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Relacionamentos longos: como identificar quando o desejo começa a esfriar?

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Imagem: nd3000/Getty Images/iStockphoto

Colaboração para Universa

24/03/2022 04h00

O impacto dos anos de convivência na libido costuma ser um dos principais entraves na vida de casais juntos há muito tempo. E, para boa parte deles, a percepção de que é preciso reativar o desejo só acontece quando o relacionamento já está desgastado - às vezes, num ponto irreversível. Para evitar que isso aconteça, é importante prestar atenção em alguns sinais que podem indicar que o tesão está começando a esfriar.

Embora alguns possam parecer óbvios à primeira vista, mas nem sempre são identificados pelas pessoas imersas na situação. Bons exemplos de sinais mais sutis são a diminuição ou ausência de abraços, beijos, mãos dadas, sorrisos um para o outro, saudades quando viajam e de mensagens de carinho durante o dia. "Outros indícios são não ter assunto, fazer programas sozinhos na maioria das vezes, não sentir vontade de estar juntos e não perceber quando o outro está arrumado ou mudou o cabelo. As discussões e críticas são cada vez mais intensas e frequentes e ambos reclamam do outro para terceiros. A falta de conexão em todos os contextos interfere no desejo sexual e vice-versa", fala Triana Portal, terapeuta de casais há 25 anos.

Rotina e falta de diálogo: as maiores reclamações de casais

Um dos principais fatores envolvidos na falta de desejo, com certeza, é a rotina na qual o casal acaba caindo depois de um tempo. Isso é comum devido ao cansaço e pela sensação de segurança que se adquire com o relacionamento, o que faz com que as pessoas acabem deixando de lado essa parte da vida que, teoricamente já está "garantida" e "não precisa mais ser conquistada". "A falta de diálogo sobre os dois é outro fator muito comum", sustenta Raquel Fernandes Marques, psicóloga clínica da Clínica Acolhemente.

"Não adianta nada falar de problemas de casa, das crianças, da falta de dinheiro e de outros problemas do dia a dia. Se o casal não fala da relação, não faz planos juntos e não se interessa em ouvir um ao outro, não há um verdadeiro diálogo nessa relação. O casal que não conversa e não dedica mais tempo para a relação, com o passar dos anos, terá como sintoma a falta de desejo sexual", observa.

A chamada "evitação velada" passa a dominar a vida íntima do casal na forma de justificativas para não transar: dor de cabeça, cansaço, preocupação e uma série de desculpas que, inclusive, transpõem as barreiras do quarto e se estendem para outros momentos. As especialistas também chamam a atenção para o tempo de convivência de qualidade. Quando o casal passa cada vez menos tempo junto, fica claro que algo está acontecendo; "Quando gostamos de alguém, por mais que a relação já dure alguns anos, sempre queremos a companhia de quem amamos. Se o par, ou mesmo a pessoa, está sempre ocupada e tem cada vez menos tempo para a relação, a ligação sexual do casal pode sofrer interferência", fala Raquel.

Sinais de alerta

Segundo a psicóloga Marina Simas, sócia do Instituto do Casal, os relacionamentos de longo prazo tendem a cair em uma zona de conforto e, como consequência, isso afeta o desafio de conquistar, de encantar e seduzir a parceria tanto no campo afetivo como sexual.

"O casal tende a ficar mais distante fisicamente, deixam de olhar nos olhos um do outro e os beijos desaparecem do contexto, aparecendo de forma mais eventual e no rosto. Outro aspecto é que com o passar dos anos a relação duradoura estabelece segurança, estabilidade, sensação de posse e grande intimidade, o que atrapalha o desejo sexual que se alimenta de novidade, aventura, instabilidade e desafio da conquista", comenta.

É possível buscar reverter a situação desde que exista a disponibilidade interna de ambos os lados. "É importante convidar o prazer, o sensual, o erótico e a fantasia para fazerem parte da relação de longo prazo enquanto uma construção conjunta. Além disso, na conjugalidade é essencial manter a intimidade afetiva e sexual e o jogo da sedução intercalando com a individualidade de cada um. O sexo muda no decorrer das relações e a forma de estimular mutuamente um ao outro deve ser aprimorada para aumentar o desejo e o prazer", diz Marina.

O comportamento evitativo tende a escalar e com a distância o vínculo e o desejo vão se esvaindo. Assim, o quanto antes foram feitas intervenções, maior a probabalidade de sucesso. "A primeira coisa é reconhecer o problema, falar a respeito, ter energia e mobilizar-se para ações que podem ajudar a se reconectarem", sugere Triana.

Para mudar essa situação, primeiramente é preciso que os dois queiram e, a partir daí, ressignificar a relação. Cuidar também individualmente de si e, quem sabe, dessa forma, recuperar a relação a dois.

"Pequenos gestos podem gerar grandes mudanças e se o desejo ainda estiver ali, e, além de tudo, um desejo do casal de permanecerem juntos, é possível. A relação pode ser alimentada, cuidada e, assim, esse desejo se manifestar novamente", ressalta a psicóloga clínica Andréia Convento,

A especialista salienta que todo movimento no relacionamento precisa ser feito antes que o desgaste chegue ao ponto do casal só se dar conta da distância criada entre ambos quando não dá mais para recuperar a relação. "O relacionamento precisa ser cultivado, os parceiros precisam olhar um para o outro e prestar atenção a todos os sinais", argumenta.