenho contusões por todo o corpo, mas, hoje, esse é meu menor problema. Margarita, em post no Instagram.
Em algumas fotos, a jovem jornalista aparece com um fuzil AK-47. Ela afirma que essa é a sua "nova realidade" e vê no trabalho no front de batalha em Kiev uma maneira de "não ter tempo para sentir medo".
Tenho medo como todo mundo. Estou apenas tentando trabalhar para que não haja tempo para sentir medo.
A vida pós-guerra
No conflito entre Rússia e Ucrânia, ainda não há perspectiva de um cessar-fogo entre os países. Mesmo assim, Margarita revela que não declinou de alguns sonhos que nutria antes da guerra: terminar o curso de espanhol, conhecer a América Latina e formar uma família.
O que mantém a esperança de dias melhores são algumas cenas que contrastam com a guerra. "De alguma forma, parece que algumas pessoas tentam restaurar suas vidas. Como quando vi uma família com uma criança, andando e rindo", lembra.
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